terça-feira, junho 24, 2008

A Lenda













No início de um século remoto, em terras de Espanha,
o povo andava em sobressalto, apavorado.
Uns, atónitos, clamavam atando as mãos à cabeça
É coisa do diabo!”.
Outros, de joelhos no chão e olhos esbugalhados,
bradavam “É milagre!”, “O fim do mundo!”, “Oremos, irmãos!”.

Os senhores mais poderosos da época enviaram emissários
às origens da sabedoria com missivas secretas.

Ali se reuniram discretos e protegidos alquimistas, zelosos
e estudiosos pensadores, cogitando vasculhar o corpo da
loucura (assim lhe chamaram) a emergir em forma de
cotovelo da água.

Perante tal impossibilidade, os primeiros recolheram lodo,
raízes dadas à costa pela maré, pó de pedra da rosácea
da igreja da Madre del Mar, areia, algas, resquícios de sal, e
tudo misturaram com mezinhas, poções e cal.

Os eruditos debruçaram-se sobre volumosos livros, códices,
papiros e elaboradas equações matemáticas. Sem explicação
para o fenómeno, afirmaram “Aumentem o tributo ao povo!”,
Sacrifiquem-se cabritos!”, “Imolem-se os ímpios!”.

Todos os métodos usados de nada serviram.

Subitamente, para espanto de toda a gente, o mar aquietou.

Ainda hoje, naquele lugarejo isolado, conta-se aos mais
pequenos a lenda do tornado.


(minha participação no jogo das 12 palavras daqui )

sexta-feira, junho 13, 2008

Uma voz na pedra






























Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.

Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.

De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.

O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.

Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.

Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.


Poema de António Ramos Rosa

(imagem Getty Images)

quinta-feira, junho 05, 2008

Menina Marota

Em Setembro de 2005 assistimos ao nascimento do blogue Poesia Portuguesa cujo principal intuito sempre foi a divulgação de excelentes poetas nacionais deste mundo virtual, sendo, na sua maioria, desconhecidos.

A esta nobre e árdua tarefa de amor e dádiva empenhou-se a Otília Martel, conhecida pelo nick Menina Marota.

Pela projecção que a todos deste, bem hajas.

É chegado o momento de nos ofertares a tua sensibilidade traduzida em palavras impressas, esse teu "desnudar de alma" para o qual, estou certa, todos desejamos o maior sucesso.

Até ao próximo dia 15.