sexta-feira, outubro 29, 2004

A Metáfora do Dia

Metáfora do dia:

Portugal é um pacote de arroz com bagos desiguais.

Um quinto da população come baguinhos, a classe
média come bagos e depois há uma pequena minoria
que são «Os amigos do Bagão».

(Texto enviado por um amigo de Lisboa)

terça-feira, outubro 26, 2004

Amor - Camões vs Drummond

Luís de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É o não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


"As sem-razões do Amor"
Carlos Drummond de Andrade


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado ao vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

domingo, outubro 24, 2004

CORES

A ansiedade veste de bege
A paixão vem de carmim
O desejo de escarlate
Atracção lê-se em marfim
A desilusão é cinzenta
De tons negros a angústia
O desespero amarelo
Castanha a melancolia
No verde brilha a esperança
O roxo mostra tristeza
O bordeaux certa inconstância
Há vivacidade no laranja
O amor azul só usa
A paz em branco caminha
O sorriso é côr-de-rosa
D' ouro e prata a alegria

Púrpura, turqueza, cobalto...
Miscelâneas de sentires
Musicalidades percorrem
Na sinfonia da vida
Vivida
A viver
Na pauta
Inacabada



quarta-feira, outubro 20, 2004

O Pedido

Num dia de tempestade, o Sol, timidamente, disse às Núvens: "Por favor, deixem-me espreitar! Gosto tanto de ver os verdejantes campos, as flores coloridas, o mar!... Levar um pouco de luz àquelas almas que deambulam ao sabor do impiedoso vento que tudo arrasta à sua frente, sem dó nem piedade!..."

E o Vento afastou as núvens para que o Sol pudesse espreitar e aquecer com os seus raios as deliciosas criaturas que corriam atrás do seu chapéu, cá por baixo.

O Sol esboçou um sorriso e, com ele, a claridade regressou plena às almas que deambulavam sem norte.

O Mar amainou a sua revolta contra o mundo cruel que tão mal o tratava.
O Vento soprou em brisa ténue e refrescante.
As Núvens coloriram o seu cinza carregado num branco brilhante pelos raios de sol que iluminaram os cabelos molhados que esvoaçavam ao vento.

As ruas espelhadas, em lencóis macios e sedosos se tornaram, convidando a mergulhos por entre os pequenos lagos instalados, como que a desafiar os transeuntes mais incautos.

As pessoas, encolhidas nas suas roupagens grossas e desconfortáveis, saltitavam por entre os lagos, como se tentassem escapar aos pingos de chuva que os iam alimentando, provocados pelo mau tempo.

Mas seguiam, de peito firme, desafiando as Núvens, tendo, por breves momentos, o Sol como seu aliado e o Vento como bom amigo que lhes iam lembrando que, afinal, nem mesmo o mau tempo as pode amedrontar, desde que possam, sempre, olhar para ele com um sorriso.

(Texto feito em parceria com o meu Amigo António)

O Preço da Liberdade

> O Preço da Liberdade
> Por MIGUEL SOUSA TAVARES
> Sexta-feira, 08 de Outubro de 2004
>
> Há várias maneiras de classificar as pessoas. Um amigo meu costuma
> classificá-las entre as que são importantes e as que o não são - sendo
> que importante, aqui, significa apenas, e é muito, aquilo que merece a
> nossa importância, a nossa atenção, e o que o não merece: parece-me,
> todavia, um critério curto. Uma amiga minha gosta de as classificar,
> simplesmente, entre boas e más pessoas
> - bons e maus caracteres: parece-me um critério que faz sentido, mas
> que abrange apenas o domínio das relações pessoais. Mas, se
> pretendemos classificar as pessoas pelo critério da cidadania, a
> classificação que sempre tive como fundamental é a que distingue os
> homens livres dos capachos.
>
> O grande mal português é que temos, verdadeiramente, poucos homens
> livres. Pouca gente, poucos cidadãos, que estejam dispostos a viver a
> sua vida, a construir o seu caminho, sem terem de prestar vassalagem a
> várias formas de poder. Os arquitectos não são livres, porque dependem
> dos interesses económicos do dono da obra. Os médicos não são livres,
> porque, regra geral, querem ser simultaneamente profissionais liberais
> e assalariados do Estado. Os advogados de sucesso não são livres,
> porque dependem da consultadoria dos governos e do tráfico de
> influências entre os negócios, o poder e o patrocínio. Os empresários
> não são livres, porque dependem dos subsídios, das isenções fiscais e
> da atenção do governo nos concursos públicos. Os intelectuais não são
> livres, porque estão quase sempre dependentes de empregos, bolsas ou
> subsídios públicos, os quais acabam inevitavelmente por pagar com
> simples fretes de propaganda partidária. Os jornalistas, quase todos,
> não são livres, porque dependem do pequeno chefe, o qual reporta ao
> editor principal, o qual deve satisfações ao proprietário, o qual tem
> de prestar atenção aos humores e sensibilidades do poder da hora.
>
> Portugal não é, nunca foi, um país de homens livres, de homens
> verdadeiramente amantes da liberdade, para quem a liberdade seja tão
> importante como poder respirar. A grande e púdica mentira em que temos
> vivido nos últimos trinta anos é a de ter acreditado, ou fingido
> acreditar, que no dia 26 de Abril de 1974 éramos todos pela liberdade.
> Desgraçadamente, nesse longínquo dia, não era "a poesia que estava na
> rua", mas sim a hipocrisia. A liberdade não se encontra ao virar da
> esquina - conquista-se, merece-se e alcança-se, por si próprio e
> individualmente, com riscos e com perdas, e não a coberto da protecção
> fácil das multidões ou das leis.
>
> Não há lei que possa declarar um homem livre, se ele próprio não está
> disposto a bater-se pela liberdade que lhe deram e a pagar o preço que
> ela exige - sempre.
>
> Pagamos, e temos pago, bem caro o preço inverso: o preço de não sermos
> e nunca havermos sido uma nação de cidadãos amantes da liberdade - não
> a de cada um, individualmente, mas a de todos. O preço de termos
> empresários que vivem do favor do Estado, sindicatos que vivem do
> abrigo partidário, intelectuais que vivem das migalhas do orçamento da
> cultura. O preço de sermos dependentes, tementes e subservientes. As
> nações de homens livres prosperam; as nações de gente subserviente
> definham: cada vez estamos mais próximos do México ou da Madeira e
> cada vez mais distantes da Espanha ou da Inglaterra. Temos, exacta e
> friamente, aquilo que merecemos.
>
> Por ora, não vou perder-me nos sórdidos detalhes desta semana
> portuguesa, em que de repente foi como se toda a podridão escondida
> tivesse vindo à superfície. Vi vermes rastejando em directo
> televisivo, vi o medo, a subserviência, o preço, estampado na cara de
> gente porventura boa, ouvi razões e argumentos de estarrecer, conheci
> factos e circunstâncias que nem nos meus mais negros momentos de
> descrença julguei serem possíveis nesta desilusão a que chamamos
> Portugal. Por ora, contenho-me, porque o nojo e a revolta são ainda
> tão presentes que ofuscam a lucidez e a serenidade que certas coisas
> exigem absolutamente. Mas quem me lê sabe que apenas preciso de tempo
> e de recuo - como quem recua perante um quadro para melhor o ver.
>
> Aliás, impõe-se a distância necessária para tentar entender que país é
> este, que cidadãos são estes e o que verdadeiramente os preocupa: a
> vaca a ser mungida na Quinta das Celebridades ou o Governo a ser
> mungido na Quinta dos Influentes?
>
> 2. Há dois anos atrás, ingenuamente, aceitei fazer parte de uma
> comissão nomeada pelo anterior Governo e cuja missão principal era
> definir como deveria funcionar a televisão pública, com que meios e
> financiamentos e a que regras deveria obedecer. Como eu, várias outras
> pessoas, que nada quiseram nem receberam em troca, sacrificaram muito
> dos seus tempos úteis e livres, para, dentro do prazo fixado, dotar o
> Governo do resultado de uma reflexão, em forma de propostas concretas,
> que reunia o maior consenso possível entre gente de diversas
> proveniências e ideias. Recebido o trabalho e fingindo-se escudado nas
> conclusões da sua "comissão independente", o ministro Morais Sarmento
> meteu as conclusões ao bolso e, até hoje, nem um obrigado nos disse.
>
> Entre as conclusões que ele fez desaparecer instantaneamente na
> atmosfera, estava uma que recomendava que as regras editoriais e
> deontológicas estabelecidas para o funcionamento da televisão pública
> tivessem, obviamente, extensão a todo o território nacional, incluindo
> Açores e Madeira.
> Porque, tanto quanto era do nosso conhecimento, nas regiões autónomas
> vigora a mesma Constituição, o mesmo regime democrático e o mesmo
> Estado.
>
> Porém, a solução adoptada para a Madeira foi exactamente a oposta e
> que veio ao encontro das antigas e persistentes exigências do soba
> local: a RTP-Madeira foi dada de bandeja ao dr. Jardim, aí vigorando,
> como no resto da vida pública local, uma concepção de liberdade de
> informação que se confunde com aquela em que o dr. Jardim aprendeu a
> fazer jornalismo, no tempo do partido único, da censura e da ditadura.
> E a coisa seguiu assim, sem escândalo de maior. Esta semana, porém, a
> sem-vergonha do regime madeirense chegou ao extremo de o PSD-Madeira
> (um eufemismo do dr. Jardim) protestar oficialmente pelo facto de a
> RTP nacional ter enviado equipas de reportagem à Madeira para cobrirem
> (para o continente, exclusivamente) as eleições locais - o que,
> segundo eles, constitui um "insulto à alta capacidade dos
> profissionais da RTP-Madeira". E mais, indignaram-se eles com o facto
> de os jornalistas idos de Lisboa "se terem instalado num hotel", a
> partir do qual "transmitem para Lisboa aquilo que em segredo montam,
> com máquinas que trouxeram e aí colocaram". Por mais que puxe pela
> memória, só consigo lembrar-me de coisa semelhante comigo ocorrida na
> antiga Roménia de Ceausescu. O PSD-Madeira é hoje o único regime em
> toda a Europa que considera um insulto e uma ameaça a presença de
> jornalistas "estrangeiros" a reportarem para fora como funciona o seu
> regime.
>
> Será isto, pergunto, "o regular funcionamento das instituições
> democráticas", tão caro ao Presidente da República? Ou a excepção
> democrática madeirense já está definitivamente assumida como coisa
> banal e inevitável?

Nota: Artigo que me foi enviado por mail por In_Loko em 19 do corrente

sexta-feira, outubro 15, 2004

Alerta (importante ler)

Pensar Enlouquece. Pense Nisso.

Blog (mais ou menos) pessoal de Alexandre Inagaki. Baseado em fatos surreais. Aprecie sem moderação. No ar desde agosto de 2002. Servimos bem para servir sempre. Nenhum animal foi maltratado durante a produção dos posts deste blog. Sorria, você não está sendo filmado. Ao persistirem os sintomas, consulte o médico.
« É pra rir ou pra chorar? |Main| A votação dos coadjuvantes »

setembro 30, 2004
Aberta a temporada de caça aos blogs
Já escrevi, em ocasiões passadas, sobre as ameaças de processo judicial feitas a blogueiros como Alessandra Félix, Edney Souza e Cristiano Dias. Esses imbróglios foram os primeiros indícios de que a visibilidade crescente dos blogs e a liberdade de expressão exercida por quem os escreve começavam a incomodar.

Pois bem, agora é oficial: surgiu o primeiro caso de um blog brasileiro retirado do ar por conta de um processo judicial. O caso, inédito no país, limou da Web o blog coletivo Imprensa Marrom (disponível para visitação apenas no cache do Google). O aspecto mais surreal desse imbróglio é que a ação foi motivada por um... comentário. O autor do processo (dono de uma empresa de recolocação profissional) sentiu-se ofendido por um comentário deixado no blog, entrou com uma liminar na justiça e o Imprensa Marrom saiu do ar.

O precedente é perigossímo. Em um país que teoricamente defende a liberdade de expressão, ver um site fora do ar por causa de um comentário que sequer foi redigido por seus autores é algo de kafkiano. Fernando Gouveia, que escreve na Internet com o pseudônimo Gravataí Merengue e é o responsável pelo registro do domínio imprensamarrom.com.br, não esconde a angústia com o caso e alerta, sem esconder sua ironia: "muito cuidado com os comments que vão ao ar. Apaguem tudo que pareça minimamente ofensivo, pois alguém pode optar por, em vez de pedir a retirada do comentário, simplesmente processar o blog".

O aspecto mais aterrador de todo esse caso é constatar que mergulhamos, oficialmente, no território das incertezas. A partir desse precedente, sou obrigado a fazer alguns questionamentos sobre a natureza de meu blog. Até que ponto posso emitir as minhas opiniões sem que algum melindrado ameace tirá-lo do ar por algum critério subjetivo? Chegará o tempo em que necessitaremos de consultoria jurídica prévia para a publicação de um post? Vale a pena permitir a publicação de comentários, ou será mais prudente limitar a interação do meu blog? Devo me limitar a escrever sobre o cardápio do meu café da manhã e as cólicas do meu cachorrinho?

Com a palavra, Fernando Gouveia:

"Esta é a PRIMEIRA AÇÃO JUDICIAL promovida contra um blog por causa de comentário. Vamos criar jurisprudência. Essa causa, desculpe o pieguismo, é 'de todos nós'. Não podemos deixar que 'o outro' ganhe essa ação, porque aí vai ser uma festa contra todos nós. Qualquer assuntinho mais polêmico pode ser alvo de uma medida assim, e os blogs definitivamente se condenam a ser um diarinho bundamole que versa sobre o umbigo do dono (e cuidado para que o umbigo - ou uma aliança do mesmo com o resto do abdômen - não processe o autor)".

Escrito por Alexandre Inagaki em setembro 30, 2004 08:40 PM

AMIGOS: Este artigo foi retirado dum link do //jornaldoblogueiro.blogger.com.br
de 12 de Outubro do corrente ano
intilulado "A volta do blog Imprensa Marrom"
Não deixem de lá ir e ler.
A todos interessa.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Ela

Saiu! Seu passo certo, programado,
sem pressa na aparência.
De olhar distante, vendo sem nada ver
os pequenos grandes nadas que a rodeiam
Segue trajectos calculados, meditados
minutos antes delineados

De cadência suave, altiva de nada,
cabelos ao vento, tez natural,
na sua simplicidade muito própria.
Ninguém encontra, ninguém vê.

Traída pelo olhar sereno, expressivo
de curiosidades, de procuras,
as gentes olham, seguem, se reviram
quando ela passa distraída

Os passarinhos, os melros, as rolas bravas
com seus cantares e chilreios
esvoaçam perto dizendo "Bom dia"
E ela, ao vê-los, sorri
pensando "Natureza maravilhosa!"

Sem nada procurar nem esperar
da vida, certa da rota a seguir,
caminha como se em sonhos navegasse

Interioridades musicais, coloridas
de marulhentos mares, brisas
e luares estrelados, pacificantes,
perseguem seus gestos e postura.
Que esperar da vida se a vida a espera?!

E lá vai ela, que tudo e nada vê,
cadenciada pelo seu mundo.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Deambulações

Ah! Como gostaria de ver a Luz!
Sentidos trementes, comovidos
Sensibilizados por palavras belas
Em água, em mar me tornei

Deslizei, percorri caminhos, voei
Inconsciente, de mim saí
Involuntária, a Voz segui
Que ao longe aqui morava...

Entre regressos e partidas
O tempo foi passando, não notei
Em sonambulismos pela casa andei
Numa amálgama de pensares difusos
Procurando a Luz que não via
Mas que estava lá, sim, eu sentia

A mente voltou forte, analítica
Ordenando a miscelânea de sentires
E entre revirares e leituras
Entre meditações e preces
No rodeante silêncio calmo
Adormeci em paz, sorrindo...

domingo, outubro 10, 2004

A Menina dos Caracóis

Correndo como louca, lá vai a menina dos caracóis, descendo a calçada.

Cabelos rebeldes, saltitantes, vestido de chita curto, colorido, esvoaçando na cadência do movimento apressado.
Descalça, chinelas na mão, saco noutra, de pés calejados por um hábito de vida, imunes aos escolhos da viela, ela não corre... voa!
De cara gaiata, olhos vivos, brilhantes, que tudo e mais querem ver.

Passa, entre as gentes que com ela se cruzam, gentes de andar pesado, custoso, cansado, de ar sisudo pelo peso da existência árdua que sempre conheceram, qual turvelinho, sem as tocar, sequer roçar.

Alguém, numa esplanada improvisada de duas mesas à porta dum tasco, a chama, pergunta porque corre, mas ela não ouve... Ela, que tudo escuta, que nada lhe escapa, na sua sensibilidade de criança ainda.

Caracóis rebeldes, faces rosadas, em desalinho, de olhos luzindo como dois faróis, de sorriso aberto de felicidade, irrompe casa dentro, ofegante da correria:
"Mãe! Olha o que a senhora da casa grande me deu!"
E abre o saco.
Dele sai um fato de banho, já usado, e uma velha boneca de trapos que abraça carinhosamente.
"Mãe! Posso ir até ao rio? Posso?... Posso?..."

sábado, outubro 09, 2004

Caminhos

Percorro caminhos distantes onde a esperança reside.
Longe...Lá! Tão longe...

Deixo-me envolver pelos sons de Grieg e do seu Peer Gynt, e danço em pontas, envolta em tules, luzes brancas, cores multifacetadas... e voo qual floco de neve levado pelo vento frio do norte.

Isolada, no meu canto, na sonoridade que me trespassa corpo e alma, em gradações sonoras, metálicas, de trompetes e pratos que gritam "Acorda!"

A chuva cai. Densa, pesada, em transparências invisíveis.
Fico olhando o vazio numa busca desesperada e inconstante, de quê?
Do nada! Porque nada sempre é algo. O que quizermos que seja, será!

Por momentos vagueei, percorri caminhos de ti, trilhos da tua vida. Abracei ilusões, desilusões, expectativas, cansaços, ambições, desejos.
Assim sou. Mas já não chove, o vento amainou, só o frio se mantem na noite.
Amanhã será novo dia.
A Luz trará um novo sorriso.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Musicalidades...???

Sussurros me posuem pela noite dentro.
Deslizantes no espaço semi-obscurecido que me rodeia, e que busco entontecida, ignorando o espaço e o tempo.

O desconhecido, nunca sentido, algures olvidado nos recônditos duma memória nunca intensamente clarividente, (des)conhecidos jamais pronunciados, quem sabe se em densas ilusões pensados...

A noite!... Irreverente, despudurada, perdida no éter de fluidos sonhados em musicalidades Wagnerianas... entre a Tocata e Fuga em Ré Menor de Bach, vagueia em mescladas luminosidades... a suavidade, a doçura harmónica dos azuis neutros, difusos, dos radiosos brancos de brilhos em ondulações de mares e murmúrios, para mim, só para mim, dum Debussy e o seu Claire de Lune...

E me perco! Me acho! Sem nada ver, só sentires em sonhos sonhados...
E vejo! Mas a cegueira é minha madre, que caminha sem guia, sem norte...
E sinto... sem sentires! Onde a ilusão impera!

Oh noite! Pérfida e inclemente, que com teus tentáculos me abraças, me levas para além dos sonhos!
Em palavras (in)distintas me perco! Que ouço, que não ouço, mas que me transmutam,
em perdições de eus...

Ao longe, ouço Jean-Michel Jarre no seu concerto na China...
A realidade chama por mim...
Sonhei?!? Divaguei?!?
Ainda não sei...