quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Febrilidade





Desgrenhada, patética, desfigurada, os olhos inchados
pelas noites de vigília e de sonhos interrompidos pelo
imutável fantasma das horas lentas.
À noite, depois que o sol se punha, a caminhada tornava-se
mais lenta e o refúgio do sono arrastava seus passos
febris no tempo.
Olha-se ao espelho que num esgar assustado lhe devolve
a imagem e se apaga em silêncio.
Foge atravessando portas fechadas. Precisa de ar fresco,
renovado, para calar o sufoco dos dias febrígenos ausentes
na apatia do seu dormitar constante.
Com movimentos rápidos corre uma persiana. Atónita recua
instintivamente quando a negrura lhe entra pelo quarto
encerrado com um esbracejar indistinto displiscente de árvores
mudas ao vento.
Quanto tempo se passou? Não sabe!
Na sua febrilidade perdeu a noção da hora deslizante no norte
do sol com seu rodopiar constante e o pão de seu alimento
também se esvaía num fumo distante incongruente pelo espaço.
Tantas questões lhe punha o segundo sem resposta…
Corre as cortinas e aguarda que os braços luzentes da Aurora
enlacem a voz clara do silêncio nos traços da areia branca…



(pintura de: De Lempicka)

4 comentários:

Memória transparente disse...

Bonito "sustento" de palavras sobre a pintura De Lempicka.

Beijinhos.

GNM disse...

Li-te e reli-te...
Os que escreveste é lindo!

Fica bem e sorri!

Estrela do mar disse...

...que consigas sempre alcançar essa voz...lindo o que escreves @miga...


Jinhosssssssss

Raquel Vasconcelos disse...

Revi momentos da minha alma...