quinta-feira, agosto 30, 2007

Momentos


pintura de Arthur Rackham

Entre o mar e a relva onde me sento
habita um fluir em sussurros verdes
pela rama do parque que guarda e entende;
bifurcada, desliza uma estrada no vórtice do tempo
e, do sentido adverso, em razão suspensa

Quantas vezes pelo silêncio me chegam
nas pontas das folhas ao sopro do vento
amenas melodias
breves excertos de vidas
indizíveis e cálidos momentos

A todos enlaço na vereda dos fonemas
leve, tão leve que o avivar surpreende
o mistério da estrada em cores desperta
que a Natureza me estende
pelas raízes singelas
da infinitude da mente

Em voo suave, um doce sorriso plana
entre ti de mim ausentes
na musical perenidade da palavra


Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, agosto 21, 2007

Passagem


Pintura de Freydoon Rassouli


Avistara-se no poço profundo de janelas dúplices.
Uma, aberta pela brisa nocturna;
outra, pelo mar sereno em prata clareado

Encontrara-se e via
a fluência da inusitada e nobre palavra
nos trâmites da cidade camuflada
pela diligente armadura
em sol e sombra projectada
nos brilhos da folhagem feita água

Remexia, e abrandavam os luares sobre a margem
quando, pela hora do silêncio,
dançavam sorridentes pássaros

À luz do crepúsculo
volatilizava-se em correntes freáticas
no encaixe perfeito do nicho encontrado


Poema in "Transparência de Ser"

sábado, agosto 11, 2007

30 de Julho...


Pintura de Danielle Richard

Para ti, Amiga, neste dia especial, com os votos
sinceros de um caminho pleno de Luz e Alegria:


Um jardim, uma rosa, um lago.
És um oásis na cidade fremente
Que passa do outro lado
Entre muros, asfaltos, mas presente.

Jardim de aves levíssimas
Musicado de verde.
És um relógio, suspenso.

Rosa irisada pelo sol doirado
Solitária na cadência do dia.
És a palavra nua, infinda.

Lago azul de dançantes seres
Vogando em pontes, laços, abrigos.
És água de serenos sorrisos.

Que somente
Sob a fragilidade do tempo
Tudo vês e tudo sentes.

És a sensibilidade isolada
Por entre a cidade correndo.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Dois Mundos
















Zelamos, com o crescer dos anos,
esse mundo dos segredos,
e da osmose não sabemos
se adormecemos o sono
se o sonho acordamos.

À luz do crepúsculo,
em matizes de fogo e chama,
emergem dedos em melodia aquática -
estranhas danças, leves solfejos,
pinturas silentes, abstractas -
num aroma adocicado sobre a casa.

Observo, admiro e comparo
da chuva, a pluralidade
das formas caindo no campo -
sem hipótese nem escolha -
sentindo da terra a proximidade

Sob a acalmia profunda que se abre,
da tela desvanece-se o chilreio das aves,
a estridulação dos insectos,
do vento o sopro nas gruas da árvore
e, perfeitos, os dois mundos cantam
o centro da água.

Deles não se prevêem espaços.


(pintura de J R Costa)
(em pesquisa Google)


Poema in "Transparência de Ser"