quarta-feira, março 21, 2012

Verbo


























Chove! Apenas chove!
Assim se ensina, assim se dita
e a interposta pessoa não se move
subjugada pelo rumo da sina

Naquele dia choveu!
Num além longínquo ou perto
e, sob a intransigência do verbo,
cada sonho esvaeceu

Mas eis senão quando
se assume o diletante Poeta
urdindo caminhos sem meta
na deflexão defectiva…

E me chove tanto, tanto,
que me anoiteço no canto.
Mas se me prouvesse a vida
amanheceria, estou certa,
nas mãos leves do Poeta
e sorriria. Então sorriria.


(pintura de Julio Romero de Torres)

Poema in "Transparência de Ser"

Flor de Letras
















Docemente, alinho palavras
na entretecida canção de sal e água.

Por vezes, ao seu redor
esvoaçam picos, formas de pássaros,
coloridos alinhavos sob um fogo encantado

Olho-os na voz do silêncio desfolhado.

Se por vezes sinto em acalmia a brasa,
outras, estremeço pelo vazio
gritante que clama a inconsistência,
a lenta perdição da mente
pelo deserto de inconstância desperto
que da chama nada entende
nem da verdade

Quisera ser aroma em flor de letras e,
gota a gota, elaborar a palavra em falta
quando cada verso de dor e treva
transforma em dúctil manto
essa voz de pranto e mágoa

Às vezes, vibrante, penso
silenciar o remoinho do espaço
e sorrindo docemente espalho
no fogo, o sal, a água
da eterna estrada em cascata


(fotografia de Luiz Edmundo Alves)

Poema em "Transparência de Ser"

sábado, março 17, 2012

Borboletas






















Solta dos sentidos
a palavra
sob os dispersos sons emitidos

Pausa-te no verbo
reinventa-te
cresce-te no verde da estória

e

na incompletude da espera
pela rama emoldurada
desenha
coloridas borboletas
na comitente hora
em reticências