segunda-feira, março 19, 2007

Entre dois tempos
















I

Hoje...
Especialmente hoje...
que avistei peixes negros de bocas cosidas por dentro
pés de cabelo, sem sustento
lançando fogos de artifício
de brilhos desprovidos
e trajando enganos

Hoje...
Especialmente hoje...
o suave perfume da mensagem
reforçou os frágeis troncos da jangada
que no Amor ruma alada
pela consistência da viagem.

(escrito em 16 do corrente)


II

Transmutaram-se os peixes em pássaros
Soltando faíscas obscuras das inexistentes asas
E marchavam lentos enganos
Quais soldados de chumbo caramelizados
Derretendo viscosidades sobre o telhado
Que do jogo faziam parte.

Por vezes voam distraídas as projecções dos dedos
Na imprevisível chegada de pássaros negros.

Circunscrito o ontem no percurso
Bordo árvores de papel imaculado
Em orientais pastos recortados
Onde despontam as flores que uso
E o doce sorriso de um abraço
No branco-azul sereno de um canto.


(imagem de Young-jin Han)

domingo, março 11, 2007

Tempos de Matéria
























Fina e ténue linha separa o riso do choro.
Em ponto pequeno é um sinal de fogo e
de revoltas águas no areal inconsistente das casas.

O frenesim da matéria descansou leve
no inabalável passo dos anos.

Tantos anos…
respirados sob lentes fumadas
e de opacidade surda ante
uns quantos estremecidos brados
de um presente passado
pela floresta dizimada
pela alva montanha liquefeita
pelo mar rasgado em actos metálicos
e na dor sem sombra das crianças
que a fome e a guerra enlaçam
nas horas loucas perdidas no Tempo

Fina e ténue linha separa o riso do choro
quando sob o areal inconsistente das casas
o Homem demente não age, ainda pensa …


(imagem de Lucemar de Souza)

terça-feira, março 06, 2007

Véus de redes
















E caminhamos
Sobre reluzentes espaços
Onde nas nuvens espaçamos os sentidos
De deliberada e urgente ausência

E tornamo-nos aves de vento sobre
O sentimento de palavras
Outrora de planos leves quando
Em inocuidade
Seguimos os fáceis traços não vistos
E na incongruência tecidos
Lenta-mente sobre sorrisos doces
Como aquela criança inocente
Brincando na infinitude da mente

Do tudo algo se sabe, se sente
Por vezes numa única palavra
De um passo na brisa suave
Que em sussurros nos canta
Barcos, árvores e fogo
Sob o degelo do entendimento

Para onde caminham as águas?

Assim meu coração clama
Em brados de mar e vento
Para que serene eternamente
E do amor se teçam véus de redes
Na plenitude refulgentes


(imagem de Rarindra Prakarsa)