quinta-feira, dezembro 30, 2004

A Romaria

Gaiata e trigueira, encontrei a Alegria
Perguntei-lhe para onde ia
Vou para além, para a romaria
Bailar, cantar, dançar até ser dia
Hoje é noite longa de folia

Lá no meio da fanfarra, encontrei a Animação
Perguntei-lhe o que levava na mão
Grinaldas de flores, um coração
Saltitante, ansioso por entrar na confusão
Espalhando pétalas de amores

Roliça e bem nutrida, estava a Felicidade
Que levas no regaço? Falsidade?...
Transporto a pura beleza da verdade
Doces sorrisos de paz, a tranquilidade
Que isola, afasta as dores

Pequenita, disfarçada, lá ia a Esperança
Que fazes aí, criança?
Trago mares, ventos, de bonança
Estrelados céus azuis de confiança
Prá gente que não se cansa

Gorducho, olhar vivaz passeava o Amor
Também aqui, meu candor?
A romaria pertence ao meu pendor
Espalho voos, sonhos, irisados de dor
Musicalidades ternas ao meu redor



A todos os que por aqui passam ou passaram,
desejo um 2005 cheiínho de Paz e Alegria
e vos mando o meu sorriso amigo.
Sejam Felizes!

quarta-feira, dezembro 29, 2004

O Rio

Correndo anos e anos a fio
Tumultuosas águas dum rio
Evitando
Ultrapassando
Limos, lodos, escolhos
Derrubadas árvores interrompendo caminhos
Contemporizando
Aguentando
Marés inconstantes, turbulências
Desnudando mentiras, impaciências
Irritações
Reais efusões
Liberdades de voares permitidos
De ave planando nos ares dos sonhos
Matas desbravando
Subtilmente mostrando
Do rio o plácido leito delineado
Sua rota para a foz o mar encontrando
Tudo em vão
Só confusão
Prepotência, conveniente cegueira da mente
Esfusiante, desdizente, seguindo em frente…
Com serenidade
O lema: a verdade
Criando novas, frágeis penas arrancadas
Fortalecendo, treinando asas cortadas
Rasantes voares
Passados olhares
Arriscando subir às estrelas, ao azul céu
Percorrendo serras e vales lá do alto
Mirando o voluntarioso rio que se perdeu

terça-feira, dezembro 28, 2004

Olhos

Olhos são Paz, são conforto
São o carinho do rosto
A alegria dos sentidos
Olhos que trago comigo
Olhos profundos, doridos
Preocupados, inconstantes
Que buscam cada instante
O desbravar inclemente
Do que há pra além da mente
Olhos meigos, sonhadores
Luminosos e distantes
Perdidos na cor das serras
Que animam e alegram
Sempre que eles regressam
Para o pão que dá as terras
Olhos frios, indiferentes
Calculistas, dementes
Elaborando equações
Na busca de soluções
Do porquê o verde é verde
Olhos mortiços, cansados
Da vida e dos seus fardos
Triste miséria que arrastam
Olhos indagantes, curiosos
Interrogativos, misteriosos
Olhos de olhos distantes
Fenecendo à míngua, à sede
A loucura dos amantes
Olhos ternos, piedosos
Carinhentos, amorosos
Olhos dulcificantes
Olhos secos, orvalhados
Ondas de fumo deitados
Correntes de ilusões
Quentes, frias, paixões
Olhos de todas as cores
Irisados de fulgores
Olhos plácidos, serenos
Sorridentes e amenos
Seguindo a tranquilidade
A paz, a luz, a verdade

sábado, dezembro 25, 2004

A Viagem

Em sussurros tu dizes ao meu ouvido
Com ternura, doces palavras de enlevo
Querida, meu amor, fica comigo
Nada temas nem receies, eu te levo

Me afagas com doçura, me transportas
Loucas viagens pelo azul dos mares
Pelo deserto onde no Nilo as comportas
Se abrem lentamente para passares

Me abraças forte, seguro e confiante
Teus lábios meus olhos, cabelos afagam
Deslizando, afastando, num instante
Dúvidas, temores, que se apagam

Karnak as portas do Templo se abrindo
Jorros de Luz, de Paz, tranquilidade
De mãos dadas, murmuras, sorrindo
Vamos, amor meu, com serenidade

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Lendo...

Lendo
Absorvo palavras lentamente
Que entendo
Fazem parte de mim
Plenamente
Letras de Amor sem fim

Possibilidade
Do voo pleno nos ares
Com verdade
Confiança
Ultrapassando sóis e mares
O infinito se alcança

Pensando
Nas forças da Natureza
Orientando
Rumos, rotas e trilhos
Serenidades na beleza
Luz, sorrisos, com mais brilhos

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Simplicidade

Com simplicidade te escrevo
Sentidas cartas de amor
Faço filmes, reinvento
Tudo para teu contento
Olvidando o pudor
Da concha em que me meto

Todo o dia em letras deslizo
Imaginando sonoridades
Partituras de sonatas
Notas perdidas, baratas
Que foram desperdiçadas
E aos Mestres eu bendigo

Os dias saem correndo
Seguindo águas e ares
Sóis brilhantes e luzentes
Poemas calmos, inclementes
Navegando pelos mares
Em frágil batel desfazendo

Teço rosas, lírios, em cetim
Treino asas, esvoaço
Bebo, saboreio, festividades
Ténues gotas em felicidades
Coisas que por ti faço
E enlaço mundos sem fim

Pinto doces deslizares
Em sonhos resplandescentes
Coso, ponteio, remendo
Letras, sorrisos, ao vento
Em serenidade vivendo
Luz amena de amares

sábado, dezembro 18, 2004

Mãos

Mãos serenas, caminhantes
Mãos fortes, dulcificantes
Percorrendo, descobrindo
Caminhos
Trilhos
Abrindo

Mãos estendidas, suplicantes
Mãos aguardando instantes
Da esmola da doçura
Da vida
Invivida
Em ternura

Mãos seguras, confortantes
Mãos alvas, brilhantes
Espalhando flocos de luz
Que lêem
Que sentem
O azul

Mãos rogantes, poderosas
Mãos transmutadas em rosas
Em pétalas se desflorando
Sumindo
Omitindo
Desdobrando

Mãos delicadas, elegantes
Mãos desenhando letras falantes
Em musicalidades, canções
De amor
De dor
Incompreensões

Mãos trémulas, impacientes
Mãos estimulantes das mentes
Imensidões estrelares
Marés
Em fés
De luares

Mãos verdejantes de prados
Mãos guitarras de fados
Acalmantes e gritantes
Em rotas
E notas
Instantes…

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Não

Não espero gratificações
Elogios, ou canções
Nem aparências de nadas
Muito mais do que alardas
Não procuro floreados
Nem versos inacabados
Nem tristes ou jocosos
Com sentimentos fogosos
Não sigo melancolias
Nem insanas folias
Ou mostras de cansaço
Nada disso eu abraço
Não tolero sentimentos
Desses perdidos nos ventos
Nem a inação que vejo
Que sinto e que prevejo
Como falsa, comovente
Da labuta insistente
Não indago o que não sentes
Se vejo, sinto que mentes
Não caminho a teu lado
Se te enches de enfado
E te perdes em dizeres
Para o vazio preencheres
Não te peço lealdade
Tão pouco fidelidade
Nem abraços ou ternura
Dizeres de pouca jura
E com tanto “não” me vou
O sorriso em mim ficou

Como Uma Marioneta

Sonhei com olhos amorfos parados
Entre gentes deslizantes
Olhos no palco fixantes
Como uma marioneta actuando
Sapateados
Uma criança abraçando
Ensinando
Batimentos cadenciados
Ela sorria, finalmente!

Despertar em cansaços intrigantes…

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Ilusões

Ilusões são pássaros voando pelo infinito azul
Ilusões são penas pendentes, rodopiando, cadentes, em luz
Ilusões são asas pairando, arco-íris sonhando
São verdes, rubras, multicolores
São tranquilidade, inconstância, fulgores
Pensamentos se soltando leves na sua cadência
Corridios, fugitivos na demência

Ilusões são sonantes musicalidades
De notas planando nos ares
Ilusões é sinfonia aberta completa
Rígida em sonoridades, incerta
Ilusões são pétalas, rosas e laços
Rezas, orações, abraços
Livros inacabados, poemas modificados
Portas abertas da Natureza
Divagantes na doçura, na beleza

Ilusões são olhos vivos e doces
Ilusões são faces ternas de amores
Ilusões são mãos afagantes, carinhosas
São sorrisos, águas plácidas, amorosas
Pó de estrelas, brancos luares
Sussurros, confidencialidades
Verdejantes montanhas e vales
Tortuosos rios, serenidades

Ilusões são láminas de sóis brilhantes
Ilusões são amanheceres orvalhantes
Ilusões são ocasos negros, escaldantes
São a leveza das plumas, instantes
Rectas, traços, sombreados
Em geometrias equilibrados
São folhas caídas, flocos de neve
Nuvens fugazes de tudo o que é breve

segunda-feira, dezembro 13, 2004

O Bicho Homem

Vagueando como apraz
Sabor do momento, tanto faz
Sorrindo em declarações
Amores de instantes, ilusões
Intensidade vivida uma a uma
Perdição de letras em penumbra
Sexuais verbalidades
Intensas ou inverdades
Uma e outra foi passando
Alma devassa explorando
Se passados ou presentes
Não me interessa, entendes
És homem, percebo, não aceito
Não lhe chames preconceito
Mas sim o saber da vida
Que voa, corre, corrida
Ficando no ar pairando
Gotas de nadas pensando
Indecisões dum encanto
Silêncio que se faz pranto
Cartas que não escreves
Promessas que não deves
Nem podias
Nem devias
Cada segundo lutando
Racionalizando
A vida e seus desdizeres
Perdidos em belos prazeres
Com começo mas sem fim
Nem para ti nem para mim
Melancolia, fulgor
Encanto e dor, dor
Alimentando possibilidades
Lonjuras de tempo nos ares
Perdida em meditações
Desabafos, conclusões
Eu amo a serenidade
Acalmia, paz, verdade
Infidelidade abomino
No sorriso que domino

domingo, dezembro 12, 2004

Sem Título

Não consigo, não consigo…
Não há palavras nem letras
O nada trago comigo
Me isolo
Vão consolo

Amanheceres entre orvalhos salgados

sábado, dezembro 11, 2004

O Protesto

Mares de letras atentas observam
Desenhadas em listrados
Quadriculados
Brancos e azuis papeis
Questionando que destino lhes darei

A imaginação voa sem rumo, sem norte

Ondeantes histórias inacabadas
Em amenas brisas
Perdidas
Esperando uma aragem mais forte
Um transporte para a vida, despertadas

Sem rumo, sem norte paira a imaginação

A invasão dos papeis começou
Exigindo, protestando
Reclamando
Em gritos surdos, onde estou
Retira o manto pendente, haja organização

E a imaginação desliza, no éter plana

Serenamente em incolores esgares
Sorrindo
Rumos e norte não abrindo
Apatia de amorfos caminhares
Que nem o frio vento do Norte abana

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Para quando se sentir só...

Peça ao céu um pouco de silêncio
e procure conversar com a noite.
Faça de cada ilusão uma promessa,
e pense que o que passou, passou.


Lá fora o ar pode estar pesado,
mas o desejo de seguir, de lutar, de amar,
é maior. Então liberte-se dos preconceitos
e saia por aí. Vá passear, ironize essa amargura
e faça dela uma sombra fértil de amor.

Não sinta receio de nada;
a vida é assim, tudo é um eterno recomeço...

Sempre existe um amanhã de saída,
que pode ser feito de boas aventuras.

Olhe-se no espelho e sorria, e coloque nesse
sorriso tudo de bom que você tem para dar,
as coisas que viu, ouviu, adorou e amou...
Afirme-se em um só pensamento de que seus
desejos sempre serão de alguma maneira
realizados; tudo é natural, tudo de
bom parte de dentro de você.


E lembre-se que em algum lugar existe
alguém que lembra de você, que sente saudades,
e te ama, e isso é muito bom.

Vibre com a lua,
mas contra a tempestade.
Fique feliz por ainda saber sorrir...
Vá! Levante a cabeça, coloque no rosto uma
expressão feliz, tudo vai lhe parecer mais fácil.
Notou?
Abra a janela e preste atenção
nos pássaros brancos
que voam no céu...

Tudo é paz, naturalidade e franqueza.
Por que esta melancolia? Lembre-se de um sonho, de
alguém que está sempre ao seu lado,
mesmo estando longe de você
e sinta como não é difícil ser feliz.


(enviado por Ruca www.rucasplace.blogs.sapo.pt)
Obrigado Ruca

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Ninho

Baixo… muito baixinho
No encaixo do ninho
Ouço musicalidades
Entendo sonoridades
Sinais de plumas voantes
Chuva de estrelas brilhantes

Lenta… mui lentamente
Pelo divagar da mente
Em sorrisos doces me entrego
Em sussuros que não nego
Alcançando o infinito
Belo, eterno, bendito

Terna… mui ternamente
Navego serenamente
Pelas correntes dos mares
Línguas de fogo solares
Escarpas, montes e vales
Percorrendo eternidades

Com doçura, com carinho
M’enrosco nas rosas do ninho
Em divagares coloridos
Em sentimentos sentidos
De paz e serenidades
Isolando-me dos males

Sorridentes despertares

terça-feira, dezembro 07, 2004

Sobre Espuma Florescente

Voo sobre espuma florescente
Em miscelânea de tempos
A barcaça que tomei
Fundiu-se imperceptivelmente
Nas estações, nos momentos
De melodias que cantei

Nua, subo um penhasco estéril
Solto minhas canções no ar
Sonoridade branda e débil
Auspiciosas do frenesim
D’Ícaro as brancas penas mirar
Puras ilusões de mim

Afrodite descalça caminha. Flores
E verde relva seus pés jorrando
Os rosados braços da Aurora
Os amores enlaçando
Que se perderam
Em dores
Míticos tempos d’outrora

Crus e frios deuses desafiando
Que riem da humana tristeza
Arautos da inspiração olvidando
Fiandeiros de vidas fios teceram
Omitindo a eterna beleza
Os sonhos, a paixão esqueceram

Serenamente
Deslizo
Com um sorriso
Sobre espuma florescente

sábado, dezembro 04, 2004

Ontem/Hoje

Ontem:
Emoções contraditórias, confusões
Agitares de gentes resolvendo
Realidades sanadas no dia
E obtendo
Cansaço em solidões
Desgastes que se previa

Hoje:
Tranquila noite de sono sereno
Ao longe vibrações ouvi, senti
Negras espumas em café despertando
Cheiro a Terra doce ameno
Gotículas de orvalho eu vi
A Luz tranquila da Natureza
O Sol a jorros pela janela entrando
Orgulhoso de beleza

E parti
Saí
Em Paz, o meu sorriso voltando…

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Imagem reflectida

"Imagina que o presente é apenas um reflexo do futuro.
Imagina que passamoa toda a nossa vida a olhar para um espelho
com o futuro nas nossas costas, vendo-o apenas no reflexo do que
está aqui e agora.

Alguns de nós começariam a acreditar que poderiam ver o futuro melhor
se se voltassem para trás e o olhassem directamente.

Mas se o fizessem, mesmo sem o saber, estariam a perder a chave da
perspectiva que tinham tido antes.

Porque uma coisa nunca seriam capazes de ver nele: eles próprios.

Ao voltar as costas ao espelho, tormar-se-iam um elemento do futuro
que os seu olhos nunca lograriam alcançar."

Nota: extraído de "A Regra de Quatro" que acabo de ler
Bom fim-de-semana para todos, meu amigos

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Tempo

Olhando através de um centímetro de fresta da janela reparo que lá fora não chove ainda.

Telhados luzidios escorrendo gotas, árvores desnudas lustrosas erguem seus braços esguios para o infinito em preces indicando caminhos.

A buganvília lutando contras as intempéries mantém teimosa os cachos de flores secando uma a uma enquanto o azevinho viçoso em colorações de verdes mostra orgulhoso suas pintas vermelhas.

Tempo soturno, alagado na serenidade da Aurora que despontou sem o brilho do Sol.

Os pássaros, rolas bravas e melros não me vieram visitar enrolados no aconchego dos ninhos. Só as gaivotas pairando nos céus. Prenúncio de tempestade.

Momentos de silêncio, tranquilidade, de quase paz, rodeante.
A Mente voa leve pelos ares sem sonhos em meditações de mim.
Encontro linhas suspensas paralelas, umas com bifurcações deslocantes cientes da inteligente luminosidade que emitem, outras brilhantes de mãos de sonhos voantes no éter.
Seguindo lenta e cautelosamente seus trajectos não olhando o abismo negro envolvente que pressinto, encontro secantes e paro suspensa nos ares analizando.

Retorno deixando que o tempo em Tempo transforme.

terça-feira, novembro 30, 2004

Respondendo...

Se te quero, te desejo?
Plena em ti me revejo
Meu amor, meu doce enlevo
Meu divagar no vento
Parte de mim, meu sossego
Meu pairar cantante nos ares
Meu afago
Minha pele
De cantantes despertares
Minha lonjura
Tormento
Lágrima oculta
Despedida
Na noite tornada escura
Meu anseio de Ventura
Minha canção dolente
Minha luz, minha aurora
Despertando sorridente
Terna forma espiralante
Quadricular, secante
Geometrias perdidas
Simbologias d’outrora
Morango rubro, meu mel
De leve trago a fel
Na hora das despedidas
Meu céu azul, meu luar
Meu voo leve, sereno
Num Outono mui ameno
Chuva d’estrelas, meu mar
Oásis o deserto salvando
Sede que matas a sede
Que em mim tu te perdeste
Eu em ti unificando
Minha fidelidade louca
Em silenciosos falares
Sussuros e murmurares
Cega, surda e mouca
A convites, distracções
Enlevos e seduções
Vivendo p’ra ti somente
Meditando sorridente


segunda-feira, novembro 29, 2004

Eremita

Rasgando roupas e mantos
Me cubro de singelos cantos
Abraçando o momento
Buscando a Palavra no vento
O silêncio

Escalando íngremes encostas
Admirando a Natureza
Esplendorosa
Brilhante
Que tu gostas
Eremita errante

Procurando a Luz em meditação
Imóvel me quedo
Em sossego
Profunda introspecção
E voo pairando
Música no éter soando
Sem temor nem medo

Lavro a terra, faço o pão
Recolho folhas silvestres
Bebo água que mais não
São
Gotas de orvalho giestas
Intemporalidade
Acalmia da verdade
No saber das florestas

Casulo

Poemas não faço sigo escrevendo
Dentro do meu casulo
Entre os dedos espreitando a medo
Caixa das misérias do mundo
Que entram
Esventram
Terrores
Gláudio de palrantes doutores

Guerras, ódios, prepotência
Tempos sem cor amorfos
Dolorosa sequência
De dias tortos
Gentes incolores
Frieza nas dores
Perdida está a clemência
Não olho, recuso
M’enrolando no casulo

Rios rubros, canibais
Encruzilhadas torpes da mente
Desfeitas em espirais
Ceifando trajectos
Projectos
Invividas vidas, demente
Rasgo sedas e ares
Do casulo saio enfrentando mares

domingo, novembro 28, 2004

Não Temo

Não temo
Enfrentar o dia-a-dia
A rotina, com alegria
Sincronização de mim

Não temo
Percursos delineados
Em consciência meditados
Racionalizações outrossim

Não temo
Olhar em frente seguir
Alheamentos sentir
Encontros introspectivos

Não temo
O cinza negro anoitecer
Dias brancos percorrer
Desencontro dos sentidos

Não temo
Climatéricas alterações
Análise fria de ilusões
Imprudências da Mente

Não temo
Vaguear solitária no Tempo
Descobertas de momento
Interioridades somente

Nos sorrisos da certeza
Caminho impávida e serena

sexta-feira, novembro 26, 2004

Afinação

Notas soltas tresloucadas
Claves, breves e solfejos
Mescladas
Irisadas de desejos
Vagueiam saltando da pauta
Seguem bemóis e sustenidos
Andando no ar perdidos

Cada um canta seu canto
Em nuvens de algodão
Para pasmo e espanto
De quem
Por bem
Assiste à confusão

Libertam agudos e graves
Soltam sonhos melancólicos
Águas revoltas de mares
Escalam montanhas
Descem vales
Em busca dos tons bucólicos

Entre palmeiras e tâmaras
Dos oásis do deserto
Repousam em belas câmaras
Finalmente
Serenamente
Compassadas
Musicadas
Calmas
Ledas do incerto

quinta-feira, novembro 25, 2004

Curtas

Acordei
Me levantei
Entre palmeirais
E areais
Na foz
Ouvindo a voz
Do meu rio
Sorrio
Percorro
Não corro
Sonhares
E mares
D’acalmia
Não devia
Turbulência
Demência
Realidade
Boa vontade
Ficção
Talvez não
Questiono
E retorno
À esperança
Na lembrança
De um dia
Quem diria…

quarta-feira, novembro 24, 2004

O Imprevisto

Sem pressões
Nem compaixões
Segui absorta voando
Pelo tempo em lonjura tornado
Partindo e regressando
De quando em quando

O incógnito ser humano no casulo enclausurado

Sem temores
Nem sentidas dores
O desconhecido aguardando
Ausente de mim, do rodeante, das gentes
Mirantes indiferentes

A caixa imóvel num canto do nada, esperando

Vi-te
Sorri-te
Contido calor d’um abraço
Em mim sonoros falares brotaram
Entre sorrisos, espantos, jorraram

A ave sem asas voava, sem amarras, sem um laço

Ternos olhares
Doces tocares
Química atracção
Instantânea, inconsciente, deslizante
Em segundos, horas, num instante

A música da pauta saiu, leve, tornada libertação

terça-feira, novembro 23, 2004

Doce Canto

Canto o amor, a dita, a ventura
Caminhante
Inconstante
Em seus passos de vento
Caixa de sonhos, lonjura
Do tempo, que em tempos, foi tempo

Canto o fogo, a paixão ardente
Desfolhados
Incontrolados
Em revoltas marés voantes
Desconexos de demência premente
Peles, olores, desejos, cantantes

Canto o azul, o sol, os luares
As estrelas
Como belas
Na serenidade, na paz
Caminhantes de vagares
Brilho plácido, ameno, nos traz

Canto às letras do poeta sonhador
Que voa
Entoa
Com mui terna sabedoria
Musas, cores, luzes, sem dor
Do entardecer, da noite, faz dia

Cantando meu caminho sigo
Em deslizares
D’amares
A vida, a alegria, a doçura
Sorrisos francos que bendigo
Fidelidade, dádiva doce, se perdura

domingo, novembro 21, 2004

La Declaración de Amor

Más aún que en tu clara primavera
eres ahora bella, amada mía:
en tu espléndido otoño, se diría
madura en ti la humanidad entera.

Amo tu cuerpo hermoso y tu alma austera,
tu sien surcada de sabiduría,
y te amo al saber tu compañia
para todo y en todo compañera.

Así te quiero, mar de aguas tranquilas,
con tu diáfano ayer, y en las pupilas
la luz de los crepúsculos dorados.

!Manos dichosas con que compartimos
nuestro pan amoroso y los racimos
a las viñas celestes arrancados!

Roberto Cabral del Hoyo
San Angel, Agosto 1993


(Postado por Morales Vilanova, no seu blog, em 20 do corrente)

Meu Cão

O Homem dispõe seus caminhos
seus passos, rumos e rotas
perdido em ilusões
sonhos, voos
maldições
tristezas
e sem certezas
do que pode acontecer

A Natureza é mais forte
bela, dura, imprevisível
portadora de surpresas
dura, crua e vil
indiferente
das solidões
do amparo, do braço amigo
muda, cega, não quer ver

Perde o Homem, perde tudo
árvores, plantas e flores
animal d'estimação
guarda querido
nas dores
da perda
da solidão
parte de mim vai contigo
na morte
sem sorte
no coração

E choro, por mim, por ti, meu cão

sábado, novembro 20, 2004

Despertar...

Desenhando traços e letras
Sobre brancos quadriculados
Contornando sombreando
Geometrias
Simbologias
Seguindo riscos traçados

Animais impacientes aguardam lá fora
O pão deles de cada dia

Seguindo o lápis distraído
Que percorre curvas espirais
Em movimentos corridos
Sem andamentos
Musicais
Entre silêncios cortantes fluidos

Um rouxinol passa trinante…

Vendo na cegueira existente
O negro ocupando a brancura
Ligeiros densos tracejares
Quadriculares
Sem pensares
Alva etérea côr não mais pura

Despertar para um dia brilhante…

sexta-feira, novembro 19, 2004

A Voz do Pássaro Errante

Longe veio do nada existente
Caminhando entre núvens escaldantes
Jorrando labaredas de gelo
Derretido
Convencido
O caminhante
Envolto em musicalidades falantes
A voz do pássaro errante

Abrindo portas dos céus
Frinchas luminosidades pálidas
Espreitava
E nadava
Em rios secos curso constante
Coberto de densos véus
Desnudado ser em sonho belo
Vozear de pássaro errante

Olhar atentamente disperso
Perdido no vento forte e brando
Nos areais da mente
Não sente
Desmente
Realidade nua crua seu canto
Passo vacilante e certo
Coloridos flocos de ar deslizante

Na voz do pássaro errante…

quinta-feira, novembro 18, 2004

Amor

Meu encanto, meu doce enlevo
Meu raiar d’aurora, meu despertar
Meu entardecer sussurrante
Anoitecer escaldante
Que cada frase eu bebo
E não consigo olvidar

Perdida em mares revoltos
Em mui ternas calmarias
Desejos alucinantes
Em noites claras e dias
Sentidos loucos e soltos
Buscando-me em ti, nos dias

Vesti-me com manto brilhante
Da luz do sol, das estrelas
Do verde ondear da serrania
Procurei, demente, incessante
Nas cores de músicas belas
Estavas lá? Não, não sentia

Perdição minha, sonho, doçura
Encantamento, meigo amor
Te suplico, peço e rezo
Que apagues esta ternura
Esta chama, fogo, ardor
Do coração que t’entrego

terça-feira, novembro 16, 2004

O Vento lá fora

A noite me invadiu lentamente
Com o denso peso do dia

Entre penas num colchão de pedra deitada
Repousei meu corpo cansado
Olhando o vácuo
Na imobilidade do pensamento

O vento lá fora em sibilantes cantares

O livro dos sonhos pousado
Me mirando
Espantado

Silêncio inócuo

Me desliguei na noite entre acordares
Focando o tempo, inconsciente
Numa acalmia
Vivendo instantes de nada.

segunda-feira, novembro 15, 2004

Divagações em Letras

Letras dançantes pairando
no espaço, sorriem…
Alegres, saltitam
entre teclas brancas e negras
As cordas do piano esticam
a sonoridade clara disformando
e criando, enigmas, às cegas

Construindo jogos de palavras
Meros dizeres com som,
sem senso
Condutoras incautas de sonhares
Indiferentes ao outrem
que não buscam, insensíveis
a lucidez, na linearidade interpretada
Sentida
Somo suas

Poetanto em palavras difusas
agradáveis aos sonhos
às ilusões
de quem passa na procura
da esperança, de voos
irrealizáveis,em candura

Olho-as e não entendo!
Frases com tudo de nadas
plenas dum silêncio profundo
dum vaguear pelo espaço
Para delícia do poeta.
De quem ilusoriamente as lê

E meu caminho percorro
em silêncio, em acalmia
aguardando cada momento
Sem pressa, sem turbulência
que chegue a clarividência
nessas letras distorcidas
E serenamente, sorrio



domingo, novembro 14, 2004

O Sonho

Preciso de ti
Como rio sôfrego a água bebendo
Como montanha o verde das árvores sorvendo
Como no deserto a areia fina aguarda o vento

De ti preciso
Como sol rubro num anoitecer nascendo
Como o mar revolto em correntes e luares
Como a doçura da ave pairando nos ares

Preciso de ti
Como o silêncio da noite falante
Como uma estrela tímida brilhante
Como o raiar d’aurora, num instante

De ti preciso
Como a palavra em letras perdida
Como as cores dispersas em branco
Como musicalidades que não canto

Preciso de ti
Como o estender da mão do mendigo
Como o achar num tempo perdido
Como o voo embriagado, medonho
Preciso, sim, de ti, meu sonho

sábado, novembro 13, 2004

Canto

O canto da sereia não canto
Minha voz perdeu o timbre
Canto o amor, a alegria
No encanecer do dia
Que desliza e no entanto
Canto canção mui breve

Entre notas soltas e solfejos
Afino, desafino, percorro
Escalas musicais incompletas
Breves, curtas, incertas
Deslizantes no éter e vejo
Mutantes notas em clave

Canto à água, ao mar, ao rio
Seguidores em cadência
Ao sol, à terra e ao ar
Que, com seu ondular
Levitam minha demência
Em luminosidades de brio

Canção em lâminas de fogo
Meiga, terna, ardente
O infinito enlaçando
Em profundidades inalando
O caminho que percorro
Num sorriso consciente

sexta-feira, novembro 12, 2004

Escrevo...

Escrevo, sem palavras nem letras
Em sonhos de Fogo e calor em labaredas
Transformadas
Produzindo um invisível ondulante vento
Levitando-me em carinhoso momento
Em ledas
E fulgurosas madrugadas

Escrevo, sem letras nem palavras
Na Água límpida e clara mergulhada
Transmutada
Em ondina de rio, catarata ou lago
Meu manto espelhado eu afago
Encantada
Entoo a música que te trago

Escrevo, sem palavras nem letras
Formas espiraladas de azul no Ar
A planar…
Desenhos de suaves voos imaginados
Perdições de amores desejados
De te achar
Em maviosas cores de tons irisados

Escrevo, sem letras nem palavras
Da Terra, a força física, a paixão, o sentir
O ideal
Pelo terno beija-flor simbolizado
Esvoaçando no doce mel deleitado
A sorrir…
Interacção da natureza dual

quarta-feira, novembro 10, 2004

Dialogando

Vêde as horas, minha mãe
Tarde se faz, tenho d'ir
Tanto caminho a percorrer
Tantas letras para ler
Tenho mesmo que partir

Pressa? P'ra quê? O mar não sai do lugar
Brisa amena sopra, o sol continua a brilhar

Inclemente, nos dedos desliza a vida
Alteram-se marés e correntes
Rodopia o astro rei nos horizontes
Lâminas de fogo lançando
Lembrando
A mudança já sentida

As cores do arco-íris? A ternura dum sorriso?
Os sonhos do poeta? O voo no tempo contigo?

Minha mãe, assim eu corro...
As pontas d'ilusões, sonhos, agarro
Com toda a força restante
Num silêncio inquietante...
O cru voo do tempo seguro
Num meigo sorriso brilhante
Do poeta adormecido

terça-feira, novembro 09, 2004

A Comédia de estar...

A comédia de estar cronicamente atrasada para a minha própria vida estava a dar cabo de mim.

"Qual é a mais pequena harmonia dentro de uma grande vitória?"

Tudo em Pitágoras são harmonias. A astronomia, a virtude, a matemática...
Grande vitória pode significar o que se quizer, e a mais pequena harmonia tem muito menos significados concretos.

Utopia de Thomas Moore:
Os seus habitantes têm dois jogos parecidos com o xadrez.
O primeiro é uma espécie de concurso de aritméticas no qual certos números ganham a outros.
O segundo é uma batalha campal entre virtudes e vícios, que ilustra de forma brilhante como é que os vícios tendem a entrar em conflito uns com os outros, mas se combinam contra as virtudes. Mostra o que determina, por fim, a vitória de um lado ou de outro.

domingo, novembro 07, 2004

Teu Caminho

Em ti eu morro
Por ti renasço
em ternas formas de cristal
na seda de flores no ar
pairando em brisas leves...
leves...

A Serenidade me encontra
me leva, me transmuta
em cores plácidas
em deslizantes meigos voos
planando nas asas da Mente
lá alto...
bem alto...

De Paz me cubro e enlaço
revejo a Luz e divago
Encantamentos de mim
para ti em carinho levado
Teu caminho percorro
atenta...
serenamente...

sábado, novembro 06, 2004

Apelo

Oh Morte, porque não vens
se morro em ti todos os dias?
Morro como os pássaroa voantes
Morro sob sóis estrelados
em mantos de azul
Morro na vida invivida
Morro!...

Luz que aclareia meus sonhos
esvaiu-se
Deambulo na escuridão
Só, em passos perdidos

O adormecer perpétuo!
A acalmia silenciosa do nada!
Vos desejo, tanto, tanto!

Sentimento de abandono
persegue-me
cada minuto, cada instante
perdida em gotas tranlúcidas
deslizantes de mim

E oro aos deuses
às divindades supremas
que a Paz me traga
ao meu corpo amorfo
dormindo no vácuo do nada.

Clausura

Marcas de ti ficaram
Permanecem
Em conturbada clausura
De mortes
Em noites sós
Anseios
Colo que m' afaga
Sem promessas
Sem nadas
Só... Depois...
Perdição no Tempo
Lonjuras
Em apelos
Voo como louca
Insanidade
Talvez!
Imagens
No espelho reflectidas
No Além
Unidade de dois
Divago
Confio
Na lucidez perdida
Da Mente

Formas

Formas pairando sobre incautos sonhos
De pirilampos luzentes em manto azul
De tempestades, mares revoltos
Verdejantes campos
Brancas montanhas

Nos olhos da águia, do condor voando
Pelo Infinito belo, inatingível
Formas de pujante esperança e luz
No fundo do desconhecido mergulhando
Entre regressares e partires

Na leveza da miragem em áridos desertos
Buscando, sequiosas, a água dos deuses
Da vida eterna, do manã ansiado
Em pinceladas de musicalidades coloridas
Sentidas na efemeridade dos sonhos

Formas deslizantes, resvalando de mansinho
Mirando, incrédulas, a luminosidade
De trajectos, rotas, caminhos, mas tentam
Um voo nas inseguras asas pela brisa
Leve, macia, com doçura e carinho
Esquecimento do tempo, da realidade
Dura e crua, sorvendo ávidas a vida

Formas em acordes nostálgicos
Descrentes da fria análise existente
Acordam! Regressam do encanto do planar
O retorno à custosa existência!…
Admiram a luz esplendorosa lá longe
Orientando timidamente seus passos
E sorrindo…

sexta-feira, novembro 05, 2004

Poema de Hilda Hilst

Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.

Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.

Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.

Porque assim é preciso
Para que tu vivas.

quinta-feira, novembro 04, 2004

O Indigente

(Badeado num caso real)

A rotina diária já fazia parte da sua vida há longos anos.
Seu passado, ninguém conhecia.
Veio de não sei onde, percorria a cidade a pé, fizesse chuva ou sol, em dias de tempestade ou estiais.
Seu ligeiro coxear, de olhar bondoso mas triste, chamava a atenção das gentes que com ele se cruzavam.
Meias e sapatos velhos, semi-desfeitos pelo calcorrear de ruas e vielas, roupas puídas, descoloradas pelo tempo, remendadas, de velho e deformado chapéu na cabeça, lá ia o pobre homem, coxeando, andar certo e vagaroso pelo peso da idade.
No meio da sua pobreza, um brio se notava na sua gasta e escassa roupa, sempre limpa.
Irradiando simpatia, educação e bondade, tinha seus lugares certos, durante anos a fio, onde o encontrávamos: nas soleiras das portas comendo uma malguita de sopa, um pão, uma peça de fruta tocada, que as almas caridosas lhe davam.
Humildemente dizia já ter tido posses, ter vivido bem, mas os azares da vida o tinham levado àquela situação.
Quando lhe perguntavam se não tinha filhos ou algum familiar que o socorresse, respondia de feição triste: Ninguém! Já todos se foram!...
Metia dó!
As donas de casa, onde mendigava, condoíam-se da pobre criatura.
Até que um dia, estando ele a saborear uma sopita caridosa num canto duma escada, chega uma peixeira, de cabaz à cabeça, dá-lhe uma fugaz mirada e diz à dona da casa:
- Não sei quanto dinheiro a senhora tem!, mas aquele homem, ali sentado, tem muito mais que a senhora!

quarta-feira, novembro 03, 2004

Rir

Rir do ontem, do talvez
Rir por tudo e do nada
Rir em sonhos acordada
Daquilo que não se fez

Rir na noite e de dia
Rir do antes no depois
Rir de tudo que não via
Vogando em ilusões

Rir do directo indirecto
Rir de palavras traídas
Rir das névoas trazidas
Quando tudo era incerto

Rir em belos sóis azuis
Rir em marés encontrada
Rir de ahs, ohs e uis
De poética encapotada

Rir de sábios perderes
Rir do certo imprevisto
Rir daquilo que eu visto
Em crus e parcos haveres

Rir da dúvida na certeza
Rir do claro obscuro
Rir com toda a firmeza
Respiro, vivo, perduro

Rir da dor na alegria
Assim me vou, já é dia!..

segunda-feira, novembro 01, 2004

Trilhos

Quero
Seguir meus caminhos entre raiares de Luz
Quero
Sentir a esperança nos corações oprimidos
Quero
Libertar as Almas de torturas infindas
Quero, sempre, mais, muito mais...

Desejo
O regresso da Paz às Mentes humanas
Desejo
A alegria dum anoitecer em Azul
Desejo
Que a água revolta dos mares em lago se tranforme
Desejo, oh, como eu desejo!...

Penso
Tornar amarguras em sonhos voantes
Penso
Percorrer rudes trilhos com paz e amor
Penso
Na dádiva dum sorriso, antes temor
Penso, e como penso!...

Anseio
Ver a perfeição no esplendor do Infinito
Anseio
Que as pérolas caídas num sorrir se transformem
Anseio
A luminosidade do Sol nas mentes dispersas
Sim, como anseio!...

Tentarei
Que caminhos obscuros, densos, se dispersem no éter
Tentarei
Que aves mutiladas voltem a voar
Tentarei
Que o Azul, a Luz, o Sol, o Templo
Voltem de novo, e sempre, a brilhar

sexta-feira, outubro 29, 2004

A Metáfora do Dia

Metáfora do dia:

Portugal é um pacote de arroz com bagos desiguais.

Um quinto da população come baguinhos, a classe
média come bagos e depois há uma pequena minoria
que são «Os amigos do Bagão».

(Texto enviado por um amigo de Lisboa)

terça-feira, outubro 26, 2004

Amor - Camões vs Drummond

Luís de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É o não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


"As sem-razões do Amor"
Carlos Drummond de Andrade


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado ao vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

domingo, outubro 24, 2004

CORES

A ansiedade veste de bege
A paixão vem de carmim
O desejo de escarlate
Atracção lê-se em marfim
A desilusão é cinzenta
De tons negros a angústia
O desespero amarelo
Castanha a melancolia
No verde brilha a esperança
O roxo mostra tristeza
O bordeaux certa inconstância
Há vivacidade no laranja
O amor azul só usa
A paz em branco caminha
O sorriso é côr-de-rosa
D' ouro e prata a alegria

Púrpura, turqueza, cobalto...
Miscelâneas de sentires
Musicalidades percorrem
Na sinfonia da vida
Vivida
A viver
Na pauta
Inacabada



quarta-feira, outubro 20, 2004

O Pedido

Num dia de tempestade, o Sol, timidamente, disse às Núvens: "Por favor, deixem-me espreitar! Gosto tanto de ver os verdejantes campos, as flores coloridas, o mar!... Levar um pouco de luz àquelas almas que deambulam ao sabor do impiedoso vento que tudo arrasta à sua frente, sem dó nem piedade!..."

E o Vento afastou as núvens para que o Sol pudesse espreitar e aquecer com os seus raios as deliciosas criaturas que corriam atrás do seu chapéu, cá por baixo.

O Sol esboçou um sorriso e, com ele, a claridade regressou plena às almas que deambulavam sem norte.

O Mar amainou a sua revolta contra o mundo cruel que tão mal o tratava.
O Vento soprou em brisa ténue e refrescante.
As Núvens coloriram o seu cinza carregado num branco brilhante pelos raios de sol que iluminaram os cabelos molhados que esvoaçavam ao vento.

As ruas espelhadas, em lencóis macios e sedosos se tornaram, convidando a mergulhos por entre os pequenos lagos instalados, como que a desafiar os transeuntes mais incautos.

As pessoas, encolhidas nas suas roupagens grossas e desconfortáveis, saltitavam por entre os lagos, como se tentassem escapar aos pingos de chuva que os iam alimentando, provocados pelo mau tempo.

Mas seguiam, de peito firme, desafiando as Núvens, tendo, por breves momentos, o Sol como seu aliado e o Vento como bom amigo que lhes iam lembrando que, afinal, nem mesmo o mau tempo as pode amedrontar, desde que possam, sempre, olhar para ele com um sorriso.

(Texto feito em parceria com o meu Amigo António)

O Preço da Liberdade

> O Preço da Liberdade
> Por MIGUEL SOUSA TAVARES
> Sexta-feira, 08 de Outubro de 2004
>
> Há várias maneiras de classificar as pessoas. Um amigo meu costuma
> classificá-las entre as que são importantes e as que o não são - sendo
> que importante, aqui, significa apenas, e é muito, aquilo que merece a
> nossa importância, a nossa atenção, e o que o não merece: parece-me,
> todavia, um critério curto. Uma amiga minha gosta de as classificar,
> simplesmente, entre boas e más pessoas
> - bons e maus caracteres: parece-me um critério que faz sentido, mas
> que abrange apenas o domínio das relações pessoais. Mas, se
> pretendemos classificar as pessoas pelo critério da cidadania, a
> classificação que sempre tive como fundamental é a que distingue os
> homens livres dos capachos.
>
> O grande mal português é que temos, verdadeiramente, poucos homens
> livres. Pouca gente, poucos cidadãos, que estejam dispostos a viver a
> sua vida, a construir o seu caminho, sem terem de prestar vassalagem a
> várias formas de poder. Os arquitectos não são livres, porque dependem
> dos interesses económicos do dono da obra. Os médicos não são livres,
> porque, regra geral, querem ser simultaneamente profissionais liberais
> e assalariados do Estado. Os advogados de sucesso não são livres,
> porque dependem da consultadoria dos governos e do tráfico de
> influências entre os negócios, o poder e o patrocínio. Os empresários
> não são livres, porque dependem dos subsídios, das isenções fiscais e
> da atenção do governo nos concursos públicos. Os intelectuais não são
> livres, porque estão quase sempre dependentes de empregos, bolsas ou
> subsídios públicos, os quais acabam inevitavelmente por pagar com
> simples fretes de propaganda partidária. Os jornalistas, quase todos,
> não são livres, porque dependem do pequeno chefe, o qual reporta ao
> editor principal, o qual deve satisfações ao proprietário, o qual tem
> de prestar atenção aos humores e sensibilidades do poder da hora.
>
> Portugal não é, nunca foi, um país de homens livres, de homens
> verdadeiramente amantes da liberdade, para quem a liberdade seja tão
> importante como poder respirar. A grande e púdica mentira em que temos
> vivido nos últimos trinta anos é a de ter acreditado, ou fingido
> acreditar, que no dia 26 de Abril de 1974 éramos todos pela liberdade.
> Desgraçadamente, nesse longínquo dia, não era "a poesia que estava na
> rua", mas sim a hipocrisia. A liberdade não se encontra ao virar da
> esquina - conquista-se, merece-se e alcança-se, por si próprio e
> individualmente, com riscos e com perdas, e não a coberto da protecção
> fácil das multidões ou das leis.
>
> Não há lei que possa declarar um homem livre, se ele próprio não está
> disposto a bater-se pela liberdade que lhe deram e a pagar o preço que
> ela exige - sempre.
>
> Pagamos, e temos pago, bem caro o preço inverso: o preço de não sermos
> e nunca havermos sido uma nação de cidadãos amantes da liberdade - não
> a de cada um, individualmente, mas a de todos. O preço de termos
> empresários que vivem do favor do Estado, sindicatos que vivem do
> abrigo partidário, intelectuais que vivem das migalhas do orçamento da
> cultura. O preço de sermos dependentes, tementes e subservientes. As
> nações de homens livres prosperam; as nações de gente subserviente
> definham: cada vez estamos mais próximos do México ou da Madeira e
> cada vez mais distantes da Espanha ou da Inglaterra. Temos, exacta e
> friamente, aquilo que merecemos.
>
> Por ora, não vou perder-me nos sórdidos detalhes desta semana
> portuguesa, em que de repente foi como se toda a podridão escondida
> tivesse vindo à superfície. Vi vermes rastejando em directo
> televisivo, vi o medo, a subserviência, o preço, estampado na cara de
> gente porventura boa, ouvi razões e argumentos de estarrecer, conheci
> factos e circunstâncias que nem nos meus mais negros momentos de
> descrença julguei serem possíveis nesta desilusão a que chamamos
> Portugal. Por ora, contenho-me, porque o nojo e a revolta são ainda
> tão presentes que ofuscam a lucidez e a serenidade que certas coisas
> exigem absolutamente. Mas quem me lê sabe que apenas preciso de tempo
> e de recuo - como quem recua perante um quadro para melhor o ver.
>
> Aliás, impõe-se a distância necessária para tentar entender que país é
> este, que cidadãos são estes e o que verdadeiramente os preocupa: a
> vaca a ser mungida na Quinta das Celebridades ou o Governo a ser
> mungido na Quinta dos Influentes?
>
> 2. Há dois anos atrás, ingenuamente, aceitei fazer parte de uma
> comissão nomeada pelo anterior Governo e cuja missão principal era
> definir como deveria funcionar a televisão pública, com que meios e
> financiamentos e a que regras deveria obedecer. Como eu, várias outras
> pessoas, que nada quiseram nem receberam em troca, sacrificaram muito
> dos seus tempos úteis e livres, para, dentro do prazo fixado, dotar o
> Governo do resultado de uma reflexão, em forma de propostas concretas,
> que reunia o maior consenso possível entre gente de diversas
> proveniências e ideias. Recebido o trabalho e fingindo-se escudado nas
> conclusões da sua "comissão independente", o ministro Morais Sarmento
> meteu as conclusões ao bolso e, até hoje, nem um obrigado nos disse.
>
> Entre as conclusões que ele fez desaparecer instantaneamente na
> atmosfera, estava uma que recomendava que as regras editoriais e
> deontológicas estabelecidas para o funcionamento da televisão pública
> tivessem, obviamente, extensão a todo o território nacional, incluindo
> Açores e Madeira.
> Porque, tanto quanto era do nosso conhecimento, nas regiões autónomas
> vigora a mesma Constituição, o mesmo regime democrático e o mesmo
> Estado.
>
> Porém, a solução adoptada para a Madeira foi exactamente a oposta e
> que veio ao encontro das antigas e persistentes exigências do soba
> local: a RTP-Madeira foi dada de bandeja ao dr. Jardim, aí vigorando,
> como no resto da vida pública local, uma concepção de liberdade de
> informação que se confunde com aquela em que o dr. Jardim aprendeu a
> fazer jornalismo, no tempo do partido único, da censura e da ditadura.
> E a coisa seguiu assim, sem escândalo de maior. Esta semana, porém, a
> sem-vergonha do regime madeirense chegou ao extremo de o PSD-Madeira
> (um eufemismo do dr. Jardim) protestar oficialmente pelo facto de a
> RTP nacional ter enviado equipas de reportagem à Madeira para cobrirem
> (para o continente, exclusivamente) as eleições locais - o que,
> segundo eles, constitui um "insulto à alta capacidade dos
> profissionais da RTP-Madeira". E mais, indignaram-se eles com o facto
> de os jornalistas idos de Lisboa "se terem instalado num hotel", a
> partir do qual "transmitem para Lisboa aquilo que em segredo montam,
> com máquinas que trouxeram e aí colocaram". Por mais que puxe pela
> memória, só consigo lembrar-me de coisa semelhante comigo ocorrida na
> antiga Roménia de Ceausescu. O PSD-Madeira é hoje o único regime em
> toda a Europa que considera um insulto e uma ameaça a presença de
> jornalistas "estrangeiros" a reportarem para fora como funciona o seu
> regime.
>
> Será isto, pergunto, "o regular funcionamento das instituições
> democráticas", tão caro ao Presidente da República? Ou a excepção
> democrática madeirense já está definitivamente assumida como coisa
> banal e inevitável?

Nota: Artigo que me foi enviado por mail por In_Loko em 19 do corrente

sexta-feira, outubro 15, 2004

Alerta (importante ler)

Pensar Enlouquece. Pense Nisso.

Blog (mais ou menos) pessoal de Alexandre Inagaki. Baseado em fatos surreais. Aprecie sem moderação. No ar desde agosto de 2002. Servimos bem para servir sempre. Nenhum animal foi maltratado durante a produção dos posts deste blog. Sorria, você não está sendo filmado. Ao persistirem os sintomas, consulte o médico.
« É pra rir ou pra chorar? |Main| A votação dos coadjuvantes »

setembro 30, 2004
Aberta a temporada de caça aos blogs
Já escrevi, em ocasiões passadas, sobre as ameaças de processo judicial feitas a blogueiros como Alessandra Félix, Edney Souza e Cristiano Dias. Esses imbróglios foram os primeiros indícios de que a visibilidade crescente dos blogs e a liberdade de expressão exercida por quem os escreve começavam a incomodar.

Pois bem, agora é oficial: surgiu o primeiro caso de um blog brasileiro retirado do ar por conta de um processo judicial. O caso, inédito no país, limou da Web o blog coletivo Imprensa Marrom (disponível para visitação apenas no cache do Google). O aspecto mais surreal desse imbróglio é que a ação foi motivada por um... comentário. O autor do processo (dono de uma empresa de recolocação profissional) sentiu-se ofendido por um comentário deixado no blog, entrou com uma liminar na justiça e o Imprensa Marrom saiu do ar.

O precedente é perigossímo. Em um país que teoricamente defende a liberdade de expressão, ver um site fora do ar por causa de um comentário que sequer foi redigido por seus autores é algo de kafkiano. Fernando Gouveia, que escreve na Internet com o pseudônimo Gravataí Merengue e é o responsável pelo registro do domínio imprensamarrom.com.br, não esconde a angústia com o caso e alerta, sem esconder sua ironia: "muito cuidado com os comments que vão ao ar. Apaguem tudo que pareça minimamente ofensivo, pois alguém pode optar por, em vez de pedir a retirada do comentário, simplesmente processar o blog".

O aspecto mais aterrador de todo esse caso é constatar que mergulhamos, oficialmente, no território das incertezas. A partir desse precedente, sou obrigado a fazer alguns questionamentos sobre a natureza de meu blog. Até que ponto posso emitir as minhas opiniões sem que algum melindrado ameace tirá-lo do ar por algum critério subjetivo? Chegará o tempo em que necessitaremos de consultoria jurídica prévia para a publicação de um post? Vale a pena permitir a publicação de comentários, ou será mais prudente limitar a interação do meu blog? Devo me limitar a escrever sobre o cardápio do meu café da manhã e as cólicas do meu cachorrinho?

Com a palavra, Fernando Gouveia:

"Esta é a PRIMEIRA AÇÃO JUDICIAL promovida contra um blog por causa de comentário. Vamos criar jurisprudência. Essa causa, desculpe o pieguismo, é 'de todos nós'. Não podemos deixar que 'o outro' ganhe essa ação, porque aí vai ser uma festa contra todos nós. Qualquer assuntinho mais polêmico pode ser alvo de uma medida assim, e os blogs definitivamente se condenam a ser um diarinho bundamole que versa sobre o umbigo do dono (e cuidado para que o umbigo - ou uma aliança do mesmo com o resto do abdômen - não processe o autor)".

Escrito por Alexandre Inagaki em setembro 30, 2004 08:40 PM

AMIGOS: Este artigo foi retirado dum link do //jornaldoblogueiro.blogger.com.br
de 12 de Outubro do corrente ano
intilulado "A volta do blog Imprensa Marrom"
Não deixem de lá ir e ler.
A todos interessa.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Ela

Saiu! Seu passo certo, programado,
sem pressa na aparência.
De olhar distante, vendo sem nada ver
os pequenos grandes nadas que a rodeiam
Segue trajectos calculados, meditados
minutos antes delineados

De cadência suave, altiva de nada,
cabelos ao vento, tez natural,
na sua simplicidade muito própria.
Ninguém encontra, ninguém vê.

Traída pelo olhar sereno, expressivo
de curiosidades, de procuras,
as gentes olham, seguem, se reviram
quando ela passa distraída

Os passarinhos, os melros, as rolas bravas
com seus cantares e chilreios
esvoaçam perto dizendo "Bom dia"
E ela, ao vê-los, sorri
pensando "Natureza maravilhosa!"

Sem nada procurar nem esperar
da vida, certa da rota a seguir,
caminha como se em sonhos navegasse

Interioridades musicais, coloridas
de marulhentos mares, brisas
e luares estrelados, pacificantes,
perseguem seus gestos e postura.
Que esperar da vida se a vida a espera?!

E lá vai ela, que tudo e nada vê,
cadenciada pelo seu mundo.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Deambulações

Ah! Como gostaria de ver a Luz!
Sentidos trementes, comovidos
Sensibilizados por palavras belas
Em água, em mar me tornei

Deslizei, percorri caminhos, voei
Inconsciente, de mim saí
Involuntária, a Voz segui
Que ao longe aqui morava...

Entre regressos e partidas
O tempo foi passando, não notei
Em sonambulismos pela casa andei
Numa amálgama de pensares difusos
Procurando a Luz que não via
Mas que estava lá, sim, eu sentia

A mente voltou forte, analítica
Ordenando a miscelânea de sentires
E entre revirares e leituras
Entre meditações e preces
No rodeante silêncio calmo
Adormeci em paz, sorrindo...

domingo, outubro 10, 2004

A Menina dos Caracóis

Correndo como louca, lá vai a menina dos caracóis, descendo a calçada.

Cabelos rebeldes, saltitantes, vestido de chita curto, colorido, esvoaçando na cadência do movimento apressado.
Descalça, chinelas na mão, saco noutra, de pés calejados por um hábito de vida, imunes aos escolhos da viela, ela não corre... voa!
De cara gaiata, olhos vivos, brilhantes, que tudo e mais querem ver.

Passa, entre as gentes que com ela se cruzam, gentes de andar pesado, custoso, cansado, de ar sisudo pelo peso da existência árdua que sempre conheceram, qual turvelinho, sem as tocar, sequer roçar.

Alguém, numa esplanada improvisada de duas mesas à porta dum tasco, a chama, pergunta porque corre, mas ela não ouve... Ela, que tudo escuta, que nada lhe escapa, na sua sensibilidade de criança ainda.

Caracóis rebeldes, faces rosadas, em desalinho, de olhos luzindo como dois faróis, de sorriso aberto de felicidade, irrompe casa dentro, ofegante da correria:
"Mãe! Olha o que a senhora da casa grande me deu!"
E abre o saco.
Dele sai um fato de banho, já usado, e uma velha boneca de trapos que abraça carinhosamente.
"Mãe! Posso ir até ao rio? Posso?... Posso?..."

sábado, outubro 09, 2004

Caminhos

Percorro caminhos distantes onde a esperança reside.
Longe...Lá! Tão longe...

Deixo-me envolver pelos sons de Grieg e do seu Peer Gynt, e danço em pontas, envolta em tules, luzes brancas, cores multifacetadas... e voo qual floco de neve levado pelo vento frio do norte.

Isolada, no meu canto, na sonoridade que me trespassa corpo e alma, em gradações sonoras, metálicas, de trompetes e pratos que gritam "Acorda!"

A chuva cai. Densa, pesada, em transparências invisíveis.
Fico olhando o vazio numa busca desesperada e inconstante, de quê?
Do nada! Porque nada sempre é algo. O que quizermos que seja, será!

Por momentos vagueei, percorri caminhos de ti, trilhos da tua vida. Abracei ilusões, desilusões, expectativas, cansaços, ambições, desejos.
Assim sou. Mas já não chove, o vento amainou, só o frio se mantem na noite.
Amanhã será novo dia.
A Luz trará um novo sorriso.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Musicalidades...???

Sussurros me posuem pela noite dentro.
Deslizantes no espaço semi-obscurecido que me rodeia, e que busco entontecida, ignorando o espaço e o tempo.

O desconhecido, nunca sentido, algures olvidado nos recônditos duma memória nunca intensamente clarividente, (des)conhecidos jamais pronunciados, quem sabe se em densas ilusões pensados...

A noite!... Irreverente, despudurada, perdida no éter de fluidos sonhados em musicalidades Wagnerianas... entre a Tocata e Fuga em Ré Menor de Bach, vagueia em mescladas luminosidades... a suavidade, a doçura harmónica dos azuis neutros, difusos, dos radiosos brancos de brilhos em ondulações de mares e murmúrios, para mim, só para mim, dum Debussy e o seu Claire de Lune...

E me perco! Me acho! Sem nada ver, só sentires em sonhos sonhados...
E vejo! Mas a cegueira é minha madre, que caminha sem guia, sem norte...
E sinto... sem sentires! Onde a ilusão impera!

Oh noite! Pérfida e inclemente, que com teus tentáculos me abraças, me levas para além dos sonhos!
Em palavras (in)distintas me perco! Que ouço, que não ouço, mas que me transmutam,
em perdições de eus...

Ao longe, ouço Jean-Michel Jarre no seu concerto na China...
A realidade chama por mim...
Sonhei?!? Divaguei?!?
Ainda não sei...

quinta-feira, setembro 30, 2004

Confidencial

Caros amigos,

Isto é confidencial...

Estes dados foram-me fornecidos pelo primo de um amigo meu, cujo pai
trabalha com a irmã da cunhada mais nova de um agente, que mora ao
lado de um coronel reformado. A filha deste pensionista namora com o
filho mais velho do sapateiro que engraxa as botas dos militares.


A Brigada de Trânsito acabou de adquirir 34 novas viaturas de
intercepção e controlo.

São meia-dúzia de Fiat 127... a debitar cerca de 185 cv,costumam andar
na A1 entre Condeixa e a recta de Pegões.

Atenção!

Estes carros são conduzidos por mulheres austríacas, vestidas à
vianense e levam a bordo 3 crianças. Para detectar os infractores
estão equipadas com um radar rotativo no tejadilho. Como disfarce
levam um autocolante da Milupa onde se pode ler "Bebé a bordo"

Fazem também parte da frota 24 Talbot Samba 1.1 (com 215 cv!)que
circulam em fila indiana pelo IP5. Estes carros são conduzidos por
antigos maquinistas da CP. A sirene está escondida por baixo de um
mocho de plástico no tejadilho.

Na Nacional 125, desde o final do mês passado, circulam dois Renault
12 beges, com condutores octogenários vestidos à sevilhana. Estes
carros levam montada uma câmara de estúdio no tejadilho e sempre que
alguém ultrapassa os limites o condutor dá indicações ao operador de
câmara para começar a filmar. Em simultâneo é feita uma ligação via
telemóvel para o segundo carro que prontamente acompanha o
transgressor.
Assim que estiverem lado a lado, o condutor do segundo carro liga de
volta para o carro com a câmara dando-lhe a leitura exacta da
velocidade. Convém salientar que debaixo do capô deste Renault 12
estão mais de 245 cv... a centralina destas máquinas foi reprogramada
em Luanda!

As restantes duas viaturas são Toyota Dyna 2.5D, de caixa aberta, e
usam como disfarce 1500 kg de sacos de cimento. Na cabina vão três
lutadores de sumo, dois dos quais comandam um sofisticado radar. A
câmara é comandada pelo condutor que também está encarregue de todas
as comunicações com a central. Estas Toyotas estão preparadas com um
kit TTE e já foram vistas na serra da Estrela, a subir de Sabugueiro
para a Torre, atrás de um 2CV a 196 km/h.

PS: Um vizinho do meu primo teve que vender o Punto GT para pagar a multa...
Eles não perdoam!

Anónimo


Nota: Este mail foi-me enviado pelo Pedro, do blog Azelhas do Mar
Obrigada meu Amigo

terça-feira, setembro 28, 2004

O Catavento

Gira, gira o catavento
Não sabe onde vai parar.

Tudo foi precoce na vivência passada
A sua concha, o seu intenso mundo interior
Sonhos vividos na sua plenitude. Em sonho...
A calma, o saber ouvir, a sua existência diária

Gira, gira o catavento
Não sabe onde vai parar

Sorriso bom, alegria moderada, franca
Pronta para ajudar, sugerindo
Leitora fácil, ávida de conhecimento
A música vivia no seu interior
Seu Templo, sua Igreja, sozinha
Lugar de reforço da paz sentida
Memórias belas de momentos suaves

Gira, gira o catavento
Não sei onde vai parar

Tempos de produzir, cedo chegaram
Recordações com luz, com alegria
O querer saber mais, a valorização pessoal
Num repente tudo voa, tudo muda
Encontros, desencontros, ilusões desfeitas
Gastas, incontornáveis, inexplicáveis
Restou o seu refúgio interior, intocável

Gira, gira o catavento
Não sei onde vai parar

Anos a fio mirou o reverso do espelho
Mas... o trabalho fora protela acções
Olvida, ultrapassa... e os meninos?...
Doçura dos seus olhos, encantos de si...
Até que um dia... Há sempre um dia!
Na monotomia diária do isolamento votado
Viu para além do espelho... Acordou!
Acordou de e para si mesma
Analisou, meditou, ponderou e agiu
A reviravolta deu-se. Tarde, muito tarde!...

E o catavento gira, gira
Onde irá ele parar?
Será Norte? Será Sul?
A tempestade vai passar
O vento vai amainar
Os sonhos, a esperança, o sorriso, a paz
Vão voltar!


Talmud

Talmud é um livro onde se encontram condensados todos os depoimentos, ditados e
frases pronunciadas pelos Rabinos através dos tempos.

Tem um que termina dizendo o seguinte:

"Cuida-te quando fazes chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas.

A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da

cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual....debaixo do braço

para ser protegida e do lado do coração para ser amada".

domingo, setembro 26, 2004

Poética

Entre palavras sentidas e letras perdidas
perco-me...
Leio, olho, procuro, medito, interdito
não acho...
Corro, percorro, vagueio, devasso
obscureço...
Rebusco, escuto, invado, qual intrusso
escuso...
Por entrelinhas, em caminhares difusos
entonteço...
Não vejo, não desisti, vou em frente
Palavras...
Letras...
Alguém entende?...

quarta-feira, setembro 22, 2004

Batas Brancas

Batas brancas que circulam, se cruzam atarefadas ou lentas.
Semblantes tensos, sisudos, pensativos, trocam opiniões e analisam situações.
As macas entram correndo com doentes gemendo com semblantes de dor, enquanto outras saem leves e vazias do sofrimento deixado.
Pessoas com problemas aguardam sua vez de chamada, enquanto parentes ou amigos procedem às inscrições.
Os pacientes mais faladores contam suas maleitas, seus infortúnios, para tentar minorar o sofrimento real ou a solidão em que vivem.
É um corre corre em corredores de tons brancos, lisos, impessoais, mostrando que ali, na dor, todos somos iguais.
Um enfermeiro passa "Conheço-a de algum lado!", "É natural, talvez daqui!", "Sabe, tenho uma vizinha muito parecida consigo...". Conversa interrompida por um chamamento do lado. Um sorriso que se foi...
Não há tempo.
A resolução de problemas impera.
Lá fora, umas dezenas esperam a sua vez de ser ouvidas pelas batas brancas.

quinta-feira, setembro 16, 2004

Carta a um Amigo

Estas letras são para ti, meu querido e especial amigo (que não conheço).
As saudades sentidas (sei lá!...) apertam dia a dia com a tua ausência (estarás perto?).
Partiste (ou ficaste...) para terras longínquas (ou não) em busca da fortuna (ou da aventura) e duma melhoria de vida (liberdade?!).
Dos teus rastos (peugadas) ficaram as lembranças (souvenirs) dos caminhos partilhados (sozinho) nos passeios pelos bosques, pelo mar.
Tornaste-te o companheiro ideal (na solidão) para enfrentar as agruras da vida (ou não) e acompanhar a Dita (infelicidade) que programámos os dois (só tu).
O teu sorriso e alegria (em lágrimas) sempre presente, preenche os espaços vazios (nem tanto!) desta existência que vagueia ao sabor da maré (alta ou baixa) pela tua presença.
Tudo em ti resplandescia (era obscuro): os teus olhos, os teus gestos, a tua postura (que desconheço).
A tua verbalidade (mudez) fluente, plena de conhecimentos sábios (1+1=2), de cultura (dos legumes), enlevavam-me em miríades de cores (anácromas).
Em sonhos vias-me (a mim?!) dizias, para me colocares um ar feliz no meu rosto.
Os sonhos (pesadelos) comigo, transportávam-nos a lugares distantes (à cidade ao lado), com exóticos manjares (sopa?) e entardeceres das mil e uma noites (passou-se!...).
As viagens que fizemos (não existiram) tornaram-se memórias indescritíveis.
Meu querido e especial amigo (desconhecido), tudo isto não passa de lembranças (pequenas ofertas) de um passado sempre presente (inexistente) que nunca esquecerei.
Anseio o teu regresso (partida) como uma flor que espera a mão delicada que a irá colher (credo!...).
Manda notícias tuas (para quê, se não existes?!) logo que possas.
A sempre (jamais!) tua especial amiga (quem será?) que nunca te esquecerá (é já!...),

fk gtre unçoierynnb

terça-feira, setembro 14, 2004

Os dias que correm...

A máquina ocupou o lugar dos seres pensantes.
A ciência, destinada ao bem da humanidade, esqueceu seu lugar, ultrapassou barreiras, procurou a fama.
A evolução tecnológica invadiu as mentes e ocupou lugar privilegiado, relegando para segundo plano outros valores dum quotidiano mais calmo, mais pacífico.
A violência oral e física apoderou-se do aconchego dos lares e, diariamente, nos mostra a sua face horrenda, disforme.
Entra-nos pelas casas, sem permissão, invadindo tudo e todos, nas suas mais diversas formas, trazida por máquinas e pessoas menos escrupulosas, sensionalistas.
A noção de respeito, adulterou-se.
O amor pelo próximo espelha-se em fachadas fúteis, em benemerências colonáveis.
A privacidade tornou-se palco de peças teatrais de mau gosto e interpretação falsa.
Para a fama tudo vale.
Pisam-se nobres sentimentos, conceitos antes enraízados.
A ambição do poder ultrapassa tudo e todos.
É o estar sem estar. O ser sem ser.
Agir, cansa! Porque não ter tudo feito?
Pensar?! Desperdício inútil, que se ganha?
Falar?! Já há palavras chave, repetidas e repetitivas.
O diálogo é o umbigo de cada um.
O amor, esse, existe verbalmente, mas há muito que se chama desamor.
Mas haja esperança!
Não dizem que é a última a morrer?!...
Pois é! A vida continua.

sábado, setembro 11, 2004

Alerta "IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMOVEIS" IMI

A quem interessar:

ALERTA “IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMÓVEIS”

REPASSE sem parar

(Informação de Interesse Público, só para PORTUGAL)




Relativamente ao IMI (IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMÓVEIS), chama-se a atenção que nas Cadernetas Prediais consta geralmente a área do Prédio na sua totalidade (Superfície Coberta) e o Fisco na sua nova avaliação e segundo SIMULAÇÃO disponível na Internet através do site abaixo, prevê o cálculo do novo Valor Patrimonial do Imóvel, baseado também na área da Prédio.


No caso de prédio urbano em Propriedade horizontal, dividido em fracções se a área não for a correspondente à fracção o contribuinte pagará o IMI sobre a área total do prédio, que é a que normalmente consta nas Cadernetas Prediais, e não sobre a área da fracção que seria correcto.


Exemplo:

Se o prédio tiver por andar 2 fracções, a Caderneta tem averbado a área do andar todo. O imposto a pagar será o dobro do devido, pois a área é a Global, quando deverá ser só a área de cada fracção.


Há que verificar e/ou rectificar a área das fracções, através da Escritura de Constituição

da Propriedade Horizontal junto das Conservatórias respectivas.




http://www.e-financas.gov.pt/de/mainDgci.html

Do lado Direito em NOTÍCIAS

Escolhe NOVIDADES, em seguida clica-se em ZONAMENTO


(Este serviço foi criado para consulta dos seguintes coeficientes de avaliação de prédios urbanos previstos no Código do IMI e aprovados pela Portaria n.º 982/2004, de 4 de Agosto, da Ministra das Finanças)


REPASSE

(Informação obtida no blog //paparocadoce.weblog.com.pt em 9 do corrente)

sexta-feira, setembro 10, 2004

Manhã de Março em Sanxenxo

Acordei sobre uma das baías de Sanxenxo.
Que calmaria, que sossego, que paz!
Um mar calmo, sereno, com transparências de azul, onde nem o leve marulhar do desfazer ondulante do vai-vem da água na areia clara, nem o diálogo entre as gaivotas que, atrevidas, por vezes passavam sobre a minha cabeça, perturbava o silêncio que se sentia no ar.
Uma manhã solarenga, soprando um vento fresquinho do Norte.
Tudo era silêncio, levemente perturbado pelo tilintar do bater da corda no mastro, sem bandeira, dos nadadores-salvadores. Ainda não é época balnear!...
E as ilhas e os montes que rodeiam essa baía, com as casas penduradas sobre ela, os rochedos que parecem invadi-la, os barcos à vela que ao longe se vêem navegando, tudo faz parte desse contexto silencioso e instigador de calmaria.
Recostei-me numa cadeira a disfrutar esta maravilha e deliciando-me a pensar em coisa alguma.
Aparências!, porque se pensa sempre em algo, sempre há pensamentos vagos que vêm e vão, sem neles se meditar, sem termos interesse em desenvolvê-los, em aprofundá-los, em tomar decisões...
Bendita sensação de Paz!...
Começam, de onde a onde, a chegar passoas para as suas caminhadas na areia, à beira-mar, outras com os seus cães, outras correndo, brincando, fazendo exercício, enfim, aproveitando o sol da manhã.
Também elas procuram algo...
Algo diferente! ... Imagino eu...
Quem sabe!...

quarta-feira, setembro 08, 2004

Caminhos do Amanhã


Obrigada, Heloisa, pelo carinho, amizade e mensagem
que gentilmente me enviou e que tanscrevo a seguir:

CAMINHOS DO AMANHÃ

Que seu caminhar seja cheio de encantos,
para que possa fazer de seus sonhos,
algo real e palpável.
Que seu caminhar seja sem obstáculos,
para que possa seguir confiante,
em busca de seus ideais.
Que seu caminhar seja firme,
na vontade e capacidade de conquistar
o que busca.
E que em seu caminhar e também ,
em todos os momentos de sua vida
possa ter como companheira fiel,
a mais prodigiosa das conquistas.
A sua FELICIDADE !
Que você tenha um dia maravilhoso!!!
E tenha um um belo sorriso em seu rosto durante todo o dia,
para que aqueles que estão ao seu redor também possam sorrir...
Beijos no coraçao...

Caminhos do Amanhã

Agradeço à Heloísa o seu carinho, amizade e a mensagem
que gentilmente me enviou e que transcrevo a seguir:


CAMINHOS DO AMANHÃ

Que seu caminhar seja cheio de encantos,
para que possa fazer de seus sonhos,
algo real e palpável.
Que seu caminhar seja sem obstáculos,
para que possa seguir confiante,
em busca de seus ideais.
Que seu caminhar seja firme,
na vontade e capacidade de conquistar
o que busca.
E que em seu caminhar e também ,
em todos os momentos de sua vida
possa ter como companheira fiel,
a mais prodigiosa das conquistas.
A sua FELICIDADE !
Que você tenha um dia maravilhoso!!!
E tenha um um belo sorriso em seu rosto durante todo o dia,
para que aqueles que estão ao seu redor também possam sorrir...
Beijos no coraçao...

Obrigada, minha amiga!

terça-feira, setembro 07, 2004

Vertical

E spectros
S ibilantes
T ransmutam
O utros
U niversos


D efesas
O casionais
E speram o
N ascimento do
T empo e da
E sperança

segunda-feira, setembro 06, 2004

Saudades

Saudades da candura dos Tempos
Infância calma, serena, em harmonia
com tudo e todos
Introspectividade, palavra desconhecida,
vivida na sua plenitude dos tenros anos.

Alegria não esfuziante, de sorriso pronto
Curiosa do saber, ouvindo, lendo
Vivência musical de clássicos e poetas
trauteados, declamados por seu pai

De menina a moça, um passo
que de tão pequeno se mesclou no tempo
A grande cidade, desconhecida, ruidosa
O temor da invasão do seu mundo

O refúgio no Templo, nos livros, na música
Auto-defesa do temor de paz invadida
Os sonhos, transporte para mundos irreais
plenos de côr, felicidade, harmonia
na sua interioridade defendidos,muralhados

Saudades de tempos felizes
Saudades da acalmia reinante
Saudades boas que hoje me fazem sorrir.

domingo, setembro 05, 2004

O Horácio

Como manda a tradição, essa que se vai perdendo aos poucos, hoje seria permitido pregar mentiras a todos, sem qualquer distinção de classe ou raça, tema ou objectivo.
Pois é, meus amigos, não foi o que aconteceu ao Horácio!
O Horácio, com sua plumagem cinza irisada em tons de vermelho e laranja, após tantos anos a viver neste "nosso jardim à beira mar plantado", foi obrigado a ir para o estrangeiro, mal ele sabia que seria para sempre.
Mas lá foi ele, conformado, com a família!
Ele que já tão bem sabia falar o nosso português vernáculo, com o típico sotaque das terras de Braga!
Fez o caminho de Santiago, quem sabe se a cumprir qualquer promessa escondida nas suas penas, qual peregrino, e por lá ficou.
O Horácio sentia-se feliz porque estava com a família, mas, no seu íntimo, maldizia aquele clima chuvoso, húmido e frio a que não estava habituado. Tinha saudades do nosso sol!
Como era muito sociável, arranjou amigos mais coloridos e ruidosos que ele, cuja linguagem não entendia, mas lá se foi habituando aos seus chilreios barulhentos.
E assim se foi passando o tempo, os anos...
Até que um dia, não lhe sendo permitido deslocar-se com a família, foi passar férias a casa dum casal espanhol.
Depressa se habituou, o maroto, àquele ambiente diferente.
Era tratado com todas as mordomias, como se de uma pessoa da casa se tratasse, e por lá ficou, feliz com a sua nova vida.
Hoje é ver o Horácio a falar espanhol, a esvoaçar por toda a casa, sem corrente que o prenda ao poleiro.
Quando o novo dono chega do trabalho e vai ao tasquinho perto de casa beber o seu copito, lá vai o Horácio, pelo seu pé, estrada fora, a seguir o patrão.
A Felicidade por vezes vem ao nosso encontro; o que é preciso é saber agarrá-la.
(texto publicado por mim em 01.04.2004)

sábado, setembro 04, 2004

Sou...

Sou água cristalina que jorra da nascente do rio
Sou flor que desponta e beija os primeiros raios de sol
Sou sol que aquece e ilumina no alto dos céus
Sou vento que refresca e murmura histórias antigas

Sou rocha que aguenta as tormentas do mar
e onde as gaivotas poisam
Sou areia fina que desliza entre os dedos duma criança
Sou criança que brinca feliz na inocência dos puros

Sou árvore frondosa em cuja sombra acolhedora descansam os poetas
Sou livro sábio onde olhos se espraiam e sonham
Sou fogo ardente que aquece as almas em noites invernosas
Sou côr com que pintas os mais belos quadros da vida

Sou rubi, esmeralda, safira, ametista, diamante
Sou espelho que te reflecte a figura imaginada
Sou barco, navio, veleiro em que atravessas oceanos e mares
Sou estrela refulgente que brilha na noite, te indica o norte

Sou prado verdejante, colina amena, pico de montanha
Sou crisálida que virou borboleta dançando na aragem
Sou música que amacia, que adoça teus ouvidos, tua mente

Sou capela, igreja, santuário, templo
Sou prece, oração, caminhante, peregrino
Sou sorriso sereno, que traz calma, incute luz
Sou Tudo... Sou Nada...
Sou o EU.