segunda-feira, abril 30, 2007

A Consulta

























Longo e lento ritual programado em anos
sob a morosidade do pêndulo sustendo cabeças
salpicando ilusões e desenganos.

Passeava pelos corredores apinhados de gente
em romaria parada
e vagueava no sentido das idades indefinidas
sustentadas pela parede qual suporte ansiado
pelos traços de cansaço e na espera entorpecidos.
Horas tecendo o frio…

Resistentes espelhos de dor e mágoa
na previsão dos planos sobrevoados.
Deles, em número, tornava-se parte
nas águas pelo frio adentradas
nas correntes do navio em cais parado
na embriaguez de voláteis asas
esbatidas entre o negro e o verde pálido.

De quando em vez, alguém passava apressado
sob as ideias fixas dos papeis remexidos
com sombria cara.

Então regressava ao ameno poisio do livro
aberto sobre o plástico e escrevia…
Até que uma voz estridente estremecia
o silêncio rumorejado
despertando os cordeiros no espaço fechado.


(pintura de Rogério Ribeiro)

11 comentários:

jorge vicente disse...

que belo poema, amita!

um grande abraço e um beijinho
jorge

Anónimo disse...

... quando o médico lhe colocou o estetoscópio sobre o peito viu que o coração não batia e que no lugar dele uma pedra se transformava em água e começava a música. despiu a bata e caminhou demoradamente. nos passos dele cresceram árvores. foi assim que a doença abandonou este mundo. num dia que ainda está para vir. e que aqui antecipaste. belo!

Paula Raposo disse...

Um excelente poema! Beijos.

Peter disse...

Amita

O teu poema é um poema de dor, que reflecte com um realismo pungente o sofrimento e a angustia sofrida nas salas de espera dos nossos hospitais.
Quem passa por essas situações sabe dar-lhe o devido valor.

Que tenhas um bom Feriado.

lena disse...

Amita, doce Poeta

piso os corredores, em passos lentos, quase mecanizados, o pensamento voa, a alma sangra e o coração é arrancado do peito

o momento é de angústia, as vozes enlouquecem, as horas param em todos os relógios...

espreita a morte, espreita levemente e com dor, conseguirá entrar?

abre-se uma porta fora de mim...

um poema belo e sentido Amita, um poema que me toca, verso a verso, sinto dentro de mim cada silaba e emociono-me

deixa que te abrace com muita ternura, com muita doçura e carinho

beijinhos Poeta linda

lena

Entre linhas disse...

Poema onde revelas os teus sentimentos,a tua dor,a tua sensibilidade.

Bjs Zita

Dad disse...

Belo poema, muito sentido e real.

Um beijinho e desejos de ums boa semana,

Unknown disse...

Seus poemas remetem-me, necessariamente, às minhas próprias evocações.

António Melenas disse...

Adulto, pensado, cerebral
é este teu poema.
Grande poeta és, querida Amiga
Um beijinho para ti

Maria Carvalhosa disse...

Lindo, lindo, Amita. Quanto mais te leio mais gosto de te ler.

Um beijo.

Amita disse...

Para Zita: Na impossibilidade de entrar no teu blog, agradeço a tua presença e as tuas palavras. Um bjo e um fim-de-semana pleno de sorrisos lindos