quarta-feira, novembro 29, 2006

Em sépia tela...


























Espalham-se como planos
Em lisos, programados dias
Sob indigentes funções de cansaços

Planam… e da Graça traçam
Dizeres que a escrita contempla
Em suaves voos pelo espaço

E fala-se de Amor intenso
Camuflado
Inchado no corpo imenso
Do poema que se expande
Na numerologia aberta
Indiscreta
Em desafios de um tempo
Inacabado

Do Amor se fende a Verdade
Inaceitável, crua
Quando no dorso do poema
Crescem árvores nuas
Em lava e neve cumeadas
E se verga
A menina que o trigo apanha
Indiferente ao rolo elaborado
Sobre o seu mundo de nada

E o sorriso desperta
Leve, tímido, pelo alerta
Da serena amizade
Olvidado num canto
Surdo, mudo
Em sépia tela


(pintura de Graça Morais)

In "Transparência de Ser"

quinta-feira, novembro 23, 2006

A travessia num sonho

























Talvez mais não sejam que ufanas velas
cruzando oceânicos navios
o esplendor de montanhas submersas
no ondular de algas e limos

Talvez voem, talvez cantem ou caminhem
junto aos peixes com dedos de linho
delineando desérticas areias e peregrinem
no olhar vago e silente do vazio

Talvez mais não sejam que um talvez
na morfologia de um tempo perdido
criados nos flocos de neve de uma vez
sem rumo, sem sorte, nem abrigo

Talvez existam… se breve os sinto


(pintura de Tanja Hoffmann)

Poema in "Transparência de Ser"

sábado, novembro 18, 2006

Cruzando a hora...

















Cruzando a febril hora
num pêndulo estagnado
liberto a nota breve
no repouso da memória
em “Mil Beijos”
com carinho enviados
na plenitude do aroma
onde voa a essência
dos sorrisos serenos
em ternos laços.

Até breve!
E desfrutem em beleza
as doces formas de Amar!

sexta-feira, novembro 10, 2006

Silhueta

























Pianíssima, amorteço
sob a planura da ausência
onde tantas vezes me sinto
e com ternura contemplo
os sons na pedra talhados
qual flor de sal em fios de linho

Escuto e de mim desapareço
no suave canto do rio
sob a ponte do Moldava
onde te senti pleno
ao meu lado
sorvendo do silêncio, a Beleza

Assim circundo da pedra os veios
diluídos nos serenos brilhos
pelo cinzel que estátuas talha
e que, de tão longe, sentidos permeio;
os coretos que música espalha;
o rumorejar de árvores entrelaçadas
suspendendo o casario
em outonais cores repousado

E danço… do voo, a silhueta,
na abstraída inocência
dos dedos, em fios de linho


(pintura de Manuela Justino)

Poema in "Transparência de Ser"

sábado, novembro 04, 2006

Deduções















Deduzem-se inconsistências em factos
sob a inexistência de pontos claros
e pela planície da noite se espalham
infusões de asas e... estrelas

Deduz-se…
e o tudo de nada vagueia por elas

Fora eu aquele papel branco desdobrado
outrora emitindo caravelas
por mares, em ondulantes verdes árvores,
e não uma terra de salas
compartimentadas
praticando ensinamentos
tão leves...

Sorriria, sim, sorriria…
da imperante crueza dos actos
desfraldados em decretos
que à velocidade da luz são jorrados
para um ontem… já presente

E de pés descalços correria
pela copa de cada árvore esmaecida
levando pão, o sustento da Dita,
e a mão afagaria, contente,
dos brilhos, o ressurgimento

Deduz-se…
na sombra
um vento bordado de estrelas


(pintura de Gracinda Candeias)

Poema in "Transparência de Ser"