sexta-feira, julho 28, 2006
Na Sequência do Sonho
Hoje amanheci entre a incoerência do sonho e a realidade.
O eco dos meus passos passeiam sozinhos pela semi-desperta casa
onde janelas e portas abertas expandem letras em palavras
desunificadas.
Tacteio o telhado intacto pelas raízes e ninhos de longos cabelos
dos pássaros.
Talvez voe
Talvez paire
Talvez caminhe no deserto das areias que embalam
Ou me quede pelo silêncio ou pelo nada
Se de ninguém o eco dos passos são parte
No interregno do sonho (in)acabado
bordo em azul, ervas, folhas e braços
nas árvores que me passam, em dolência, cantares
ritmados
rimados
na suave sonoridade da harpa
no timbre certo que dedos alcançam
Por vezes amanhecemos no eco dos passos…
Reajo
E sob as vozes de Mendelssohn no piano sofisticada e
de Rachmaninov no violoncelo o equilíbrio da sonata,
me banho no lago das águas límpidas e claras
Apaziguada
desfloro sorrisos em pétalas de rosas brancas
e na sequência do sonho
danço
o eco dos passos
(pintura de Renée Zempel Chan)
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7 comentários:
Hoje amanheci com vontade de permanecer no sonho...
Adorei este momento... mesmo muito!
Um abraço carinhoso
"...Hoje amanheci entre a incoerência do sonho e a realidade"
... eu também! Sonhei com o olhar de uma gaivota que povoa os meus sonhos...
Lindo!
Um abraço carinhoso e bom fim de semana ;)
Melancolia.
No cais do porto, esperando pelo nada, os olhos vazios mirando o ontem, na desesperança de um amanhã, tão sombrio quanto o hoje.
O vestido curto, as pernas marcadas pelas cicatrizes e pelas varizes, celulites até e, principalmente, na alma...
O menino, mal coberto pelos farrapos, último e único troféu que sobrou.
Menino macilento, olhos fundos, mas com aquela força inerente da luta feroz pela sobrevivência.
Uma sobrevivência sem futuro, sem esperança, um ocaso ao amanhecer.
Amores, foram mais de mil, amores de uma noite, de um momento, de uma semana, as brasas ardendo entre as pernas abertas por ofício e automáticas, sem prazer, sem sentido, somente abertas.
Amor um só, o marinheiro forte e violento, responsável por muitas das marcas, feitas a brasa de cigarro e ponta de facão.
Marcas no rosto, nas coxas, nas costas, na vida. Cicatrizes eternas, território marcado, gado marcado, sofrimento.
Mas o prazer, esse não dava para esquecer, prazer violento, doloroso, doce...
As ondas levavam e traziam, o mar revolto anunciava a tempestade, que era bem vinda, mantendo no cais do porto, o navio. E na casa humilde, o marinheiro.
Bem que sabia que não era dela, era do mar, de tantas sereias quantos portos houvesse. Não adiantavam nem as preces que, escondida, fazia.
Os Santos não poderiam ajudá-la e ela bem sabia disso.
Da última vez, ele fora embora mas ficara, ficara dentro dela, nas entranhas, trazendo náuseas e alegrias, dores e esperanças.
Um restinho do que fora, um troféu, um eterno troféu pela vida afora.
A gravidez trouxe a miséria, diminuíam os fregueses, a porta vivia aberta a espera de um cliente, de um real, de um almoço...
Mas, se não fosse a solidariedade de uns poucos...
Entre trancos e barrancos, nascera o menino.
Menino magro e guloso, querendo as mesmas tetas onde o pai mamara tanto, tanto...
Os peitos fartos, agora flácidos eram devorados pelo faminto, mas a sensação de prazer que ficara na memória, teimava em arder e, por isso, nunca negava o leite àquela criança.
O cais do porto, os olhos parados, a desesperança.
E Jesus, olhando para o ontem, assim como a mãe, sem saber por que, repetindo os mesmos gestos e a desesperança a descorarem os olhos azuis...
Fantasia sobre Minha História, versão de Chico Buarque sobre música de L. Dalla, Gesubambino
BEIJINHO, MINHA AMIGA*!
Heloisa.
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"Por vezes amanhecemos no eco dos passos", bonito verso.
Beijinhos.
gostei muito!
parabéns
...passei para te deixar um jinhooooo e desejar um bfs...
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