Da luz que se esvazia coisas vultos
um espaço opaco todavia fica
em que a memória em vão procura abrir-se
a imagens de lembranças: rostos, sexos, pernas,
e o delicado recurvar dos ombros
ou de perfis. Não se recorda nunca,
ou se não sonha do que foi antigo
e ardente em nosso corpo, se não há
outros rostos depois e os mesmos gestos.
Não de passado se alimenta o vivo
quadro acendido em sonhos e lembranças,
mas o passado se renova em cores
com de que as formas repetidas sejam.
E quando esse halo opaco de vazio
a pouco e pouco nos rodeia a vida,
nem o lembrar nos resta, e os sonhos não se entregam:
crepuscular a luz obscurece tudo.
(Poema de Jorge de Sena)
terça-feira, março 15, 2005
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1 comentário:
Lindo poema Amita amiga!
Ja sentia falta de poder ler-te... estive quase uma semana sem computador e ja a enlouquecer...
Fico feliz de poder voltar!
Muitos bijinhos!
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