
No início de um século remoto, em terras de Espanha,
o povo andava em sobressalto, apavorado.
Uns, atónitos, clamavam atando as mãos à cabeça
“É coisa do diabo!”.
Outros, de joelhos no chão e olhos esbugalhados,
bradavam “É milagre!”, “O fim do mundo!”, “Oremos, irmãos!”.
Os senhores mais poderosos da época enviaram emissários
às origens da sabedoria com missivas secretas.
Ali se reuniram discretos e protegidos alquimistas, zelosos
e estudiosos pensadores, cogitando vasculhar o corpo da
loucura (assim lhe chamaram) a emergir em forma de
cotovelo da água.
Perante tal impossibilidade, os primeiros recolheram lodo,
raízes dadas à costa pela maré, pó de pedra da rosácea
da igreja da Madre del Mar, areia, algas, resquícios de sal, e
tudo misturaram com mezinhas, poções e cal.
Os eruditos debruçaram-se sobre volumosos livros, códices,
papiros e elaboradas equações matemáticas. Sem explicação
para o fenómeno, afirmaram “Aumentem o tributo ao povo!”,
“Sacrifiquem-se cabritos!”, “Imolem-se os ímpios!”.
Todos os métodos usados de nada serviram.
Subitamente, para espanto de toda a gente, o mar aquietou.
Ainda hoje, naquele lugarejo isolado, conta-se aos mais
pequenos a lenda do tornado.
(minha participação no jogo das 12 palavras daqui )