quinta-feira, janeiro 26, 2006

O Cisne





















(Pintura de Tanja Hoffmann)



Folha lisa em branco
me olha atónita e serena
na espera do poema
que me voa na pintura
o canto

Esforço intenso.
Medito...
Palavras que me deslizam
no éter em que vagueio
de azul feito
infinito

Na calmaria de um lago
onde a saudade borbulha
um cisne dança leves traços
matizes d’azul
profundos

O brilho das suas asas
abraça a Luz, a dádiva.
As gotas cinzentas do Mundo
desfaz em pó de palha
partículas nuas
em nada...


Poema in "Transparência de Ser"

domingo, janeiro 22, 2006

Máscaras dos tempos


(pintura de Marina Bahovec)






Tempos difíceis
Quem não os sente?
Impostos… fome…
Desemprego…
Com este ar leve
Demente
Politização demarcada
Consciente
Dos males que acarreta
Em cada passo
“ameno”
Falas camufladas
De ódio e vento
Oco nas palavras
Que pelos olhos
Ouvidos da gente
Atravessam janelas
Telhados e portas
Deste povo anestesiado
Num leito dormente
Ódio que se espalha
A maledicência
Palavras… só palavras…
Eloquência vã
Politizada d’interesse
Umbilical.
Natureza destruída
Lentamente
Olvidos d’Amor
Luz da Graça
Obtida em dádiva
Ninguém quer ver
Nem sente
Vapor em águas frágeis
Que o Homem omite
Esquece, consente
Após cada romaria
Das máscaras

domingo, janeiro 15, 2006

Os dedos do horizonte









Olha! Não vês, não sentes
O abraço forte, intenso
Nas palavras que estendo
Olha! No vácuo do silêncio
Há estrelas que caminham
Um tempo ausente
De nós, somente
Repara! Toda a sabedoria
Não tua, nem minha
Desliza entre flores
Distantes
Sob amorfas nostalgias
Dos sonhos que nos caminhos
Fazem seus passos
Frementes
Eu sei que me sentes
Quando contente me sabes
Como te soube no tempo
Das horas doces
Constantes
Olha! Tão crua
A distância
Não esfria
O berço da palavra
Intensa e nua
Que nos dedos permanece
E os sussurros da lua
Pelas noites escuras
E frias
O sol acontece
A beleza da estrada
Em brilhos aquece
O que teima e
A pedra dura
Trabalha
Não esmorece
Olha. Vê.
Tu que sabes
E sentes
Os dedos que se tocam
Na dança silente
Do amor eterno
Ausente
Sorri
E diz
Contigo canto
Nos passos do horizonte

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Sem Título II









Literatura
História
Técnica
Ciência
Perdura
Palavra ausente
Esgotada
De mente
Silencia
Voos
A chama
Nas águas
Cortadas
Sem brisa
Nem vento
Ou lamento
Árvore desnuda
Esperança
Emudecida
Raízes estende
Ao sol do tempo
Serenamente
Apre(e)ndendo
O mundo
As gentes
A estrada

terça-feira, janeiro 10, 2006

A Montanha










Uma montanha renasce
Cada dia à minha frente
Montanha é de palavras
Líquens em ténues verdes
Rochas em escalada
Árvores nuas ao vento

Pela noite se esbate
Nesse mar que se esconde
Transforma a terra a água
Na cor indistinta uniforme
Banhada no silêncio que sente
E no sorriso dormente
Seus sons doces espalha
Sem rumo sem norte

terça-feira, janeiro 03, 2006

Sem Título I











Procuro os sons dispersos
As cores, a melodia
A construção da dança
Leve, serena, constante
Que meus dedos abriam

Encontro ecos de nada
Mente vazia que plana
Em ruídos… só ruídos…

No vácuo espalho o grito
Da minha voz que caminha
Por um túnel do deserto
De ligas estranhas
E finas