quarta-feira, março 30, 2005

A Jura

Jura-se pela cegueira
Sendo essa a primeira
Que sai de almas caladas

Jura-se pelos filhos a saúde
Pelo desamor que a miúde
A cada momento passa

Jura-se pelo raio ardente
Caindo na cabeça demente
De quem a jura abraça

Jura-se no altar perante Deus
Eterno amor, olhos nos céus
Respeito e fidelidade

Jura-se em surdina até
Em rezas que a mofina vê
Quando se jura mais alto

Jura-se não dê um passo mais
E outros dizeres que tais
São juras que eu não canto

Jura-se a torto e a direito
Por orgulho por despeito
De descobertas passadas

Jura-se em actos de amor
Ou em confrontos de dor
Tempestade ou calmaria

Jura-se tanto, mas tanto
Que a jura perdeu encanto
E tornou-se romaria

domingo, março 27, 2005

Momentos

Jamais estava sozinha nos sítios onde passava
ou no silêncio da casa. Sabia-se acompanhada por
sentimentos alegres, decisões que tomava..
A surpresa raramente à porta batia, pois previa
o esvoaçar de asas que se aproximavam: o movimento
impaciente do colibri; o piar tímido do pardal
depenicando a relva do quintal; o rugido do leão
chegando com olhar de falcão tentando apanhar sua
presa incauta; a ânsia da pequena lebre que corria
pelos bosques encantados da vida; as borboletas, as
flores que chegavam vestidas das cores do arco-íris
ou da negritude da noite.
Um sorriso os esperava, uma ruga preocupada,
transmutada em carinho.
Eram momentos plenos sentidos e as folhas mortas ou
secas que caíam ou tropeçavam, transformavam-se em
flores de verde garrido, em aves planando na doçura
da brisa.


A Natureza vive
Revive
Transmuta
Se muda
Na doçura
Candura
Do abraço
Num laço
Sereno
Ameno
Dum sorriso
Amigo

quinta-feira, março 24, 2005

Viração

Voam horas, soa o tempo
O mar s’agita de flores
Brancas, diáfanas
O raio de fogo aclareia
O crepúsculo das dores
Na noite que tu enlaças

Gira a lua, o sol s’esconde
Orgulhoso do seu manto
Tecido de rubras pétalas
Que caem, vão desflorando
Caminhos onde tu passas

As Sílfides correm enquanto
As Musas buscam seu canto

quarta-feira, março 23, 2005

Cidade do Porto (Origens)

Esta bela cidade, cujas origens remontam a uma antiguidade
de 4 ou 5 mil anos, debruça-se sobre o Rio Douro e é beijada
pelo Atlântico.

Nasceu nos morros da proximidade da Sé.
No século IV, durante a ocupação romana e devido à Pax Romana,
foi construída uma estrada que ligava Lisboa a Braga.
No seu trajecto, esta via passava pelo curso terminal do Rio
Douro e, para norte dele, o primeiro troço vial correria pelo
vale do Rio da Vila (ribeiro hoje encanado) desde cerca da Sé,
até ao seu desaguadouro na zona da Ribeira, tornando-se este
o local priviligiado para a fixação romana.

Aparece, então, a palavra Cale (estação), comum a ambas as margens,
designando os pontos, um a norte outro a sul, do Rio Douro, onde
se faziam o embarque e desembarque de viajantes e mercadorias
em trânsito.

Portus (portorium) era um antigo imposto de travessia, cobrado
na Cale.
Daí o aparecimento de Portucale que viria a ser só a povoação da
margem direita do Douro, núcleo da futura cidade do Porto.

Uma das mais antigas cidades do País, berço do Infante D. Henrique
e de muitas ilustres personalidades, desempenhou sempre um papel
importante ao longo da nossa História.

segunda-feira, março 21, 2005

Sem Meta...

Se vejo o que me dizem
não ouço o que me mostram
Se apalpo o que me falam
eu calo o que me sentem

Se ando estou parada
não consigo evitar
Se penso fico a nadar
só na primeira palavra

Se emudeço eu não sinto
Se sonho não vejo nada
São sonhos de encantada?!
Verdade? Será que minto?

Uma coisa é bem certa
em letras eu me desfaço
sorrisos eu dou, abraço
serenidades sem meta
carinhos afago...

quinta-feira, março 17, 2005

Entre os Anéis da Lua

Passos, compassos, espaços
Areais e matagais
Instâncias, constâncias, distâncias
Entre os anéis da Lua

Rosas formosas, ditosas
Abrindo, florindo, sorrindo
Braços seguem abraços
Flores em verdes prados

Ternura, doçura, candura
Avistada, ansiada, alcançada
Luz de luz que seduz
Entre as plumas dos mares

Espanto, canto, decanto
Águas sem mágoas
Corro, percorro, discorro
Serenidades…

terça-feira, março 15, 2005

Da Luz Que Se Esvazia...

Da luz que se esvazia coisas vultos
um espaço opaco todavia fica
em que a memória em vão procura abrir-se
a imagens de lembranças: rostos, sexos, pernas,
e o delicado recurvar dos ombros
ou de perfis. Não se recorda nunca,
ou se não sonha do que foi antigo
e ardente em nosso corpo, se não há
outros rostos depois e os mesmos gestos.
Não de passado se alimenta o vivo
quadro acendido em sonhos e lembranças,
mas o passado se renova em cores
com de que as formas repetidas sejam.
E quando esse halo opaco de vazio
a pouco e pouco nos rodeia a vida,
nem o lembrar nos resta, e os sonhos não se entregam:
crepuscular a luz obscurece tudo.

(Poema de Jorge de Sena)

segunda-feira, março 14, 2005

Seguindo o Mote

Quando me sento
para um sonho teu colher
serenidade bebo
de memórias, de amares
ternas brisas dos ares
doces letras quedo a ler.

Das profundezas do mar
dou-te as flores minhas
p'ra teu canto embalar
poemas
ou temas
luz que tens que tinhas.

Seguindo o mote, meu amigo,
um poema simples deslizou
em brandas letras abertas
e certas
Em candura voando
o oceano cruzando
te deixo
um beijo
a serenidade do meu sorriso
E assim, me vou.

sábado, março 12, 2005

Tempos

Ontem me soube
Hoje me sei
Amanhã serei
Talvez
Folhas de nada

Ontem me brilhei
Hoje me brilho
Amanhã brilharei
Sabe quem?
Pedra rocha apagada

Ontem me li
Hoje me leio
Amanhã lerei
Ou não
Asas de vento segadas

Ontem me ouvi
Hoje me ouço
Amanhã ouvirei
De vez
Silentes horas paradas

Agora sigo
Meu sereno sorriso

sexta-feira, março 11, 2005

Flor de Cambraia

Nasceu uma flor de cambraia nas belas terras do Norte e de fina
seda foi vestida, pela vida, nos idos tempos d’outrora.
Aprendeu canto, piano, o bordado e o francês daquela época; flor
que foi desabrochando entre as belas a mais formosa.
Encontrou seu grande amor entre pomares, milheirais, teatros,
récitas e cantos para fins beneficentes, gente carente que ajudava
e confortava com sua presença constante.
Percursos de cartas, notinhas escritas no papel que havia à mão,
ternos olhares, encontros furtivos nos muros da quintinha, entre
a alegria das desfolhadas procurando o milho-rei e cantando ao
desafio.
Amor que a família da bela flor não aprovava.
Desafiando espessas tempestades, mares revoltos, pontes suspensas
em escolhos de distâncias, tudo venceu.
A pequena flor de cambraia, tornada na seda mais pura, alimentando
o brilho intenso profundo dos anéis da lua, das folhas do sol, foste
tu, assim viveste em candura, minha Mãe.

quarta-feira, março 09, 2005

O Silêncio das Horas

É um silêncio que invade
Em silêncio intenso profundo
Mais denso que mundos do mundo
Procurando com ansiedade
Um grito de vento liberdade
De medos plantados fundo

São horas de horas eternas
Correndo lentas e apenas
Em breves minutos passam
Sufocando os gritos do peito
Pensamentos sentires desejo
Dores em morte abraçam

É um rio de pérolas fluente
É um mar negro de gente
De sombras véus e mantos
Voando na hora silente
Abandono cru de encantos
Tempo de silêncios brancos

É a voz que ao longe murmura
Silêncios de horas em amargura
Desilusões que o não são
São horas paradas de ternura
Abrigando a chave na mão
Brilhante de amor sedução

O mel do amor sentindo
O silêncio das horas abrindo

segunda-feira, março 07, 2005

Espelhando...

Páginas e páginas escrevi
Cadernos ou folhas dispersas
Frases, letras, voantes, certas
Em nós a Beleza antevi.

Algumas curtas ou difusas
Palavras que usas, não usas
Em rectas
Concretas
Outras seguem transversais
Desdobrando luz d’espirais

Momentos doces em nós
Sento, me quedo sem voz

Leio, releio, modifico
Nas entrelinhas me fico
Procurando
E achando
Frases soltas nos ares
Colorindo divagares

São sonhos, são ilusões de areia
Nuvens d’orvalho, canto de sereia
Palavras que digo, disse, não disse
Todavia em mim sempre sentiste

A candura de acalmias
A minha serenidade
Com sofreguidão bebias
Ó crua tempestade

Olhando no tempo a palavra, a frase
Um terno sorriso me espelha a face

quarta-feira, março 02, 2005

Nesta Aurora de Março

Despertou uma manhã cinzenta e gélida neste início de Março.
Olho através duma tímida frincha da janela que abro.
Pensamentos dolentes me atravessam como raios que afasto ou tento.
Não vejo o mar que se escondeu por entre as árvores, do outro lado,
no encanto do parque da cidade.
Por esta frincha que abri, entram árvores semi-nuas, despontando
flores brancas, rubras; entram colorações de verdes intensos perenes,
o branco de paredes distantes, o cinza denso do céu, descolorante do
azul nesta aurora de Março.
Todavia, com carinho sorrio recebendo os bons-dias dos chilreantes
passarinhos, das rolas bravas, rouxinóis em cantante melodia,
iluminando minha mente num dia que cinzento parecia.

Quando um dia eu fenecer
deitada em pétalas de rosas
não tragam flores formosas
Tragam a beleza dum sorriso
raios de sol, um doce abrigo
d’ amores, o mais sentido
Tragam a luz, a claridade
dos azuis; a côr, serenidade
da música, para me oferecer