terça-feira, dezembro 27, 2005

Relembro...










Olho… Relembro…
E bebo de um trago
O reluzir das colchas alvas
Imaculadas
Que lentamente o algodão tecia
Arabescos
Em escada

Cada hora, cada dia
Correndo a noite fechada

Voos de um berço de plumas
Silêncio
Ausência
Memória das colchas alvas
Imaculadas
De um ontem que hoje
É passado

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Boas Festas









Cristais
Pérolas de fogo
Reluzentes
Seda das flores
Carinhosas e ardentes
Em laços transformados
Iluminuras
Vitrais
A ternura dos sorrisos
Abraço constante
Nunca esquecido
Uma teia de pinturas
Transparências
Melodias doces
Luar, sol e mar
O saber despontado
Em luz e cor
São vocês todos
Meus amigos
Para quem escrevo
O profundo desejo
D’alegres Festividades
Um Novo Ano de sonhos
Realizados
Em cada amanhecer
Sereno
De Paz

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Três andamentos Quatro passos






















Cubro-te de espelhos
de pedrarias
que a hora silente do dia
de ti vê as horas frementes.

Embalo-te na melodia
dos tempos e contra-tempos
que deslizam
e em queda ficam
nos olhos da mente

É um olhar infinito
pelo balanço das horas
num sussurro de memórias

Três andamentos, quatro passos,
em recuos e avanços
somando débitos de um
entre as vagas
entre as fráguas
lugar distante
comum

E parto
no desafio constante
desse azul que se sabia
diligente, estável,
e de ternura brilhante
p’ra mais um dia
por entre as horas silentes
que se previam
dormentes


(pintura de Manccini)

Poema in "Transparência de Ser"

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Os dias da noite
















Adormeceu no regaço da noite
uma ave de amor, sal e água,
cansada nos voos do silêncio -
vozes que se apagaram -
e no Verão escaldante
ardiam lágrimas

Uma cítara suas penas brancas
cantava -
seguindo o Outono das letras
em azul papiro -
espalhando
pela estrada

Uma ave adormeceu os dias
das noites no sereno sorriso
que o seu cansado bico
espelhava


Poema in "Transparência de Ser"

quinta-feira, novembro 24, 2005

Cantatas Profanas

















Saem trompetes, tambores,
entoando as cantatas profanas
de Bach.
Pelas aldeias, cidades,
rejubila o povo
com a opulência do coro
que se faz

São estranhas, são dramáticas,
embrião que a ópera traz.
Manipulado
torturado
seus véus rasga, desfaz

E a melodia enche os passeios
com um interior novo
num brilho circular
cheio
exultante na Verdade

Uma luz serena, em cores,
entoa as cantatas profanas
de Bach


Poema in "Transparência de Ser"

segunda-feira, novembro 21, 2005

A Arte




Dizem que são meras máscaras
Falam de delírios poéticos
Na fantasia das letras
Murmúrios das telas dos olhos
De quem correndo olha e lê
Aquilo que se quer ver

Tudo é certo
Não contesto

Mas tanta, tanta é a vez
Que a brisa passando perto
Ou o vento em queda d’ água
Trazem mares desérticos
E ouvidos de palavras
Silêncios ocultos nos folhos
Das medas em desfolhada

Que a Arte no voar sentido
Espelha em cada pincelada
A voz que lhe fala
E não vê as areias
As algas qu’espalha
Pelos estreitos trilhos
Serenos, doces, do sorriso
Que a sua ternura abraça





(Aos meus Amigos que tanto prezo e amo sem distinção de sexo,
credo ou raça, e a todos os que por aqui passam, conhecidos ou
não, e que o seu carinho me deixam, peço desculpas pela ausência,
mas nem sempre o Tempo consente que directamente vos abrace.
Assim sendo, com toda a ternura vos desejo muita Luz, Paz, Amor
e serenidade)

quarta-feira, novembro 16, 2005

Pelo São Martinho




Chegavam pessoas aos pares e famílias inteiras, mais lentas ou
apressadas, crianças em correria, com o sorriso estampado
nas faces morenas, rosadas pelo frio que a noite enfeitava.

Do duro labor de cada dia, o pensamento cortava as asas ao
vento avistando o entusiasmo das gentes.

Junto ao adro da igreja, crepitava a fogueira no chão de terra
batida, lançando faúlhas no ar e línguas de fogo guloso que, com
seus bailados, tentavam afagar as estrelas seguindo a música em
compassos, que se ouvia.

Que lindo!… exclamava o povo.

Aspergiu-se água, não da benta que é pecado, por cima das
labaredas e nas brasas rubras, serenas, castanhas foram
lançadas já o vinho tinto corria de boca em boca, assim como os
nacos da boroa de milho que o padeiro cozera no forno vedado
com bosta fresca apanhada de manhãzinha.

Os mais afoitos, segurando as pontas da coragem que em jorros
de vaidade lhes surgiam no peito, saltavam a fogueira entre os
gritinhos das moçoilas e olhares de cumplicidade furtivos.

Pelos dedos singelos do povo, a noite corria sincera, despreocupada.

O Sôr Abade, distribuindo a palavra entre as gentes, sorvia, com
golinhos discretos, o sangue de Cristo que no sacrifício da missa
se oferecia.

E, sorridente, agradecia ao Firmamento por ver o seu
rebanho reunido nesta noite encantada trazida pelo São Martinho.

sexta-feira, novembro 11, 2005

O Segredo




Acordo na palavra que me espreita
E me sussurra baladas
É uma palavra redonda, cheia
Um segredo de amor e lâminas

M’ espreguiço entre o veludo das flores
Que minha cama encandeiam
E me agarro, deslizo, deleito
Nas gotas que o orvalho tece a palavra

Das lâminas folheio o calor emitido
Que vergo, desdobro em mil cores
Do segredo aninhado em meu seio
Canto em ondas melodias doces
Que pinto nos abraços do sorriso

terça-feira, novembro 08, 2005

Folhas de Outono





Nas folhas rubras do Outono
Contigo teço meu leito
E voo no sonho
Dos brilhos desnudos
Na voz do silêncio
Plano… revivo
Na missiva do correio
Em folhas amarelecidas
Aromas há não se apagam

Passa a hora passa o dia
Por este país doente
Romaria que o povo abraça.
Que fazer por quem não sente
Falas plenas de desgraça
E que incauto sorridente
Os braços pende e acata?

Mesclo tudo no cansaço
Vontade que se faz tarde
Se te espero te desejo
Âmago rubro meu peito
Outono desfeito
Folhas caídas
Muros de amor
Ternura
Saudade

quinta-feira, novembro 03, 2005

Tempo



Uns se encobrem de folhas secas
Outros abrem a escuridão do dia
Tudo acontece nos momentos
vestidos de fantasia

Assim se passa o tempo escasso
Dos rasgos esboço meu traço
nos farrapos omitidos
a que assisto

Sofro pelas dores alheias
tão inteiras de cinzas
que me morro
no meio delas

E se prevejo
cada passo, cada rasgo
nos ténues fios que sinto
me enrolo
em novelo me torno
e hiberno na caixa
do tempo sem tempo
deixando a porta aberta
do sorriso
para o amigo
que passa

sexta-feira, outubro 21, 2005

Tapete de Folhas







Sabes, ontem estive a rever memórias ou lembranças,
como as queiras chamar. Com espanto descobri que tudo
se vai guardando, desde pregos e parafusos até intensos
abraços de mar.
Fui levantando véus a paralelas, assimetrias simétricas,
aos doces cantos da alma. Vi passar flocos de estrelas,
pontes suspensas, verdades e inverdades camufladas
em letras.
Muita ternura deslizou entre as margens de orvalhos, nos
trilhos de barcos enfrentando tempestades, nas pradarias
verdejantes de luares.
Tanto, mas tanto foi destapado na melodia das vozes correndo
em colorações e brilhos, sempre presentes na serenidade
do sorriso.
Sabes, ontem, a poesia adormeceu o Outono
sobre um tapete de folhas doces…



Há uma estrada coberta de Outono
Um tapete de folhas esbatido
Recosto intemporal do poeta
Que segue a voz do silêncio
Serena... serenamente
Desfolhando sorrisos

domingo, outubro 16, 2005

Vagas de Zinco











Por vezes há vagas tempestuosas,
Revoltadas que nos entram
Pelas janelas duplicadas,
Muradas, em espuma
De zinco ardente


Surgem do nada, na corrente
Gelada, em misturas de vento.

Sempre me transtornaram as águas
Que sobem imagens sombrias
Personificadas de brisa
E me cravam silêncios
Partindo muros
Correntes

Nessas vezes aguardo serena
O renascer da clarividência
Das vagas que em espuma
De zinco quente
Transformaram noites e dias
Até que em brilho unam
Almas e mentes

sexta-feira, outubro 14, 2005

Mais...que mais.....









Não vens quando te espero
Tão pouco a sombra de ti
Me desce um desgosto infindo
Sobre os mares de carinho
Que previa e que não vi
(Mais p’ra ti que mais p’ra mim)

Sussurras ao meu ouvido
Como te adoro querida
Eu fico lerda, sem jeito
Me estremece no peito
O que devia e não fiz
(Mais p’ra mim que mais p’ra ti)

Quando meus olhos afagas
E me deslizas em letras
Nos sorrisos de ternura
Jorram palavras nuas
Qual cascata leve, amena
(Mais p’ra mim que mais p’ra ti)

Se de força eu te cubro
Na hora difícil do dia
Te enrolas nos meus braços
Seguras as pontas dos laços
Abrigo, porto seguro
No tempo do quem diria
(Mais p’ra ti que mais p’ra mim)

E neste empate técnico
Que o acaso teceu
A vida passa sem árbitro
E corre…corre…correu…

segunda-feira, outubro 10, 2005

Etéreo





Despi-me dentro peito

Neste sentir de mim

Vesti a mente a teu jeito

E as folhas de Outono caídas

Dançaram rubras na brisa

Qual beija-flor

Etéreo

Sem fim

sábado, outubro 08, 2005

As Gatas


















Pelo fim-de-semana
se passeiam as gatas
no meu quintal

Vejo-as sair, felpudas,
académicas, lãzudas,
todas tão diferentes,
no alvorecer de cada dia
que o fulgor dos anos trinta
em corpo habita
e consente

Como entraram? Não sei!
Talvez garridas, floridas,
inconscientes,
na calada da noite
permitida,
com suas patas de veludo
e garras que sabem tudo
por quem mais sabe e vive
urgente



Poema in "Transparência de Ser"

quinta-feira, outubro 06, 2005

Pelo Silêncio da Noite

Partirei pela noite silenciosa
Arrastando os passos cansados

As vozes que me retardam
Nos ecos dos penhascos
De todas o tudo amarei
Na gota de chuva ou orvalho
No despertar de cada estação
Pujante, no abrigo da paragem
Das mãos que afagam o instante
De aragem da estrada

Da canção as amarras soltarei
Para que cada deus renasça
Entre a relva verde dos prados
E o azul em mim espelhado

Pelo silêncio da noite voltarei
Quando ouvir o canto da cigarra

sábado, outubro 01, 2005

Afagos

I

A chuva brotou nos sulcos de um mar
Salgado… sereno
A princípio miudinha, orvalhada
Afagos na areia fina
Que o longe avistava…
A noite se abriu em rasgos
Luminosa
E clara

II

Te canto, no infinito te cantarei
Ó sol, ó vento, ó chuva
Que me afagas
No âmago do acaso
Na corrente da essência
Da paz encontrada
E que serenamente
Na cor doce do sorriso
Enlaço
Sabendo-te me saberei
Em cada renascer silente
De asas

III

Me percorres na demora
Do deus que em ti espelha
Luas sóis da memória
No fundo do teu silêncio
Ternos são os afagos
Do vento
Que em traços
De brisa
Me beija

segunda-feira, setembro 26, 2005

Pinceladas

Não sei se leve a tela e as tintas
E no areal doirado e vasto
Te pinte a cor do sorriso

Não sei se mergulhe em tuas letras
E com a sua intensa beleza
Deslace os nós que sinto

Não sei se desenhe pontos traços
E preencha os espaços
De pirilampos infindos

Mas sei que à noite há fortes passos
Com que o sol reforça os laços
De luar no seu caminho

Que os mares se cobrem d'estrelas
Voando em danças serenas
No fio do paraíso

quarta-feira, setembro 21, 2005

Dias Há...

Há dias que se repetem
No ontem de um amanhã
São dias longos, espessos
Não deslaçando a hora
Que no fio do cabelo
Tão moroso e cinzento
Em novelos densos está

Outros porém são vivazes
Plenos de luz e de cores
Qu’em seus bailados eternos
Lançam flores largam véus
São fortes e mui capazes
Entre sorrisos serenos
De cantos que o mundo sente

Dias há de palha verde
Exposta nua aos céus

terça-feira, setembro 20, 2005

Luar de Paz Eterna

Pedaços são veste tuas
Longo verde da matéria
Emoções de noites nuas
Insones palmos de terra
Essência de sol e luz
Numa morte renascida
Em sonhos e descobertas

Breve tão breve o dia
Omitido...Não o esquece
A poesia lendo o poeta
Num luar de paz
Eterna

sábado, setembro 17, 2005

Nesta Praia...

Esta praia que afagas
Com teus olhos doces d’água
Em iluminuras mil
Te sabe a cada instante
De ausência e saudade
E canta só para ti

Cada rocha é um suspiro
Cada areia um pão de milho
A concha a sede que matas.
Das algas se tece o leito
E dos sussurros do vento
Se desdobra cada beijo
Em doces nuvens de prata

Dançam flores a contento
Entre as borbulhas de sal.
O sol percorre a estrada
Neste entardecer ameno
Num rubor musical
Nesta praia que enlaças
Gaivota nas tuas asas

terça-feira, setembro 13, 2005

Nesta Alvorada

Desdobram-se brilhos essências
Alfazema, rosa, jasmim
Nos braços da alvorada
Espreitando os fios d’água
Das flores do meu jardim

Tudo é paz tudo é clemência
Incenso, alecrim, manjerico
No espaço suave que inspiro
Ondas que teias lançam
E dançam…
Sorrisos

M’ espanto vendo que chegam
Chocolate e a canela
Em rubros azuis de mar
Sensações, um sonho apenas
Nesta alvorada amena
Do meu doce despertar

sábado, setembro 10, 2005

Poema Breve

Breve chega o tempo
Que o mar azul mais era
Relembrando, esquecendo
Quando, quanto momento
Em profunda descoberta

Breve foi quem diz que era

domingo, setembro 04, 2005

Foram Tempos...

Sabias! Tu sabias
Que nada daria certo
Quando colocasses o verbo
No passado, imperfeito

Sabias, sim! Tu sabias
Que as figuras de retórica
Usadas hora após hora
São só dizeres de vento

Mas percebias
Que o povo incauto e sereno
Te seguiria correndo
Onde quer que tu passasses

Ora continuaste
Correndo o mesmo caminho
Por entre a fácil palavra
Espalhando luares, abraços
De maleitas infundadas.
Em horas iluminadas, instigaste
Ao sorriso e à saudade
Com ameaças veladas
E esqueceste
Que o esperar sentada
Foram tempos…

Agora, querido, agora….
Já é tarde!

sábado, setembro 03, 2005

Há um mês que navegam no espaço

estes pianos estéreis

pendurados pela cauda uns nos outros

sem remorso

semeando chaves e velhos tecidos de linho

sobre o terreno coberto de cabelos macios

que a electricidade anima.



Os farrapos da cortina tombam

sobre os braços decepados

mas eles voltam como as andorinhas.



Embora as cortinas de fumo persistam

não há qualquer dúvida

mergulham fundo nos números.

De um lado há faróis em Dezembro

e do outro lado

ao fundo da escadaria

há punhais de ouro.


(Poema de ARTUR CRUZEIRO SEIXAS)

terça-feira, agosto 30, 2005

Todo o Mundo Faz...

"Isso não se faz, mas todo mundo faz...


Na estrada, o policial rodoviário manda parar um carro.
O motorista lhe entrega os documentos do veículo, sua
carteira de habilitação e uma nota de 50 reais.
O motorista sabe que isso não se faz,
mas como todo mundo faz...

Nas bilheterias do show não há mais ingressos à venda.
Um casal que chega muito atrasado procura o encarregado
da segurança do show e oferece-lhe uma generosa gratifica-
ção para entrar pelo portão dos convidados.
O casal e o encarregado sabem que isso não se faz,
mas como todo mundo faz...

No consultório médico, o cliente pede que a recepcionista
lhe passe um recibo com valor maior do que o pago pela con-
sulta, para ter um reembolso maior do convênio médico.
Ambos sabem que isso não se faz, mas como todo mundo faz...

Na loja de artigos importados, os produtos vêm de um forne-
cedor milagroso, que lhe cobra metade do preço da concor-
rência e até dá notas fiscais. O lojista suspeita que o
negócio do fornecedor tem algo de ilegal, mas continua com-
prando dele.
Sabe que isso não se faz, mas o camelô faz, a dona da loja
de luxo faz, todo mundo faz...

Na televisão, o Presidente da República admite que seu par-
tido não declara a origem de todos os recursos que financiam
suas campanhas.
Diz que isso não se faz, mas como todo mundo faz...

Estamos todos muito indignados com as denúncias de corrupção
que varrem o Brasil. Para mim, o que acontece no Planalto é
um reflexo do que acontece na planície, em nossas casas.

Se quisermos que o país mude, temos de rever nossos conceitos,
refletir sobre nossas condutas, analisar em que aspectos de
nossa vida estamos sendo corruptíveis e pensar em maneiras
de mudar isso.

Por isso é que eu digo:
NADA MUDA ENQUANTO A GENTE NÃO MUDAR!!!"


(Mail recebido do Brasil)

quarta-feira, agosto 24, 2005

Vem...

Vem… a minha mão segura e caminha
Juntos procuremos a ternura do sorriso
Que se escondeu algures no tempo
No negro das cinzas
Sem música, sem brilho

Vem… sem temor nem medo
Meus braços são o apoio que precisas
Meus ombros o recosto, a carícia
Meu regaço a flor aberta
Que em candura mui certa
Tua mente descansa e deleita

Eu sei que árduo é o caminho
Com escolhos e densos trilhos
O silêncio com seus mantos floridos
Foi nossa concha, nosso abrigo
A voz cantante na solidão
Desfolhando florestas e mares
Sóis, estrelas, a cor de luares
E seus dispersos destinos

Mas vem… segura a mão
Que serenamente
Estendo

quinta-feira, agosto 18, 2005

O Gato

Bradam melros, cotovias
e até as próprias tias
atando as mãos à cabeça:
“Valha-me Deus, que tristeza!
Não é que o marau do gato
tão bonito e aperaltado
foi cair da janela?!”
“ A história, vai por mim…”
dizem o Zé mais o Quim
merceeiros da esquina
que passam o dia na fina
ombreira da porta a ver
as garotas que passam
e querem tudo saber
da vida da vizinhança,
“…o gato lãzudo veio
deitar-se no parapeito
da janela. Até que a gata
da Micas surgiu escovada
luzidia e perfumada
na escada de incêndio.
Vai daí, o gato um olho abriu
arrebitou uma orelha e sorriu:
‘mas que compêndio!...’
P’ra mostrar quão forte era
e para atrair a donzela
deu um salto mortal…
Não correu bem, afinal!
Pois uma rajada de vento
passou naquele momento
e ele voou uns cinco…dez metros
pr’ à copa da árvore mais perto
e lá ficou miando… quieto…
Enquanto a gata da Micas
rebolando o quadril, roliça
lhe atirava um beijo
e dizia: ‘é bem feito!...
p’ra não te armares em esperto!’ “

domingo, agosto 14, 2005

Escada de Pedrarias

Uma escada suspensa no pátio havia
Em pedrarias tecida.

De um lado a relva fôfa
Convidativa
No outro o azul da água
Que serena se mexia.

Os pássaros afinavam
Em suaves trinados
Saint-Saens e Stravinsky

Enquanto
Com seus gritos alucinantes
Dançava um fantasma
À luz do dia
Tentando
Retirar da escada a alegria
O brilho das pedrarias.

Nos passos do silêncio da noite
Chegavam o verde-azul das mãos
Que o sorriso lhe estendiam.

Pousava docemente
E então
Adormecia…

sábado, agosto 13, 2005

She

She is so pious
She is so modest
She is so daring
When she out of home
When she is on the way her school
When she is on her duty
She looks like so calm
She faces unscrupulous
She hears unscrupulous
She faces day trials
She looks like so calm
To realize her past
Her ignorance was blamed
Her ignorance is blamed
Though Eve's ignorance was written
She was so innocent
She is so innocent
I don't know her abode
I don't know her name
Though she is living around
She is Eve's daughter.
She is so pious
She is so modest
She is so daring


Rashid Ahmed

quinta-feira, agosto 11, 2005

Hoje...

Hoje
Nasci no silêncio duma casa abandonada.
Me agitei, percorri espaços preocupada
Pelas vozes que gritavam.
São tantas as vozes que me falam
Em sinais tão diferentes…
Hoje
Entrei no carro e surgiu Mozart do nada
Na Antena dois.
O caminho delineado estava cortado.
Segui em frente
Para onde a luz me aguardava…
Mas hoje
De repente
Fui abalroada
Por uma montanha viva
De palavras…

segunda-feira, agosto 08, 2005

Amor p'ra além da Hora

Quisera teus olhos ser
Meu amor p’ra além da Hora
Em narcisos renascer
aqui, agora
Carícias em gotas da flor
De seda

Quisera cobrir-te de estrelas
Sobre o mar em calmaria
Nesse azul tão belo, tão certo
E mostrar-te o momento
Que a lua nele se deita
E inda…
É dia

Quisera que as sombras dispersas
Na procura da rua, do caminho
Não fossem partidos espelhos
Que pelo espaço buscas
Em madrugadas
Insones
Sozinho

Quisera cantar-te o verde
Da relva fofa, luzidia
Das medas, do trigo, da fonte
As cores que tu bebias
Na avidez da sede
Da solidão que
Previas

Quisera com ternura amar-te
E docemente sonhar-te
Muito p’ra além do poema
Na dualidade do tema
Vasto
E ofertar-te
Meu sorriso
Apenas

sexta-feira, agosto 05, 2005

Sinfonia Salgada

São tempos e contra-tempos
Musicalidade salgada
Notas que o éter abraça
Em mar calmo e turbulento
É um navio que pára
Ouvindo o som das notas loucas
E se atrasa

Dançam violinos, trompetes
Flautas, tubas, clarinetes
Soltando estrelas no ar
Com rasto de brilho…são cometas
Esvoaçando em horas poucas
Se desfazendo no mar
Em frente
Do navio que parado está

Pautas em bailes tresloucados
Pintam claves de sol e de fá
Agarram as cores soltas
Que nuas, incautas, tontas
Riem na espuma da onda
Que a rocha faz
Serenamente
Em laços de flores musicados
Envolvendo o navio
Que foi… que ia…
Compondo assim a sinfonia
Salgada

quarta-feira, agosto 03, 2005

Olá, Meus Amigos

Meus Amigos... O baile continua



Olá Meus Amigos

Peço-vos muitas desculpas pela minha ausência, mas não
estão esquecidos, amigos.

Tenho andado com problemas nas ligações à net e ao msn,
pelo que tvos peço que temporariamente não me enviem mais
mails, especialmente pesados, porque tenho imensa dificuldade
em abrir o MSN e a Net.

Nem entrar nos blogs tenho conseguido, apesar das inúmeras reclamações
com que tenho enchido a ADSL.

A resposta que me dão é que a chamada ficou retida no servidor (acreditam????)
Se assim for é muito grave.

Creio que estão e brincar comigo, pois para conseguir entrar nos mails ou
abrir a net (que aparentemente está sempre on-line), tenho de continuamente
fazer o restart, e mesmo assim por um curto espaço de tempo.

Espero a vossa compreensão pois são situações que me ultrapassam.

Bjokas grandes e desculpem a ausência involuntária

Amita ( Fátima)

domingo, julho 31, 2005

Fado ou Sina

Será fado? Será sina?

Talvez alguma mezinha
colocada no café.

Uma reza de santo
sentada ou de pé.

Quem sabe um mero encanto
feito por encomenda
que a publicidade tenta
muita gente, incauta e lerda,
em caminhos do acaso.

Outros, mui bem pensados
em escrita medicados...
Tudo, mas tudo por bem.

O fado dolente, cantado
na voz que saber se sabia,
é aquilo - quem diria? -
que se usa e não se tem.

Ora a outra, a dita sina
seja longa, curta, fina,
até de certa espessura,
que se sabe e não se vê,
ou se tem e não se usa.

E é neste encantamento
que o fado e a sina aliados
fazem traços já traçados
em rotas d’esquecimento
apagando o que se lê.


Poema in "Transparência de Ser"

sexta-feira, julho 29, 2005

Tons de Tango

Ao som de um tango te bebo
Te enrolo no segredo
De um abraço

Não deslaço e estremeço
Colada em teu corpo vagueio
Em rubros frémitos. Entonteço

Por ti deslizo
Contorciono e revolteio
Nos balanços de dança te sigo

A flor que meus seios domina
Desfaz os longos cabelos
E caminha colorida

Sabor em gotas de água salgada
Formas de fogo espiraladas
Que sorvo partindo medos

São tons de tango que bebo

segunda-feira, julho 25, 2005

Entretanto...

Não existo entre a gente que passa
Sou a solidão da palavra
Ausente… em nada

Não percorro me quedo silente
No tempo que passar não passa
Em horas delineadas

Não sou traço sou um ponto
Que vagueia pelo espaço
De tão rodar na palavra
Fico tonta espiralada

Nada sou nada condiz
Nestes tempos avançados
M’espanto com quem me diz
Que o luar existe iluminado
Que o mar ondeia seu canto
Que o sol dá luz e quebranto
E entretanto
Me meto na concha fechada

sábado, julho 23, 2005

Em Noites Enluaradas

Em todas as noites enluaradas
Deste Verão escaldante
Passaram fogos espadas
Pelo meu corpo em marcas
De sóis desdizentes

Jamais penseis
Que se de cegueira me vesti
E me adornei
Foi porque de ilusões vivi
Contente

Estrelas mares desertos
Orvalhos brilhos e barcos
É tudo o que está certo
No percurso d’ estilhaços
Da vida
Dentro de nós sentida

Meu lema é paz alegria
Amenidade entre a gente
Lutando serenamente
O sorriso doce expandia
Cerrando a tempestade
Que planando nas árvores
Cinzas previa
Entre fogos espadas
De noites enluaradas

sexta-feira, julho 22, 2005

Amigos

Nestes últimos 3 dias a ADSL tem cortado a minha ligação
à net (erro 678).
Gentilmente deixam-me ficar on line em espaços de 3 minutos,
por vezes, o que me impossibilita agradecer e visitar-vos.
A última informação que me deram foi que possivelmente
teria de chamar a PT para resolver este problema.
Aproveito para agradecer a todos o carinho que me têm dispensado.
Um bom fim-de-semana a todos.
Até breve, espero!

segunda-feira, julho 18, 2005

Por vezes o Poema

Por vezes passa o poema vergado de horas
Um mundo passado exausto de estrelas
Seus ramos caídos em cinza folhas
Desliza um Inverno de seiva mui lenta

De timidez arrojada corre também sua voz
Num leito verde em chão de água,
Comportas, se abertas são fechadas,
Não vá o caminhante barco chegar à foz

Às vezes o poema é mordaz ou pensativo
Na fluência da palavra imaginada
Brotando fluorescências em escada
De música suave, agitada por quem ouvido

Se o poema é nu um doce sorriso espraia
Em mil flores, brilhos, amores serenos,
Mãos, olhos doces qu’enlaçando s'espalham
No pêndulo dos braços, em tempo ameno

Em azul se sabe,
Por vezes…


Poema in "Transparência de Ser"

sábado, julho 16, 2005

Uma pequena luz

Há uma luz num rochedo esbatido
Que continua a brilhar
Soltando muito a medo
Frágeis raios para o mar
Que a rodeia
Lhe enleia
Sentidos

Um barco d’água à deriva levando
Etéreas nuvens de carinho
Espalhando pétalas de rosa
Melodiosas
O barco trilhos abrindo
Sozinho…

Uma montanha de fogo havia
No mar das flores explodia
Era tão cinza e escura
Que o verde que a cobria
Desfez-se na noite dura

A pequena luz tremeluzente
Que na rocha está sentada
Abraça nuvens o barco d’água
A montanha cinza ardente
E mui doce serenamente
Sorri p’ràs estrelas orvalhada
E murmurando diz: É p’rà frente
O caminho que sentes…

terça-feira, julho 12, 2005

Caminho o Tempo

Procuro-te em poesia de letras
Memórias de tempos recentes
Racionalizo passados de curto vento
Agora peso avalio entendo
Porquê em pesares existentes

Interrogo-te nas palavras do silêncio
Transmutação de estrelas cadentes
Antes brilhantes luzentes
Em mortes camufladas e te sinto
Os sonhos desfeitos de nadas

Percorro-te em negra chuva a estrada
Que bebes em gotas d’água.
Ao som de teclas que pinto
Com Grieg danço
A doçura o encanto
Da verdade
O tempo que está comigo
Na serenidade
Do sorriso

sábado, julho 09, 2005

Nesta quentura do dia

É o leite o café da manhã
Uma toalha de linho
O dizer amo-te baixinho
Na Aurora que vai tarde
Em aroma de chocolate

É laranja lima limão
Em refrescos que os dão
Nesta quentura do dia
O que quero é tangerina
Nesta pura fantasia
De quem sequiosa espera
Uma brisa

quarta-feira, julho 06, 2005

Uma Casa de Pedra

É uma casa singela
Uma casa minhota
De pedra
Térrea

Profusos verdes a abraçam
Arbustos, árvores, a horta
E cantam
Aves

Canteiros de flores num laço
A rodeiam… num abraço
Doce, ameno
De cores

Interior de branco tranquilo
Em cada canto melodias
O eterno abrigo
Da palavra

Quem vem aflito sempre encontra
À porta, um sorriso, a gentileza
A lareira acesa
O brilho

É uma casa minhota de pedra
Onde a verdade térrea habita
E que caminha
Serena

domingo, julho 03, 2005

Caixinha do labor

Neste ponto colorido eu canto
Toada em folhas de Sol
Com verde e amarelo
Que encontrei no recanto
Da caixinha do labor
Singelo

Canto ao sorriso o calor
Hora sem tempo passado
Ao trabalho elaborado
Com carinho e amor
Em brancas penas deixado

Ao fio que a tela tecia
À garra visão amizade
Música que soa baixinho
Em ternura e carinho
E parto ao fim do dia
Enlaço serenidade

quinta-feira, junho 30, 2005

Em minhas penas...

Leve aragem me afaga as penas
Quando plano sobre o mar
Azul intenso em íris de ouro
Um espelho do meu voo
Nas minhas asas serenas

Terno sorriso espalho num canto
De doces flores musicais
São cravos, rosas, jasmim
Qu’envolvo num manto sem fim
E as penas vão transformando

Em sonoridades tais
Que o carinho, a ternura
Aquela ilusão que perdura,
Forma cambiantes de cores
Em laços, pontes, abraços
Infinitos luzentes amores
Que em minhas penas enlaço

quinta-feira, junho 23, 2005

Um perfume que a noite transporta

Um perfume subtil a noite transporta.
Adormecida em ventre d’água
Há uma voz qu’insone me clama
Em saudade orvalhada

É um aroma cobalto, anil
Em sua concha nacarada
Que me chama do meu leito
Onde me recosto, me deito
Em sonoridades mil

Sob os lençóis me viro, agito
Os braços estendo, encolho
Abraçando a voz em cantos
Intermitentes espaços qu’envolvo
Enlaço e penso: foi mais um sonho!
Mas como explico
O aroma que fica pairando …

domingo, junho 19, 2005

Um Jardim, uma Rosa, um Lago...

Um jardim, uma rosa, um lago
É um oásis na cidade fremente
Que passa do outro lado
Em muros, asfaltos, ausente….

Jardim de aves levíssimas
Musicado de verde
É um relógio suspenso…

Rosa irisada pelo sol doirado
Solitária na cadência do dia.
É uma palavra nua, infinda…

Lago azul de dançantes seres
Vogando em pontes laços abrigos.
É água de serenos sorrisos

Que somente

Na fragilidade do tempo
Tudo vê e tudo sente.
É a sensibilidade isolada
Entre a cidade correndo…

quarta-feira, junho 15, 2005

Rosto d'Água

Nesta quentura do dia, passa leve
um sopro de vento em massagem.
Deitado o meu corpo deliciado
o sol enleia em beijos m’afaga
Um calor arrepiado me invade
transporta p’ra outros mundos
distantes e mui profundos
que o tempo viu de passagem
Com tanta ternura, eu corro
e me banho em águas claras
Suas mãos m’agarram a cintura
puxam e me enlaçam
com serena candura
bebem a essência a pele
os poros dos longos cabelos
que se espalham
em teu peito
rosto d’água

terça-feira, junho 14, 2005

Verdes Canções em Flores

Verdes, verdes são os sentimentos
Que vagueiam pelo mar
Jangadas plenas de gente abraçadas
Ao mastro sem velas em fios de luar
Estrelas encantadas de dores
Que em verdes pradarias se deleitam
No cinza do entardecer que em breve
A noite abraça, enfeita
De verde em verde cobertas não sentem
O azul que se estende p’ra lá da floresta
Partículas de areia orvalhadas
Percorrendo encantadas o deserto
Que as rodeia

Verdes canções em flores

sábado, junho 11, 2005

Os quatro elementos

Escrevo sonhos de Fogo, labaredas
De palavras sem letras
Dualidade em flores de vento
Mui ledas
Madrugadas, brisas, momento

Escrevo a Água, ondina transmutada
Rio, catarata ou lago
Mantos espelhados, o afago
E entoo encantada
Sonoridades que trago

Escrevo em formas de azul o Ar
Voos suaves desenhados
Espirais a planar
Anseios, perdição d’ amores
Ilusão em tábua de cores
Navios de tons irisados

Escrevo a paixão da Terra, o sentir
O ideal desejado
No beija-flor simbolizado
Componho, enfim, a Natureza
Que num sorriso de tristeza
Teme, receia o provir

quarta-feira, junho 08, 2005

Rasgos

Sem o esse é o eu no presente
Do verbo interiorizado
Em delírios afastado, isolado
Dos afazeres da mente

Memórias abertas em horas, instantes
Tapetes de veludo, flores de ilusões
Um sonho caminhante em fracções
Formas espiraladas de cores difusas
Desnudas, obtusas em linhas traçadas
Que em mantos o vento apaga

Folhas de água em máscaras
Histórias passadas dementes
Sonhos constantes presentes
Em lonjuras asfaltadas correndo
Um partir longo demorado lento
Um chegar brusco de cores confuso
Aromas, perfumes que se evolam
Em essências serenas.

Rasgos: A quadratura circular do tempo

segunda-feira, junho 06, 2005

Entre Tempos

Uma prata imensa espelhada
Desdobrando, se desfazendo
São núvens brancas em tumulto
Um rugido, um grito, uma voz
Incontrolável, poderosa
Em que me sento…
Extasiada

Em rajadas e sibilos respondendo
Surge o vento
Arrastando tudo ao redor
Altera dunas, escarpas
Dançam areias desgovernadas
E dançamos
Nós

Entre forças, ilações e razões
Pelo poder espacial
Está a singela ampulheta
Mui serena
Aprendendo
Lendo o tempo
Que nos seus dedos desfia
e… sorria…

Promessas? Onde? Afinal…

sábado, junho 04, 2005

A parte de um todo

Tudo o que se espalha se move. Às vezes
Espalhando imóvel se queda.
Olhos do pensamento que passa, leve
Correndo por atalhos de momento
Breve

Tudo que vibra é sintonia musical. Contudo
Vibrando descompassado é mudo
No final. Um saber angustiado não vê.
Ternura dum livro aberto que perto
Não lê

Tudo que se parte se estilhaça. Embora
Partindo cada parte seja um todo
Sem demora. Milhares de vidas unidas
São: a hora, a força, a vontade que enlaça
Cantigas…

quarta-feira, junho 01, 2005

Em voo silente

Há uma canção que passa
por mim na brisa silente
e que me enlaça
ternamente

É um canto um abrigo doce
que percorro e discorro
Uma luz terna, amena
perene
que abraço

Uma ternura presente
que se sente e pressente
em cada passo
É um laço colorido
um abrigo
se em águas esbatido
ultrapasso

E sorrio com doçura
à luz que me perdura
que louvo agradeço
e não esqueço
a infinita ternura.

terça-feira, maio 31, 2005

Nocturno

Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa brava...

Era, no copo, além do gim, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.

Era, no gira-discos, o Martírio
de São Sebastião, de Debussy...
Era, na jarra, de repente, um lírio!
Era a certeza de ficar sem ti.

Era o ladrar dos cães na vizinhança.
Era, na sombra, um choro de criança...


(poema de DAVID MOURÂO FERREIRA)

sábado, maio 28, 2005

Vazio

Papel branco pintado m’espreita
Brisa em tempestade de vento
E escuta com minúcia
Todo e qualquer movimento.
Na aurora em mim se deleita
À minha frente por mim

Lápis de plumas verdes se move
Fino e delicado
Entre os dedos impacientes
Aguardando quase implorando
Uma letra um simples traço.
Sem asas não posso não faço

Um cigarro mordendo o fumo calado
Um triângulo um quadrado
Me olhando em contemplação
Um café negro de frio
E deslizo no vazio
Da inspiração

quarta-feira, maio 25, 2005

Palavra

A palavra é uma espada ardente
Que corta, estilhaça, mata.
Em letras incandescentes
Queima olhos, incendeia mentes
Quando leve, incauta, passa.

A palavra é uma sinfonia surda
Em rios de letras correndo
Que tudo altera, troca e muda.
São braços cegos numa jangada,
Que não atinam nem apagam
A incandescência da brasa.

A palavra é um ir suave do vento,
Um voltar cantante correndo,
Horas de fio a pavio sem tempo,
Iluminuras, cristais, vitrais,
Percursos de rios serenos
Nos beirais
Das mentes dizendo:
Pára, escuta, não há mais!...

Mas Palavra é… Encantamento…

terça-feira, maio 24, 2005

in Poeta Militante III

De súbito, desceu um bando de aves vermelhas,
Caídas da lua que todas as noites alguém assassina,
E poisou nos troncos das árvores
Com agudeza de lança masculina.

E todos vimos
Que com os seus bicos de tecer fogueiras
As aves cortavam as asas acesas
No sangue dos astros,
Para as deixarem
Livres e presas
Nos mastros…

Bandeiras.


(Poema de JOSÉ GOMES FERREIRA)

segunda-feira, maio 23, 2005

Primavera no Wisconsin

Na limpidez tranquila da manhã diáfana
em que as despidas árvores imóveis
são como nervos ou expectantes veias
no corpo transparente do azulado ar,
as águas quietas, mas não tanto que
nelas se espelhe mais que a concentrada cor
do ar tranquilo, nem tão menos que
pareçam gelo perto as águas mais distantes,
pousam na margem delicadamente
como na mesma terra infusas se dispersam
dos ramos e dos troncos sombras confundidas.
A terra se amarela de ante-verde
e, sêca, espera, entre a neve que foi
e o ténue estremecer da seiva que desperta.


(Poema de JORGE DE SENA)

domingo, maio 22, 2005

As Casas Vieram de Noite

As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir

Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios

As casas fluem de noite
sob a maré dos rios

São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas

Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas


(Poema de LUIZA NETO JORGE)

sábado, maio 21, 2005

O Tempo da Lua

O tempo da lua é o tempo do labirinto
De tudo o que sei e sinto,
Espaço estreito e apertado
Entre a imensidão de um outro espaço
compassado.

O tempo da lua é o tempo da terra,
da água,
da roda e do ventre
um tempo repetido, persistente
um tempo gota-a-gota
grão-a-grão,
tempo-fio tecido em trama
e ilusão.

O tempo da lua é o tempo da loba
Do uivo e do medo, da presa e da toca
Luz branca coada num imenso céu
Desenhando letras sobre um fundo breu.


(Poema de MARIA TERESA MEIRELES)

quinta-feira, maio 19, 2005

Silêncio das Horas

Um silêncio que invade
Silêncio intenso profundo
Mais denso que mundos do Mundo
Procurando com ansiedade um grito
De vento de liberdade
Medos plantados fundo

São horas de horas eternas
Correndo lentas e apenas
Em breves minutos passam
Sufoco de gritos no peito
Pensares sentires desejo
Dores de morte abraçam

Um rio de pérolas fluente
Um mar negro de gente
Sombras véus e de mantos
Voando na hora silente
Abandono cru de encantos
Tempo de silêncios brancos

Horas paradas de ternura
Abrigo da chave na mão
Brilhando amor sedução

É a voz que ao longe murmura
Silêncio de horas amargura
Desilusões que o não são

terça-feira, maio 17, 2005

Ímpeto solar

Bebo-te em palavras rubras
Desejo de morango em gelatina
E estremeço e me deixo
Saborear qual loba faminta

Bebo-te em letras escaldantes
Fulgor de banana-pão e de jaca
Na fritura no ardor
Que me queima torra e assa

Bebo-te em tons de risos
Anseio de framboesa em mel
Dobro desdobro me enleio
Com doçuras e sibilos

Bebo-te num ímpeto solar
Te degusto em tinto vinho
E te uso e te abuso
Entre a ementa e o manjar

sábado, maio 14, 2005

Quem diria!...

Rosa em pétalas sentada
Esta noite adormeci
Me quedei silenciada
Na espuma alvoroçada
Do mar que em ti vi

Célere voou o pensamento
Enleio dum abraço sentido
Protecção um doce abrigo
Palavras sorrindo ternura
Nos instantes no momento
Pleno vivências candura

Foram horas foi um dia
Enlaçados num segundo
Laço que não deslaço
Deslize terno pr’o mundo
Teu Sorriso feito abraço
Quem diria!...

terça-feira, maio 10, 2005

sonho-canção

Pudesse dizer meu amor
Meu carinho pão-de-mel
Ternura querido fulgor
Doçura azul meu farol
Dançando sorrir cantar
Toadas ternas m’embalar
No aconchego da luz e paz

Pudesse eu t’ofertar
As cores do arco-íris
Alvas imaculadas
Puras
Verdes rubras
Laranja cobalto em matiz
D’ouro e prata pinceladas
Em marfim

O cosmos refulgente ser
Estrelas sóis luas um astro
Lonjuras eternas correr
Para te oferecer um afago

Ser águia lince serpente
Sáurio peixe golfinho
Átomo molécula insecto
Só somente
Parte de ti num carinho

Pudesse ser o mar a natureza
Estável serenidade luz brilhante
Mas sou rocha que não quebra
Sou traço linha que não verga
Coração forte que não bate
Que omite olvidando apaga
A vida tudo se pudesse…


(alterações a um poema de Set. 2004)

quarta-feira, maio 04, 2005

Poema verde

Se fosse o poema verde
O verde do teu espanto
Me vestiria d’encanto
E te daria… te daria
Uma branca pradaria
Numa asa azul fulgente

Se fosse o poema verde
O verde dos desejos teus
Rubro véu me cobriria
E voaria… voaria
Em ramos de sóis nos seus
Laços de brilho ardente

Se fosse o poema verde
O verde que esperas tanto
A Aurora o entardecer teu
Seria… oh se seria
O beijo a pele o manto
A doce essência
O fruto em flor meu

sexta-feira, abril 29, 2005

Grinaldas

Grinaldas são
Chocolates doces
Que se abrem no caminho
Ternura de amores
Trilho em amplidão
Que se desdobra sozinho

Coroas de flores belas
Maviosas singelas
Seda veludo tecidas
Aves plumas esbatidas
Na solidão e contudo
É um enlace desnudo

São pétalas de rosas
Etéreos voares
Essências deleitosas
O silêncio cantante
Luz a cada instante
Formas d’amares

É alegria é saudade
Amor puro a verdade
Plenitude de dar
Voando pela palavra
Da ternura adorada
É partir e voltar

quarta-feira, abril 27, 2005

Poema desconexo

Vagueio num mar de letras
Poema sem ligação
Horas batidas no tempo
Que mais não são
Um denso momento

Rosa-dos-ventos girando sem vento

Vejo movimentos atados
Laços de escuridão
O negro encanecendo
Sinfonia sem mãos
Poesia estremecendo

Nuvens toando cavalos alados

É um poema desconexo
Na selva das folhas
Tombadas incerto
Ténue sopro d’areia
No sal do deserto

Poesia de pólos amorfos sem meias

terça-feira, abril 26, 2005

Verde sol

Dizem que o sol é brilhante
Quando canta a tua canção
Ondulante

Dizem que as searas se transformam
Em mares d’oiro alquímico ao luar
Nas tuas mãos

Dizem que o peregrino estrelar
Ave sedenta de sons coloridos
Deslizantes

Te seguem
Percorrem
Se vestem
Desnudam
Transmutam
Atentos cantam
O canto
Que
Queres

Dizem… verde sol somente

terça-feira, abril 19, 2005

Fios de Letras

Entre as verdes letras tento
Insegura uns passos dar
Vendo sentindo sabendo
Das letras o seu dançar

Com meiguice se desdobram
E se dobram
Lançando flores em laços
E cantam encanto de mim
Suavidade sem fim
Transformadas em abraços

Ténues fios em suspensão
Translúcidos transparentes
E deslizo
Bailando em letras pendentes
São momentos em que não
Existe abrigo

No silêncio me quedo assim
Em ternura
Na candura
Serenidade de mim
E me sento
O canto das letras contemplo

Em doces pétalas enlaçada
A porta entreaberta olho
E escolho
A simplicidade encontrada
Das cores puras delicadas
Os fios de letras abandono
Sem mágoa sem dolo
E sigo abrindo
Flores por poetas cantadas
Num azul sonho
Sorrindo

domingo, abril 17, 2005

CORRENTE DE LITERATURA

Tendo sido apanhada nesta corrente literária, agradeço
as amáveis palavras que me dedicaram os blogs:

www.outravoz.blogspot.com
www.conversasdexaxa3.blogs.sapo.pt

Assim passo a responder às perguntas:

P: Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro
gostarias de ser?

R: Todos e nenhum. Todo o tipo de literatura me encanta

P: Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem
de ficção?

R: Vivo qualquer tipo de livro. Apanhadinha, não.

P: Qual foi o último livro que compraste?

R: “Memória das minhas putas tristes” de Gabriel Garcia
Marquez

P: Qual o último livro que leste?

R: “Os amores de Safo” de Erica Jong e
“The Kitchen God’s Wife” de Amy Tan
“O mistério do jogo das paciências” de Jostein Gaarder

P: Que livros estás a ler?

R: “A obscena senhora D” de Hilda Hilst
“Encontro com o Mestre” de Mestre DeRose
“Ilusões” de Richard Bach
Diversos livros de poesia

P: Que livros (5) levarias para uma ilha?

R: “Ulisses” de James Joyce
“O sentimento de si” de António Damásio
“A Selva” de Ferreira de Castro
“O Império” de Gore Vidal
“O sangue de Cristo e o Santo Graal” de Michael Baigent,
Richard Leigh e Henry Lincoln (para reler)

P: A quem vais passar esta cadeia (3) e porquê?

R: Ao Fernando B. do blog: www.lusomerlin.blogspot.com

Ao José Gomes do blog: www.movimentum.blogs.sapo.pt

Ao Bené do blog: www.oapanhadordesonhos.blogspot.com

Motivos especiais não tenho, a não ser que são bons e queridos
amigos que espero aceitem o desafio.

A todos(as) os outros(as) Amigos(as) que muito prezo e admiro
um cantinho muito especial está guardado em mim.

sexta-feira, abril 15, 2005

Anatomia

São olhos, são mirantes
misteriosos, indagantes
os passos que aqui passam

São braços longos, envolventes
tentáculos nus, inconscientes
os olhos que me enlaçam

São mãos finas, delicadas
afagantes, espantadas
os braços que caem pendentes

São pés que correm sinuosos
ziguezagueantes, tortuosos
as mãos tacteantes, frementes

São corpos, peles, amantes
de outros que por instantes
os pés levam em correria

São eternas mentes
que leve desmentes
É Anatomia!

domingo, abril 10, 2005

São Olhos...

Teus olhos, amor, teus olhos
Na noite fria, na densa escuridão
Têm a dureza do aço mais não são
Que pedras negras, opacas, então

Teus olhos, amor, teus olhos
Pelo entardecer quando o sol se deita
São terra castanha, a areia que enfeita
Paisagem dormente em que se deleita

Teus olhos, amor, teus olhos
Na claridade fogosa intensa do dia
Ardem verdes matizes da pradaria
São ventos sibilantes em correria

Teus olhos, amor, teus olhos
Na tímida luz da aurora despontando
É barco à deriva de azul mar tentando
Inalar laços pontes no sufoco do canto

Os olhos, amor, os olhos
Que passam nos tempos serenos
Cândidos ternos alegres amenos
Condoídos piedosos são eternos

sexta-feira, abril 08, 2005

Brilhos

Conversando baixo, baixinho
Seguindo murmúrios, carinho
Pela leveza do éter voei
Seguindo rubros trilhos incauta
Beleza luzente de quem canta
Subtis promessas, amei

Da Aurora cantante me vesti
Com serena alegria me cobri
Foram só instantes, momentos
Percurso que o sonho dormente
A razão despertou inclemente
Me quedei em águas, tormentos

Vejo a porta entreaberta
De luz, em luz encoberta
Sinto o sol da lua musical
A flor aberta fremente
Rubras pétalas, ardente
Areias densas finas de sal

Mas no tudo eu sou nada
Nem pão, água ou espada
Nem pó, godo ou trilho
Trajo somente o sorriso
Doce, ameno, no brilho
Da ave nua, terno abrigo

terça-feira, abril 05, 2005

Fazei-vos à barca...

Fazei-vos à barca, senhores
Enquanto as águas são paradas

O cais se apinha de povo
De todos os credos e cores
Para ver que há de novo
Com o apelo da barca

Chegam ricos, chegam pobres
Carregando suas sortes.
Vêm os novos e idosos
Carentes e curiosos
Há mãos que oiro abraçam
Ombros pesando desgraça
Rostos em cor luminosos
Pés dolentes que s’arrastam

Fazei-vos à barca, senhores,
Enquanto a noite se fez dia
Trazei os vossos amores
A desesperança que porfia
Teceduras cruas da vida

Fazei-vos à barca, senhores…


Poema in "Transparência de Ser"

sábado, abril 02, 2005

Silêncio dos Sons

São vozes que falam caladas
Subindo encostas escarpadas
Qual gaivota verde no mar
São raios rubros de flores
Espelhantes
Em estilhaços de amores

São sons densos musicais
Que transformo p’ra que tais
Vozes falem baixinho
Em sussurrros
Ternos doces carinhos
Vagueando pelos ares

São sons de silêncio cantantes
Entre as brumas distantes
Num entardecer, na aurora
Na ténue luz que fez dia
E não previa
Ternos cantares d’instantes

São silêncios coloridos
Refúgios, lares, abrigos
Vozes longínquas de quem
Pleno d’amor vem
Completar o silêncio dos sons
Em laços pontes amigos

Pelo silêncio dos sons vagueio
Premeio
Sentidos

quarta-feira, março 30, 2005

A Jura

Jura-se pela cegueira
Sendo essa a primeira
Que sai de almas caladas

Jura-se pelos filhos a saúde
Pelo desamor que a miúde
A cada momento passa

Jura-se pelo raio ardente
Caindo na cabeça demente
De quem a jura abraça

Jura-se no altar perante Deus
Eterno amor, olhos nos céus
Respeito e fidelidade

Jura-se em surdina até
Em rezas que a mofina vê
Quando se jura mais alto

Jura-se não dê um passo mais
E outros dizeres que tais
São juras que eu não canto

Jura-se a torto e a direito
Por orgulho por despeito
De descobertas passadas

Jura-se em actos de amor
Ou em confrontos de dor
Tempestade ou calmaria

Jura-se tanto, mas tanto
Que a jura perdeu encanto
E tornou-se romaria

domingo, março 27, 2005

Momentos

Jamais estava sozinha nos sítios onde passava
ou no silêncio da casa. Sabia-se acompanhada por
sentimentos alegres, decisões que tomava..
A surpresa raramente à porta batia, pois previa
o esvoaçar de asas que se aproximavam: o movimento
impaciente do colibri; o piar tímido do pardal
depenicando a relva do quintal; o rugido do leão
chegando com olhar de falcão tentando apanhar sua
presa incauta; a ânsia da pequena lebre que corria
pelos bosques encantados da vida; as borboletas, as
flores que chegavam vestidas das cores do arco-íris
ou da negritude da noite.
Um sorriso os esperava, uma ruga preocupada,
transmutada em carinho.
Eram momentos plenos sentidos e as folhas mortas ou
secas que caíam ou tropeçavam, transformavam-se em
flores de verde garrido, em aves planando na doçura
da brisa.


A Natureza vive
Revive
Transmuta
Se muda
Na doçura
Candura
Do abraço
Num laço
Sereno
Ameno
Dum sorriso
Amigo

quinta-feira, março 24, 2005

Viração

Voam horas, soa o tempo
O mar s’agita de flores
Brancas, diáfanas
O raio de fogo aclareia
O crepúsculo das dores
Na noite que tu enlaças

Gira a lua, o sol s’esconde
Orgulhoso do seu manto
Tecido de rubras pétalas
Que caem, vão desflorando
Caminhos onde tu passas

As Sílfides correm enquanto
As Musas buscam seu canto

quarta-feira, março 23, 2005

Cidade do Porto (Origens)

Esta bela cidade, cujas origens remontam a uma antiguidade
de 4 ou 5 mil anos, debruça-se sobre o Rio Douro e é beijada
pelo Atlântico.

Nasceu nos morros da proximidade da Sé.
No século IV, durante a ocupação romana e devido à Pax Romana,
foi construída uma estrada que ligava Lisboa a Braga.
No seu trajecto, esta via passava pelo curso terminal do Rio
Douro e, para norte dele, o primeiro troço vial correria pelo
vale do Rio da Vila (ribeiro hoje encanado) desde cerca da Sé,
até ao seu desaguadouro na zona da Ribeira, tornando-se este
o local priviligiado para a fixação romana.

Aparece, então, a palavra Cale (estação), comum a ambas as margens,
designando os pontos, um a norte outro a sul, do Rio Douro, onde
se faziam o embarque e desembarque de viajantes e mercadorias
em trânsito.

Portus (portorium) era um antigo imposto de travessia, cobrado
na Cale.
Daí o aparecimento de Portucale que viria a ser só a povoação da
margem direita do Douro, núcleo da futura cidade do Porto.

Uma das mais antigas cidades do País, berço do Infante D. Henrique
e de muitas ilustres personalidades, desempenhou sempre um papel
importante ao longo da nossa História.

segunda-feira, março 21, 2005

Sem Meta...

Se vejo o que me dizem
não ouço o que me mostram
Se apalpo o que me falam
eu calo o que me sentem

Se ando estou parada
não consigo evitar
Se penso fico a nadar
só na primeira palavra

Se emudeço eu não sinto
Se sonho não vejo nada
São sonhos de encantada?!
Verdade? Será que minto?

Uma coisa é bem certa
em letras eu me desfaço
sorrisos eu dou, abraço
serenidades sem meta
carinhos afago...

quinta-feira, março 17, 2005

Entre os Anéis da Lua

Passos, compassos, espaços
Areais e matagais
Instâncias, constâncias, distâncias
Entre os anéis da Lua

Rosas formosas, ditosas
Abrindo, florindo, sorrindo
Braços seguem abraços
Flores em verdes prados

Ternura, doçura, candura
Avistada, ansiada, alcançada
Luz de luz que seduz
Entre as plumas dos mares

Espanto, canto, decanto
Águas sem mágoas
Corro, percorro, discorro
Serenidades…

terça-feira, março 15, 2005

Da Luz Que Se Esvazia...

Da luz que se esvazia coisas vultos
um espaço opaco todavia fica
em que a memória em vão procura abrir-se
a imagens de lembranças: rostos, sexos, pernas,
e o delicado recurvar dos ombros
ou de perfis. Não se recorda nunca,
ou se não sonha do que foi antigo
e ardente em nosso corpo, se não há
outros rostos depois e os mesmos gestos.
Não de passado se alimenta o vivo
quadro acendido em sonhos e lembranças,
mas o passado se renova em cores
com de que as formas repetidas sejam.
E quando esse halo opaco de vazio
a pouco e pouco nos rodeia a vida,
nem o lembrar nos resta, e os sonhos não se entregam:
crepuscular a luz obscurece tudo.

(Poema de Jorge de Sena)

segunda-feira, março 14, 2005

Seguindo o Mote

Quando me sento
para um sonho teu colher
serenidade bebo
de memórias, de amares
ternas brisas dos ares
doces letras quedo a ler.

Das profundezas do mar
dou-te as flores minhas
p'ra teu canto embalar
poemas
ou temas
luz que tens que tinhas.

Seguindo o mote, meu amigo,
um poema simples deslizou
em brandas letras abertas
e certas
Em candura voando
o oceano cruzando
te deixo
um beijo
a serenidade do meu sorriso
E assim, me vou.

sábado, março 12, 2005

Tempos

Ontem me soube
Hoje me sei
Amanhã serei
Talvez
Folhas de nada

Ontem me brilhei
Hoje me brilho
Amanhã brilharei
Sabe quem?
Pedra rocha apagada

Ontem me li
Hoje me leio
Amanhã lerei
Ou não
Asas de vento segadas

Ontem me ouvi
Hoje me ouço
Amanhã ouvirei
De vez
Silentes horas paradas

Agora sigo
Meu sereno sorriso

sexta-feira, março 11, 2005

Flor de Cambraia

Nasceu uma flor de cambraia nas belas terras do Norte e de fina
seda foi vestida, pela vida, nos idos tempos d’outrora.
Aprendeu canto, piano, o bordado e o francês daquela época; flor
que foi desabrochando entre as belas a mais formosa.
Encontrou seu grande amor entre pomares, milheirais, teatros,
récitas e cantos para fins beneficentes, gente carente que ajudava
e confortava com sua presença constante.
Percursos de cartas, notinhas escritas no papel que havia à mão,
ternos olhares, encontros furtivos nos muros da quintinha, entre
a alegria das desfolhadas procurando o milho-rei e cantando ao
desafio.
Amor que a família da bela flor não aprovava.
Desafiando espessas tempestades, mares revoltos, pontes suspensas
em escolhos de distâncias, tudo venceu.
A pequena flor de cambraia, tornada na seda mais pura, alimentando
o brilho intenso profundo dos anéis da lua, das folhas do sol, foste
tu, assim viveste em candura, minha Mãe.

quarta-feira, março 09, 2005

O Silêncio das Horas

É um silêncio que invade
Em silêncio intenso profundo
Mais denso que mundos do mundo
Procurando com ansiedade
Um grito de vento liberdade
De medos plantados fundo

São horas de horas eternas
Correndo lentas e apenas
Em breves minutos passam
Sufocando os gritos do peito
Pensamentos sentires desejo
Dores em morte abraçam

É um rio de pérolas fluente
É um mar negro de gente
De sombras véus e mantos
Voando na hora silente
Abandono cru de encantos
Tempo de silêncios brancos

É a voz que ao longe murmura
Silêncios de horas em amargura
Desilusões que o não são
São horas paradas de ternura
Abrigando a chave na mão
Brilhante de amor sedução

O mel do amor sentindo
O silêncio das horas abrindo

segunda-feira, março 07, 2005

Espelhando...

Páginas e páginas escrevi
Cadernos ou folhas dispersas
Frases, letras, voantes, certas
Em nós a Beleza antevi.

Algumas curtas ou difusas
Palavras que usas, não usas
Em rectas
Concretas
Outras seguem transversais
Desdobrando luz d’espirais

Momentos doces em nós
Sento, me quedo sem voz

Leio, releio, modifico
Nas entrelinhas me fico
Procurando
E achando
Frases soltas nos ares
Colorindo divagares

São sonhos, são ilusões de areia
Nuvens d’orvalho, canto de sereia
Palavras que digo, disse, não disse
Todavia em mim sempre sentiste

A candura de acalmias
A minha serenidade
Com sofreguidão bebias
Ó crua tempestade

Olhando no tempo a palavra, a frase
Um terno sorriso me espelha a face

quarta-feira, março 02, 2005

Nesta Aurora de Março

Despertou uma manhã cinzenta e gélida neste início de Março.
Olho através duma tímida frincha da janela que abro.
Pensamentos dolentes me atravessam como raios que afasto ou tento.
Não vejo o mar que se escondeu por entre as árvores, do outro lado,
no encanto do parque da cidade.
Por esta frincha que abri, entram árvores semi-nuas, despontando
flores brancas, rubras; entram colorações de verdes intensos perenes,
o branco de paredes distantes, o cinza denso do céu, descolorante do
azul nesta aurora de Março.
Todavia, com carinho sorrio recebendo os bons-dias dos chilreantes
passarinhos, das rolas bravas, rouxinóis em cantante melodia,
iluminando minha mente num dia que cinzento parecia.

Quando um dia eu fenecer
deitada em pétalas de rosas
não tragam flores formosas
Tragam a beleza dum sorriso
raios de sol, um doce abrigo
d’ amores, o mais sentido
Tragam a luz, a claridade
dos azuis; a côr, serenidade
da música, para me oferecer

sábado, fevereiro 26, 2005

Telhados de Vidro

Esta cidade Invicta, antiga,
de existência milenar
onde me recolho na vida
que do Norte foi trazida,
repousa em beleza ímpar

Recordo o verde do Minho distante,
suas casas solarengas, brasonadas,
milheirais, vinhedos, da gente
simples, activa, sorridente,
dos espigueiros, castelos, muralhas.

É nesta Invicta que vivo, vendo
telhados de vidro, estilhaços de vento

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Heresia...

Se água é purificação
Então grito renasci
Em águas do coração
Pecados não cometi
E me apago
Desfaço
Em orvalhos espessos constantes
Torturas prolongadas instantes
De negros com negros trajados
Não mereci

Abandonos profundos vendo
Qual moinho ou catavento
Rodando sozinho
Sem velas, brisas ou vento
Bátegas de chuva louca, cega, densas
Que não regam as tormentas
Da secura do caminho

Olhando confiante o firmamento
Acesa a luz da fé conservando
Tantas vezes esmorecendo
Se apagando
A reacendo
De mente
Nua

Na chuva
Densa

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Na areia grossa

Não sei se era noite, se dia. Não me recordo. A mente não me dizia, correndo o tempo.
Indicaram-me uma casa antiga como sendo um templo.
Entrei num átrio sem nada, de paredes altas e, à minha frente, deparava-se uma alta escadaria que subi, sem cansaço.
De novo um pequeno hall nu, uma semi-obscuridade, que tinha como ornamento uma singela mesa e uma cadeira onde te sentavas tranjando tons escuros.
Ninguém saiu nem entrou, não vi janelas nem portas e, como num passe de magia, desapareceste.
Procurei-te por todo o lado percorrendo salas de nada. Minhas botas afundando em areias grossas mas segui, sempre, em frente. Cruzei portas, atravessei um postigo em busca das vozes que ouvia distantes. Um casal tagarela e sorridente, em sentido inverso ao meu, passou o postigo, sem me ver, tal era a cumplicidade entre os dois.
Regressei, sem qualquer temor, envolta na mesma serenidade desde que naquela casa entrei.
Mas…sempre que dava um passo, as minhas botas afundavam…na areia grossa.

Dos sonhos e seus mistérios
Coração descompassado
Saltando
São segundos infindos
No éter voando
Parábolas da Mente…

sábado, fevereiro 19, 2005

A Festa

De rubro as unhas pintei
Sapatos altos calcei
Para a cerimónia que havia
Lá, onde a noite era fria

Vesti trajes lindos, luzentes
Tudo e nada condizentes
Comigo. Estampei a alegria
No porte para as gentes
Que (des)conhecia

Impávida e serena seguindo
Entre os brilhos, as presenças,
Socializando, sorrindo,
Noite fora dançando
Braços e braços enlaçando
Rodopiando aparências.
Dizeres, olhares,
Desejos d’amares
Quando passava, sentindo…

Onde andavas, amor distante,
Não me largando um instante
E de saudades vestido
Dias, noites, horas a fio
Por ti, em ti, esperando…

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Poeta

A noite pertence ao alto poeta
Divagando, ilusão discreta
Faz os leitores sonhar
Percorrendo os caminhos
Acompanhado ou sozinho
Com um sorriso p’ra dar
Seus amores são imensos
Desde o A até ao Zê
E querem saber porquê?
Vendo a forma de cada letra
A cor, o som, a beleza
Que cada emite ao desenhar.
Umas lembram pradarias
Outras, mares, nostalgias
Ventos, também luares
Desertos, oásis incertos
Sóis, brilhos, estrelares
Universos coloridos
Nuvens, doces abrigos
Melancolias d’estares
Silêncios d’amena música
Encontros de véus e túnica
Maviosos deslizares
Tudo serve, tudo é vida
Tudo morre ou intriga
Tudo passa a fenecer
Ou em luz a renascer
Para correr, parar, não ver
Ouvir ou emudecer
Pensar ou só amar
Ouvindo música a pairar
No silêncio ou na distância
Tanto faz, tudo é poesia
Entre ânsias e acalmias
Falar do poeta p’ra quê
Se a vida é o que lê
Cada qual em seu mirar
Aquilo que sente agora
Em segundos, sem demora
Torna-se fumo no ar
O poeta é um belo pensador
Do faminto, sedento leitor
Poeta, eu te bendigo
Por existires, amigo
Na música que trazes contigo

sábado, fevereiro 12, 2005

Eu Sei...

Eu sei que o azul é mais intenso
Nesse mar longo, imenso
Desfazendo-se em espuma
Nas areias brancas das dunas
Eu sei que os prados extensos
Na sua maciez verdejante
Lembra a seda brilhante
Transformada em finos véus
Eu sei que flores do campo despontam
Tímidas e suas pinturas mostram
Alegrando as bermas da estrada
Viajante, onde tu passas
Eu sei que as noites dos poetas
Luzem mais, estão despertas
Em dourados estrelares
E da lua os seus mares
Eu sei que o mundo vive suspenso
Da palavra e do ondear do vento
Que anseia paz, serenidade
Para o Homem, a Humanidade
Mas quem sou eu, se o que sei
Não transforma anseios em Lei?

domingo, fevereiro 06, 2005

O Concreto

Desce a noite no concreto
Com manto de denso véu
Faces mostrando esgares
No asfalto
E na calçada
Batem céleres calcanhares
Sombras de frágeis árvores
Sobranceria d’outrora
Sem o breu
Que o concreto alaga
De porta em porta
Agora

Num cantinho da sacada
Ouvem-se murmúrios surdos
Gente que está parada
Escutando mudos
No concreto
Que sobe, trepa aos céus

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Ao Amanhecer

Afio o lápis de novo, devagar,
Das letras, meu companheiro
E espero
A junção das letras, soltas, dispersas
Que vejo
Pairando nuas no ar

Contorno linhas, quadrados,
Entretanto,
No papel à minha frente
Sombreio quadriculados
E vagueio
Em sombras de letras, somente

Célere passa o tempo correndo
No silêncio, nesta ausência
Das letras
Transparências, movimento,
Brisas,
Pontes, correntes e vento
Em serena pradaria
Prevendo
Luz plácida do dia
Amanhecendo...

sexta-feira, janeiro 28, 2005

A Vós

A vós, que por aqui em letras passais
Meus amigos caminhantes, agradeço
A ternura, o carinho demais,
Palavras doces que não mereço

A vós, que deslizais em silêncio por cá
E me ledes, grata estou, igualmente,
Pelo tempo precioso dado, e para já,
Um terno abraço vos mando somente

A todos vós, sem excepção, com humildade
No coração, dorido, em sentido sofrimento,
Percursos da vida, desafios de estabilidade,
Envio Luz, Paz, Amor e um sorriso, no momento

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Em Ramos Nus

O canto que canto soando baixinho
Letra a letra em crescendo vindo
Decompondo a palavra
Palavra que me foi dada
Num renascer outonal

Canto tímido, dolente, espraiando-se no ar
Somente

Nota em nota unidas, alteradas
Puras sonoridades divagantes
Acalmias de tempo em águas passadas
Partituras inacabadas

Pequena ave azul em voo de rosa musical
Lentamente

Me estendo
E me vendo
Me entendo
Me alcanço
Em descanso
Me mirando
Achando
A letra, a palavra, a nota, o canto

Em ramos nus


sábado, janeiro 22, 2005

Lamento

Gostaria de gritar aos ventos a raiva que sinto
Gostaria de poder continuar livremente sorrindo
Como outrora
Que foram tempos de leveza alucinante
Infantilidade d’ instante
Pureza que não há agora

Gostaria que os céus tempestuosos bradassem
Gostaria que a silenciosa dor bem alto clamassem
Toda a verdade
Passada, acreditando cega nas gentes
Em mentes límpidas, envolventes
De falsidade

Gostaria que mares revoltosos limpassem a montanha
Gostaria que a palavra fácil perdesse a força tamanha
Que tem
Atitudes, desamor, falsa amizade, lamento
Despudor d’incauto momento
De que duvido do Bem

Mesmo assim, gostando tanto
Eu me olho sem espanto
E vejo nos caminhos trilhados
Os escombros, lodos, afastados.
Admirando o infinito
Hora que eu bendigo
Em serenidade me torno
Num sorriso me transformo

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Ó Gente!

Fito, me olho ao espelho
Miro, remiro, que vejo
Meditações em mim

Alguns seguindo caminhos
Alterados, nus, sozinhos
Em ambições sem fim

Ouvir-te a voz não desminto
Sonhares que por ti sinto
Ternuras perdidas nos ares

Mas olho o tempo que passa
Inclemente, na desgraça
Entre sóis, marés, luares

O espelho aclareando me diz
E o futuro me prediz
Olhando p'ra alem dos vales

Vês a Luz branca distante
Essa Luz que é constante
Que humaniza corações?

E clamo aos céus sentida
Silêncio estou esquecida
Enlaçada em ilusões

De outros que se perderam
Que quero crer esqueceram
Toda a beleza da vida

Iniciada. Cientes
Da fé de que são crentes
Olhares que a vida olvida

Oro aos deuses infinitos
Que tragam momentos bonitos
De Sóis e claridade
Riqueza d’alma, verdade
Que não se perca sozinho
Neste Mundo triste, mesquinho
D’informação que passa
E que as mentes atrasa
Em calculismos d’estares
Amorfos sentires d’amares

Meu sorriso serenamente
Passa por ti. Tenta. Sente.
Aclareia a tua mente.
Ó Gente!...

domingo, janeiro 16, 2005

Apelo para a Humanidade

Tivemos a tristeza de ver recentemente o Tsunami, causando uma grande destruição e vitimando um número inconcebível de pessoas em sete países da Ásia. Sabemos que esse tipo de facto é um acontecimento natural, porém havemos de analisar e acrescentar que a intensidade desse tsunami mostra-nos claramente que o desequilíbrio ambiental é, incontestavelmente, potencializador de forças naturais deste porte. Cabe a nós, definitivamente, uma reflexão séria sobre o assunto e buscarmos maneiras mais correctas de lidarmos com o espaço que vivemos, para que não sejamos nós os responsáveis por catástrofes desta natureza.

Nós blogueiros, propomos desde já, unirmo-nos em um alerta para a humanidade, e implantarmos cada um de nós, a nosso modo e em nosso ambiente, medidas práticas de mudanças!

É tempo de se falar abertamente. É tempo de se abordarem as questões em profundidade e não de forma restritiva. É tempo enfim, de se falar a sério sobre a questão ambiental e ecológica. Sobre a humanidade!

E com razão. É que cada vez mais se toma consciência de que o combate pela preservação, não tem fronteiras, não é regionalizável e de que a resposta ou é global ou não será resposta.

As chuvas ácidas, o efeito de estufa, a poluição dos rios e dos mares, a destruição das florestas, não têm azimute nem pátria, nem região. Ou se combatem a nível global ou ninguém se exime dos seus efeitos.

As pessoas ainda respiram. Mas por quanto tempo?

Os desertos ainda deixam que reverdejem alguns espaços estuantes de vida. Mas vão avançando sempre.

Ainda há manchas florestais não decepadas nem ardidas. Mas é cada vez mais grave o deficit florestal.

Ainda há saldos de crude por extrair, de urânio e cobre por desenterrar, de carvão e ferro para alimentar as grandes metalurgias do mundo. Mas à custa de sucessivas reduções de reservas naturais não renováveis.

Na sua singeleza, o caso é este:

Até agora temos assistido a um modelo de desenvolvimento que resolve as suas crises crescendo cada vez mais. Só que quanto mais se consome, mais apelo se faz à delapidação de recursos naturais finitos e não renováveis, o que vale por dizer que não é essa uma solução durável, mas ela mesma finita em si e no tempo que dura. Por outras palavras: é ela mesmo uma solução a prazo.

Significa isto que, ou arrepiamos caminho, ou a vida sobre a terra está condenada a durar apenas o que durar o consumo dos recursos naturais de que depende.

Não nos iludamos. A ciência não contém todas as respostas. Antes é portadora das mais dramáticas apreensões.

O que há de novo e preocupante nos dias de hoje, é um modelo de desenvolvimento meramente crescimentista – pior do que isso, cegamente crescimentista – que gasta o capital finito de preciosos recursos naturais não renováveis, que de relativamente escassos tendem a sê-lo absolutamente. E se podemos continuar a viver sem urânio, sem ferro, sem carvão e sem petróleo, não subsistiremos sem ar e sem água, para não ir além dos exemplos mais frisantes.

Daí a necessidade absoluta de uma resposta global. Tão só esta necessidade de globalização das respostas, dá-nos a real dimensão do problema e a medida das dificuldades das soluções. Lêem-se o Tratado de Roma, O Acto Único Europeu e mais recentemente as conclusões da Conferência de Quioto, do Rio de Janeiro e Joanesburgo, onde ficou bem patente a relutância dos países mais industrializados, particularmente dos Estados Unidos, em aceitar a redução do nível de emissões. Regista-se a falta de empenhamento ecológico e ambiental das comunidades internacionais e dos respectivos governos, que persistem nas teses neoliberais onde uma economia cega desumanizada e sem rosto acabará por nos conduzir para um beco sem saída.

Por outro lado todos temos sido incapazes de uma visão mais ampla e intemporal. Se houver ar puro até ao fim dos nossos dias, quem vier depois que se cuide!... e continuamos alegremente a esbanjar a água do cantil.

Será que o empresário que projectou a fábrica está psicológica ou culturalmente preparado para aceitar sem sofismas nem reservas as conclusões de uma avaliação séria do respectivo impacto ambiental?
Mesmo sem sacrificar os padrões de crescimento perverso a que temos ligados os nossos hábitos, há medidas a tomar que não se tomam, como por exemplo:


Levar até ao limite do seu relativo potencial o uso da energia solar e da energia eólica.

Levar até ao limite a preferência da energia hidráulica sobre a energia térmica.

Regressar à preferência dos adubos orgânicos sobre os adubos químicos.

Corrigir o excessivo uso dos pesticidas.

Travar enquanto é tempo a fúria do descartável, da embalagem de plástico, dos artigos de intencional duração.

Regressar ao domínio do transporte ferroviário sobre o rodoviário.

Repensar a dimensão irracional do transporte urbano em geral e do automóvel em particular.

Repensar, aliás, a loucura em que se está tornando o próprio fenómeno do urbanismo.

Reformular a concepção das cidades e das orlas costeiras

Dito de outro modo: a moda política tende a ser, um constante apelo às terapêuticas de crescimento pelo crescimento. È tarde demais para desconhecermos que, quando a produção cresce, as reservas naturais diminuem.

Há porém um fenómeno que nem sempre se associa ás preocupações da humanidade. Refiro-me à explosão demográfica.

Com mais ou menos rigor matemático, é sabido que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Assim, em menos de meio século, a população do globo cresceu duas vezes e meia !...
Nos últimos dez anos, crescemos mil milhões!... Sem grande esforço mental, compreendemos aonde nos levará esta situação.

Se é de um homem mais sensato e responsável que se precisa, um homem que olhe amorosamente para este belo planeta que recebeu em excelentes condições de conservação e está metodicamente destruindo; de um homem que jure a si mesmo em cadeia com os seus semelhantes, fazer o que for preciso para que o ar permaneça respirável, que a água seja instrumento de vida e dela portadora, e os equilíbrios naturais retomem o ciclo da auto sustentação, empenhemo-nos desde já nessa tarefa, com persistência e determinação.


Se é a continuação da vida sobre a terra que está em causa, e em segunda linha a qualidade de vida, para quê perder mais tempo?...

Por isso apelamos a todos quantos se queiram associar a este movimento pela preservação Natureza, pela Paz e pelo desenvolvimento harmonioso da Humanidade, para subscreverem este Apelo.

Ao fazê-lo estamos a afirmar a nossa cidadania, enquanto pessoas livres, que olham com preocupação o futuro da Humanidade, o futuro dos nossos filhos!







Querida, como te adoro!

O teu porte é elegante
Esguio, olhar distante
Próprio dos sonhadores

O tempo teu inimigo
Não o é se estás comigo
Perdido em doces amores

Sussuro-te terna ao ouvido
Como te adoro, querido!
Cada vez que me abraças

Sorris e dizes baixinho
Meu terno amor, meu carinho
Encantos teus que não passam

Deslizando em meu corpo e mente
Em alvorecer ditoso, luzente
Momento eterno, sem fim

O fulgor brotando mansinho
Em sábias mãos, pele, no ninho
Enlevo de amante em mim

Palavras, letras, em poema
M’envias sem que a mão trema
Querida, como te adoro!

O tempo em tempo foi passando
Cada minuto, segundo, um encanto
De paixão, ardor, que devoro

De rubro escarlate vestindo
Sentes que vais diminuindo
Perdido no meu abraço

Não temos inconfidências
Meu Lápis, só as demências
Que serenamente enlaço.


sexta-feira, janeiro 14, 2005

Abrigo

Uma casa pequenita
De branco anda vestida
Tem olhos pretos
Imensos
Interioridades da vida
Vêde como é bonita

Caminhantes que lá chegam
Vindos de longe ou de perto
Um carinho encontram
Um abrigo
Um sorriso, um amigo
Um abraço mui terno

Casa modesta, singela
Interiores d’azuis pintados
Para a acalmia
Alegria
Dos caminhantes cansados
Perdidos no tempo que gela

De sonhos foi musicada
Em amor está colorida
Florida
Amena serenidade
De Paz, da verdade
Infinita, abraçada

Pára e entra, ó caminhante
Se tens sede, fome ou dor
Água e pão
Com ternura te darão
Afastando teu pendor
No entardecer, no Levante

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Por Ti Caminhante

Distribuo
Sem custo
Beijos
Meigos
Beijinhos
Carinhos
Ao caminhante que passa
Rogando
Implorando
Companhia
Gota de alegria
Em palavra transformada
Abro
Enlaço
Emoções
Corações
Sofridos
Sentidos
Esfomeados dum abraço
Me quedo
Com medo
Da quietude
(in)solicitude
Prevendo
Padecendo
Amarguras de ti, caminhante
Corro
Absorvo
Ilusões
Perdições
Cansadas
De vidas planas
Transformando
Me tornando
Sorrisos de serenidade

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Homem

Tu, louco, cego, acorda de vez!
Olha ao teu redor
O que vês?
A Natureza em sofrimento
Tudo aquilo que te deram
Te confiaram
De belo para cuidares
Destruído, alterado
Por tua ambição contaminado
Os filhos que geraste
Em lentas dores padecendo

Acorda, Homem, e vê!
Florestas destruídas
Dizimadas
Em clareiras de nadas
Como queres respirar?
Azuis mares poluídos
E os rios, revoltados
Onde o peixe não abunda
A terra donde nasceste
Seca, estéril, entristecida
Químicos que lhe puzeste
Já não floresce
Como outrora, lembras-te?

Vê, Homem, o sol a rodopiar
A lua mudando de lugar
Olha a desertificação da Terra
Que causaste
Insano tu provocaste
Ambicionando o poder
Fomentando rixas e guerra
Em gentes a ti iguais
As experiências nucleares
Fragmentando os ares
Que inalas mais e mais

Indignados estão os ventos
Em tempestades
Calamidades
Transformados
Pela tua ambição, inclemência
Triste demência
Homem, grita alto e diz
Do fundo do coração
Chega! Basta! Não!

sexta-feira, janeiro 07, 2005

O Trema

A conversa corria animada
Em temas vários fluindo
Palavras indo e vindo
Amizade iniciada

Voavam letras, sorrisos
Trocando conhecimentos
Leves, inocentes momentos
Movendo teclas e risos

Estrangeirismos deslizando
Certa altura, qual espanto
E para meu desencanto
O trema desaparecera voando

Louca, insana, investiguei
As teclas, os botões, as traves
Será que fora p’rós Algarves
P’rás férias que não lhe dei?

Encontrada a solução
Em breve foi esquecido
Por um “E” substituído.
Me dizem de lá, então:

“À janela batem, espera!”
“Com o frio Inverno de fora,
Corre, não descuides a demora
Abre a porta à Primavera.”

Quase desligando, saindo
Escrevem rápido, na hora
O teu trema chegou agora!
Um sonoro riso emitindo.


(À Ana, pela simpatia irradiada)

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Em Tempo...

Procuro a beleza, a candura
Palavras doces, a ternura
Entre os brancos espaços

Ávida percorro silêncios
Interiores profundos, imensos
Vogando em gotas d’água

Desbravo as letras do tempo
Correndo, pausando, a contento
De sóis brilhantes, luzentes

Desenho imaginações
Teço mantos de canções
Nuas nos ventos passados

Exploro árvores invernosas
De folhas caducas, chorosas
Buscando a luz dos abraços

Sigo trilhos e caminhos
Feitos de escolhos e ninhos
Encobrindo minha mágoa

Diviso rectas, espirais
Geometrias planas, iguais
Sentimentos condizentes

Olho para além do espelho
Que encontro, se só vejo
Vendas em olhos cerrados

Queria espalhar nos ares
O imenso amor dos mares
Que trago dentro de mim

Queria emitir serenidade
Paz doce, tranquilidade
No infinito sem fim

terça-feira, janeiro 04, 2005

Estádios

Desaparecida
Sumida
Entre os cantares de Inverno
Olhando
E não vendo
O desfolhar florido bem perto

Sem perturbações
Retomando a alegria
Apanágio do seu dia
Indagando
Procurando
Alcançáveis estádios azuis nos ares

Serenamente
Sem espanto
Turvas águas e orvalhares se indo
Partindo...
Ficando
Ave nua em brancas penugens
Timidamente treinando
Esvoaçares

E sorrindo...

domingo, janeiro 02, 2005

Cristal

Sensibilidade é uma rosa de cristal
Pura, fina, transparente
Seu canto é a semente
Que espalha pelos prados
Amanheceres orvalhados
Conscientes isoladores do Mal

Flor de leves mantos vestida
Transparências da Vida
Ilusória, frágil, protecção
Sonoridade transportada na mão
Do Homem que se faz forte
Abandonado à sua sorte

À brisa, ao Sol, estremecendo
Iniciadas fissuras contendo
Em pétalas esmaecida
Luz que trazes a Vida
A Paz, a tranquilidade
Caminhos serenos, a Verdade

O sorriso vive em mim
Em mares azuis sem fim…