sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Asas
Descansaram minhas asas
Numa salva
De plumas brancas
Duas chaves as enfeitavam
Num enlace dolente
Uma de prata escondida
Outra no ouro silente
Estendida
Trama densa as teciam
De força por vezes dura
De emoção que não segura
Os brilhos na água corrente
Pedras de fogo fulgiam
A candura do caminho
Em saudade percorrido
Omitiram-se pelo estio
No tempo da folha dormente
Sob os pingentes de frio
Na hora em que a flor se abre
As asas nos laços das chaves
Se elevam serenamente
Planando amor e sorrisos
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
Febrilidade
Desgrenhada, patética, desfigurada, os olhos inchados
pelas noites de vigília e de sonhos interrompidos pelo
imutável fantasma das horas lentas.
À noite, depois que o sol se punha, a caminhada tornava-se
mais lenta e o refúgio do sono arrastava seus passos
febris no tempo.
Olha-se ao espelho que num esgar assustado lhe devolve
a imagem e se apaga em silêncio.
Foge atravessando portas fechadas. Precisa de ar fresco,
renovado, para calar o sufoco dos dias febrígenos ausentes
na apatia do seu dormitar constante.
Com movimentos rápidos corre uma persiana. Atónita recua
instintivamente quando a negrura lhe entra pelo quarto
encerrado com um esbracejar indistinto displiscente de árvores
mudas ao vento.
Quanto tempo se passou? Não sabe!
Na sua febrilidade perdeu a noção da hora deslizante no norte
do sol com seu rodopiar constante e o pão de seu alimento
também se esvaía num fumo distante incongruente pelo espaço.
Tantas questões lhe punha o segundo sem resposta…
Corre as cortinas e aguarda que os braços luzentes da Aurora
enlacem a voz clara do silêncio nos traços da areia branca…
(pintura de: De Lempicka)
domingo, fevereiro 19, 2006
Palavras
São tão nuas
As palavras
Vindas
Do interior de nós
Redondas
Espiraladas
Numa redoma fechada
Expandem
Cristais fulgentes
Calados
Num silêncio que se sente
O espaço extasiado
Murmura
Procura
Desmente
Nuas são as palavras
Que a vida nas asas
Do vento
Enlaça
Ca-ri-nho-sa-men-te
terça-feira, fevereiro 14, 2006
A Prece
Senhora dos passos largos
Valei-me nesta aflição
Espalhai os vossos brilhos
Iluminai os caminhos
De nadas que mais não são
Que escolhos e desvios
Senhora do Bem qu’ amais
Vede a natureza que fora
O doce abrigo o alimento
De tanto ser que agora
Vagueia em passos perdidos
Espirais de pó de vento
Senhora dos dias claros
Ouvi a prece da hora
Pelos riscos pelos traços
Vosso manto espalhai
Em amor fraternidade
Na caminhante voz
De silêncio em liberdade
Com sorrisos enfeitai
A Vida de todos nós
Senhora
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
Passos d' Água
Cantam leves na distância
Os passos dum amor ausente
Nas profundezas da água
Entre limos godos algas
Que se quisera presente
Sobre ondas entre as vagas
Desenha traços d’estradas
Desafios de outra gente
Dores de sua constância
Se as sente as desmente
Querido és meu espelho
Que vagueia pelas águas
Todos os brilhos que traças
Em fogo abrem os fios
Do silêncio em que vagueio
Nos passos feito sorrisos
Subscrever:
Mensagens (Atom)