sábado, julho 31, 2010
Docemente, alinho palavras
na entretecida canção de sal e água
Por vezes, ao seu redor
esvoaçam picos, formas de pássaros
coloridos alinhavos sob um fogo encantado
Olho-os na voz do silêncio desfolhado
Se por vezes sinto em acalmia a brasa
outras, estremeço pelo vazio
gritante que clama a inconsistência
a lenta perdição da mente
pelo deserto de inconstância desperto
que da chama nada entende
nem da verdade
Quisera ser aroma em flor de letras e
gota a gota elaborar a palavra em falta
quando cada verso de dor e treva
transforma em dúctil manto
essa voz de pranto e mágoa
Às vezes vibrante penso
silenciar o remoinho do espaço
e sorrindo docemente espalho
no fogo, o sal, a água
na eterna estrada em cascata
(fotografia de Luiz Edmundo Alves)
Poema em "Transparência de Ser"
domingo, julho 11, 2010
Chão de meninos
Abriu-se um rio de fogo
Naquele chão de meninos
Ancorados num navio
Previsto porto de abrigo
Erravam suas formas singelas
Em sonoridades coloridas
Tão rubras, tão amarelas
Palco das peças da vida
Vaguearam em descobertas
Cada canto, cada estigma
Efémeras lápides, esquinas
Sob a cruz de ufanas velas
Que o tempo deu guarida
E de sombras se vestia
Num leve sopro de vento
Em fel se abriram as águas.
Inomináveis descobertas,
Vis portentos resguardados,
Surgiram com turvas máscaras
E os meninos gritaram:
Mais não quero! Basta!
(pintura de Georges Seurat)
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