sexta-feira, julho 28, 2006
Na Sequência do Sonho
Hoje amanheci entre a incoerência do sonho e a realidade.
O eco dos meus passos passeiam sozinhos pela semi-desperta casa
onde janelas e portas abertas expandem letras em palavras
desunificadas.
Tacteio o telhado intacto pelas raízes e ninhos de longos cabelos
dos pássaros.
Talvez voe
Talvez paire
Talvez caminhe no deserto das areias que embalam
Ou me quede pelo silêncio ou pelo nada
Se de ninguém o eco dos passos são parte
No interregno do sonho (in)acabado
bordo em azul, ervas, folhas e braços
nas árvores que me passam, em dolência, cantares
ritmados
rimados
na suave sonoridade da harpa
no timbre certo que dedos alcançam
Por vezes amanhecemos no eco dos passos…
Reajo
E sob as vozes de Mendelssohn no piano sofisticada e
de Rachmaninov no violoncelo o equilíbrio da sonata,
me banho no lago das águas límpidas e claras
Apaziguada
desfloro sorrisos em pétalas de rosas brancas
e na sequência do sonho
danço
o eco dos passos
(pintura de Renée Zempel Chan)
domingo, julho 23, 2006
Vagueares
Para além do horizonte definido
repouso na luminosidade dos traços
Do nada, me torno parte de tudo,
um ponto mínimo,
passageiro olhar do meu canto,
na (in)visibilidade dos laços
Espalho sonoridades mudas,
alienígena das vozes em timbres marcados
por um diapasão de cordas, na batucada dos tempos
da infertilidade (in)consciente
De tantas recordo, na infinitude das horas,
sobre um espelho de águas mornas debruçadas,
no descompasso de rubras palavras
Aqui me torno, transformo e falo:
dos papeis a lápis gravados
incompletos
ante mãos que tudo colhem;
do útero da terra lavrada
onde trigo e joio medram na igualdade da palavra;
da cercadura densa na água límpida e clara;
dos murados sorrisos entre cidades;
e do suspiro…
Para além do horizonte definido
no azul vagueio serena
entre a luz dos pontos mínimos e traços
(imagem de autor desconhecido)
Poema in "Transparência de Ser"
sexta-feira, julho 14, 2006
E sobre a Água...
Quando amanhece
fecho os olhos serenos
e no vazio procuro o som do silêncio
que ansioso me aguarda
Mergulho nas águas tépidas e cristalinas do voo
e a voz que me canta
acontece
Quão breve instante!
Não adianta!
Fogem as letras espavoridas
e se escondem tímidas
num espaço
que para já não alcanço
nem agarro
Desperto muda
silenciada e crua
pelas vozes rodeantes que me falam
da atenção exigida
da futilidade do dia
e do espanto
Então parto
para outra estória
outra vida
em breve-longa pausa
E sobre a água teço passos
(fotografia de Scott Mutter)
Poema in "Transparência de Ser"
terça-feira, julho 11, 2006
Da Gaiola Que Tudo Mudou....
E tudo se aquietou de repente……..
Das flores com pés de vento nascem raízes
de palavras numa gaiola de barro cru,
aprisionadas.
No deserto (des)multiplicam-se as papoilas
rubras, fogosas do (in)certo derramando pequenas
gotas de chuva em verdes tonalidades.
Talvez agarre….
Talvez se prendam sob a aragem quente que
se faz como uma ventoinha girando em círculos
fixos… no concreto.
Da gaiola de sorrisos plastificados saem estátuas
em letras difusas, confusas, meias verdades… martelos
do pensamento para um séquito desatento.
Assim se (sobre)vive em pão minguado na prepotência
dos pássaros sábios.
E por entre os sussurros do silêncio
sob um braço metálico
tudo se aquietou...de repente…
(tela de Aloah)
quinta-feira, julho 06, 2006
Em Breve Espanto
Sempre que nesta pedra me sento
Na liquidez das águas mudas
Nasce um novo vento no espaço
De olhares abstractos
Instantes confusos
Na (in)visibilidade de letras claras
Que contemplo
Em breve espanto
Rodeante é a obliquidade dos fios
Que finas teias espalham
E pelos dedos pontiagudos
Esvoaçam insectos
À procura
Do sustento em folhas sépia
Como urze na areia do deserto
E aqui regresso
À acalmia das águas
Onde o azul é mais intenso
E pelos ciclos do caminho
Dançam os doces sorrisos
Nesta pedra onde me sento
(pintura de Modigliani)
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