quarta-feira, janeiro 11, 2012

Deambulações primeiras


(imagem de Edward Robert Hughes)


Sobrepostas as linhas primeiras dos traços
no arrojo inocente dos planos rectos
por onde caminhávamos sozinhos -
eu aqui, tu desse lado –
prisioneiros do vale dos sonhos
em palavras projectados
no centro atmosférico da sala

Dançávamos-lhes as sombras,
escutando pela meta noite os passos,
como se gente fosse
ou entes em deambulações abstractas
quando mais não eram
do tom, a leve mudança,
a imperceptível molécula
que se abre e se dispersa
no rebordo de uma folha gotejante

Amar assim, sobre o verde atapetado,
debruçando-nos em pontos lisos, entre planos,
e com o silêncio na linguagem
partir… acompanhados,
é um tudo sentir, num quase nada


(in "Transparência de Ser")

O fio do Tempo














pintura de Francisco Laranjo
Deslizamos nas palavras
do tudo, do quase nada
que transitam num estado catatónico
sinóptico, lerdo, morfológico
sob uma cândida dolência
no fio das horas sem tempo

E tecemos juntos a igualdade
esse sentir convergente
de quem plana nas mesmas asas
mesmo quando inconsciente

Claros e plenos nos vemos
da distância percorrida
da vida que vidas cria em letras
do adormecer na praia do medo
da aventura em defesa
e da Beleza... a sua essência

Assim intuímos as palavras
nos recônditos ínfimos de um solo arado
de tanto sentir semeado
sob sorrisos serenos
E nem nos desligamos
na água, no sol, no vento
a Natureza de nós é parte
calorosa e intensa


(in "Transparência de Ser")