quinta-feira, março 30, 2006

Mil águas...









Numa caixa empoeirada
Sob o telhado escondida
Memórias mil adiadas
Papeis, laços, cordéis
Telas de vento esmaecidas
Tintas em voos d’outrora
Que abro, devagarinho…

Ecoam restos na cidade adormecida
De noites longas e frívolas…
Nos olhos curiosos
Desfilam
As silhuetas delgadas
Que um tudo…
Nada viam

Deslizam mil águas sob as pontes
Em suaves murmurinhos…
E de quando em onde
De Bach entoam sonatas
Cadências rubras de linho
Deste Abril que se avizinha

Com ternura encerro a caixa
Que abrirei
Noutra altura
Noutro dia
Quando planar serena
Ao som do brilho da Lua


(Autor da imagem: desconhecido)

sábado, março 25, 2006

Quando a Terra Despertar...


















Serei a pedra, o sal, a água,
aquela palavra ausente
serena que o mal afasta
da calmaria das noites

A orvalhada, a neblina,
deslizando em ténues brilhos
no azul-negro da cidade

Lusco-fusco que se espalha
em traços curvas d’estrada
na solidão caminhante

Rio descendo a montanha
saltando escolhos veloz

O laço que se estende
no abraço, no instante,
da água que beija a foz

Serei a onda que grita,
no interior de nós,
a descoberta tardia

O amor, a liberdade, a paz,
cobrir-me-ão amanhã
quando a Terra despertar
para mais um dia
de intuições benditas
e o sorriso aclarar


(imagem recebida por mail sem indicação do autor)

Poema in "Transparência de Ser"

quarta-feira, março 22, 2006

Sem Título IV





Pintura de:
Tanja Hoffmann











Alguém corre pelo parque da cidade
Sob bátegas de chuva
Intermitentes

Uma voz se espalha nos telhados
Sonora, amplificada
Com sotaques diferentes
Invade intimidades
Dormentes
Desperta o silêncio de cada casa
Espaçada, muda
Nas deslizantes gotas do espaço

No lugar onde me encontro
Em acalmia profunda
Os dedos de uma criança
Tecem esboços leves, reflexos
Nos versos da esperança
Em danças inocentes
Amenas e puras

sábado, março 18, 2006

Cartas























Sentados, imóveis,
pendurados
na irreversibilidade do minuto

Rostos crispados
olhos estagnados
a concentração se impunha
nas mãos lentas
que em frente se moviam

Soletravam preces mudas
ao deus menor que a sina previa

Pela sala
sorridentes fantasmas
vagueavam murmúrios
em trajes de gala
com passos que veludo pisam

Lá fora
na noite escura e fria
Viena seguia outros traços
em iridescentes líricas

As cartas tinham sido lançadas…

A última palavra,
nas mãos lentas que afagavam,
ao croupier pertencia



(S. Mamede de Infesta – 17/Mar/2006)

Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, março 14, 2006

Mãos de Sombra


















Um abraço esperado
O brilho de um sorriso
Um olhar terno encantado
Uma palavra não dita
A mostra em matemática
Das paralelas da vida
Um sentar espaçado
Entre frases seguidas
Rasga-se um ventre
Em mãos caídas
Um apressar demonstrado
Um sol e a sua procura
D'um ar mais leve mais claro
Nas vozes que não se abrem
Tapadas em noite escura

Foi só um sonho, bem sei
Nas escassas horas dormidas
Um remexer de sentidos

Banhei-me em águas puras
Cristalinas
Vestida de branco saí
Para o Sol que m’ilumina

domingo, março 12, 2006

Momento














Sem dor angústia
Ou mágoa
Me fiz à estrada
Da vida
O vento sibilava espirais
No cabelo desalinhado
E se espantava
Furioso
Incontrolado
Pela calma que sentia

Aterrei em mansas águas
Onde planava o sorriso
Translúcido
Constante
Nesse branco que se via

Pela minha janela aberta
Espreita a constância
Em suaves brisas
Do caminho

Sou ave serena
Navio



(pintura de Dali)

quarta-feira, março 08, 2006

Cristais e Prata














Tilintam cristais em sinos de prata
Sussurros que a brisa afaga
Cada célula do caminho

Serenos são os brilhos que espalha
Voam mares em azuis cidades
No arco-íris constroem bases

Talvez dancem peixes em fogo-fátuo
Talvez espadas cruzem sentidos
Nada interessa quando é mútuo
O suave tilintar emitido
Vagueando no amor e verdade
Dos cristais em sinos de prata

quinta-feira, março 02, 2006

Sem Título III


















Te leio na esperança tardia
Deste amor e te enfeito
Dos brilhos da utopia
Serenos
Deslizantes em meu peito

Percorro aves navios
Carinhos que desconheço
E na saudade nos medos
Desfloram as flores dos dias
Omitidos
Se te leio

E quando a noite avança
Em cinza azul escarlate
É contigo que me deito
Voz silenciada que permeio
Dizeres que me cantava
Em morango e chocolate