terça-feira, agosto 22, 2006

Nómadas














Perante nós desliza o nomadismo dos dias
seguindo a caravana no deserto.

Bem ao longe, uma miragem assemelha-se perto
na sede de novas alegres.

As horas sobrepõem-se em pilhas de dunas
consoante bate o sol no templo das vidas
já não nossas mas da comunidade
que transporta, nas mãos do vento,
areias da moda.

Saúdam-se em palavras contabilizadas
pelo pião dos números equilibrados
no gume das lâminas.

É tudo tão efémero…
Tudo tão curto e vago…
quando o hoje voou despercebido
e o amanhã se prepara
em ritos de agora passados.

Assim nómadas nos tornamos
aquecendo o frio intenso
na exactidão acesa do vazio.

E continuamos
sublimando as palavras não ditas
enroscadas nas mantas macias
que abriremos
numa qualquer tarde de um qualquer dia
quando atingirmos, desmedidos,
o oásis perfumado dos sorrisos.


Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, agosto 08, 2006

Neste mar...















Me revejo
Entre miríades de letras luzentes
Que não tento decifrar
De tão pequena, tão mínima

Meu ensejo
Traduz da vida o sustento
Na profundeza do mar
Onde erecta moro
Como estátua de sal

Se rastos não deixo
Não lamento.
Pelas ondas do silêncio
O meu grito é de Paz

A serenidade me anima
Com ternura me ensina
Quando, na imobilidade das horas,
Correntes de vento passam formosas
Querendo o tudo apagar
E na neblina se esvaem
Pelo ondear da paisagem

Algas e peixes abrigo
E na concha, um sorriso
Pintura de sol e luar
Reflectido neste mar


(imagem de autor desconhecido)

sexta-feira, agosto 04, 2006

Como dois rios...


Imagem de Susan Rios

Como dois rios*, atravessam o espaço
Na difusão da Beleza em palavras
Nada pretendem, nem querem
A solidariedade espalham
Em plena Dádiva

São rios de águas límpidas e claras

Por eles me curvo
Em silêncio os saúdo
E enlaço
Sobre meu leito sereno
De rosas luzentes e pálidas
Onde amanheço
Num mar de prata

(*)Estúdio Raposa e Poesia Portuguesa

sexta-feira, julho 28, 2006

Na Sequência do Sonho















Hoje amanheci entre a incoerência do sonho e a realidade.
O eco dos meus passos passeiam sozinhos pela semi-desperta casa
onde janelas e portas abertas expandem letras em palavras
desunificadas.
Tacteio o telhado intacto pelas raízes e ninhos de longos cabelos
dos pássaros.

Talvez voe
Talvez paire
Talvez caminhe no deserto das areias que embalam
Ou me quede pelo silêncio ou pelo nada
Se de ninguém o eco dos passos são parte

No interregno do sonho (in)acabado
bordo em azul, ervas, folhas e braços
nas árvores que me passam, em dolência, cantares
ritmados
rimados
na suave sonoridade da harpa
no timbre certo que dedos alcançam

Por vezes amanhecemos no eco dos passos…

Reajo
E sob as vozes de Mendelssohn no piano sofisticada e
de Rachmaninov no violoncelo o equilíbrio da sonata,
me banho no lago das águas límpidas e claras

Apaziguada
desfloro sorrisos em pétalas de rosas brancas
e na sequência do sonho
danço
o eco dos passos


(pintura de Renée Zempel Chan)

domingo, julho 23, 2006

Vagueares






















Para além do horizonte definido
repouso na luminosidade dos traços

Do nada, me torno parte de tudo,
um ponto mínimo,
passageiro olhar do meu canto,
na (in)visibilidade dos laços

Espalho sonoridades mudas,
alienígena das vozes em timbres marcados
por um diapasão de cordas, na batucada dos tempos
da infertilidade (in)consciente

De tantas recordo, na infinitude das horas,
sobre um espelho de águas mornas debruçadas,
no descompasso de rubras palavras

Aqui me torno, transformo e falo:
dos papeis a lápis gravados
incompletos
ante mãos que tudo colhem;
do útero da terra lavrada
onde trigo e joio medram na igualdade da palavra;
da cercadura densa na água límpida e clara;
dos murados sorrisos entre cidades;
e do suspiro…

Para além do horizonte definido
no azul vagueio serena
entre a luz dos pontos mínimos e traços


(imagem de autor desconhecido)

Poema in "Transparência de Ser"

sexta-feira, julho 14, 2006

E sobre a Água...






















Quando amanhece
fecho os olhos serenos
e no vazio procuro o som do silêncio
que ansioso me aguarda

Mergulho nas águas tépidas e cristalinas do voo
e a voz que me canta
acontece

Quão breve instante!
Não adianta!
Fogem as letras espavoridas
e se escondem tímidas
num espaço
que para já não alcanço
nem agarro

Desperto muda
silenciada e crua
pelas vozes rodeantes que me falam
da atenção exigida
da futilidade do dia
e do espanto

Então parto
para outra estória
outra vida
em breve-longa pausa

E sobre a água teço passos


(fotografia de Scott Mutter)

Poema in "Transparência de Ser"

terça-feira, julho 11, 2006

Da Gaiola Que Tudo Mudou....



















E tudo se aquietou de repente……..

Das flores com pés de vento nascem raízes
de palavras numa gaiola de barro cru,
aprisionadas.
No deserto (des)multiplicam-se as papoilas
rubras, fogosas do (in)certo derramando pequenas
gotas de chuva em verdes tonalidades.
Talvez agarre….
Talvez se prendam sob a aragem quente que
se faz como uma ventoinha girando em círculos
fixos… no concreto.
Da gaiola de sorrisos plastificados saem estátuas
em letras difusas, confusas, meias verdades… martelos
do pensamento para um séquito desatento.
Assim se (sobre)vive em pão minguado na prepotência
dos pássaros sábios.

E por entre os sussurros do silêncio
sob um braço metálico
tudo se aquietou...de repente…


(tela de Aloah)

quinta-feira, julho 06, 2006

Em Breve Espanto















Sempre que nesta pedra me sento
Na liquidez das águas mudas
Nasce um novo vento no espaço
De olhares abstractos
Instantes confusos
Na (in)visibilidade de letras claras
Que contemplo
Em breve espanto

Rodeante é a obliquidade dos fios
Que finas teias espalham
E pelos dedos pontiagudos
Esvoaçam insectos
À procura
Do sustento em folhas sépia
Como urze na areia do deserto

E aqui regresso
À acalmia das águas
Onde o azul é mais intenso
E pelos ciclos do caminho
Dançam os doces sorrisos
Nesta pedra onde me sento


(pintura de Modigliani)

quarta-feira, junho 28, 2006

No ilimite do sonho
















Acordo no ilimite do sonho
onde o tempo embebe as palavras
parcas, cansadas das margens

Acordo na insónia inusitada
por onde deslizam templos e fadas
e leves passos em doces cantares

De branco me visto
no sono da noite esparsa
que avisto em formas de concha e algas

De mim um terno sorriso embalo
na intemporalidade dos laços
que em contas o cristal desfiam
pelos sulcos breves da estrada

E no ilimite do sonho
sereno palavras



Poema in "Transparência de Ser"

sexta-feira, junho 23, 2006

Para além do limite do mar







imagem de Steph



Para além do limite do mar
Existe um canto nobre sereno
De vozes quando juntas se espalham
Em emanações abrangentes

Para além do limite do mar
Desabrocham das flores perfumes
Aromas que tudo alcançam
Em gotículas pelo mundo

Nesse nobre e sereno canto
A melodia em uníssono emitida
No terno abraço do sonho
Todas as cores enlaça
Desvanecendo o pesadelo
Que deste lado habita
Sob os muros d’água silente


Aqui, neste chão onde me sento
Entre raízes brancas e pretas
Sempre renasce a terra em silêncio
Quando, na turbulência do vento
As árvores seus braços pendem,
Se faça tarde e o sono aconteça
Pelas paragens do tempo

domingo, junho 18, 2006

Na Consistência dos Laços













Naquela tarde que Gaia vestia
Se abriram em palavras
Sorrisos francos, empatia
Novos laços criados
Reforço dos já antigos

Se letras o sentir espelham
A alma os olhos emitem…
Deslizando a hora pela sala
Como um tempo omitido
De doce saudade
Que Gaia vestia

Naquela tarde…



O meu sincero agradecimento ao Orlando, aos Amigos
antigos, aos novos lá presentes que tansformaram os
doces sorrisos em laços, pontes e traços, serenos e
profundamente sentidos.

quinta-feira, junho 15, 2006

Forma Circundante



Essa forma circundante que a palavra espreita
É vento, é chuva deslizando no parapeito
Das janelas em brisas cantantes

Essa forma circundante que olha, revê a estrada
É um esboço, um desenho em duas cores,
Uma tela sépia inacabada

Essa forma circundante que em beleza a mesclas
É um traço esvoaçante em asas doces e leves,
Um ciclo em véus de água

Sendo melodia, pó de estrelas, um vozear terno,
Ou dourada areia dançando nesse deserto,
Quedará sempre presente, constante,

Essa forma circundante

sábado, junho 10, 2006

s.t. - V

Leve….
Leve….
De uma doçura extrema
Da luz se fez o rasgo e a palavra
No epicentro da chama que te arde
Como sílabas espaçadas na roda dos ventos

Em desatino
Percorrem rios de lama dormente
Resquícios de lava solidificada
Na era dos tempos

Onde
A letra branca desmembrada
Em pontículos se abre e contempla
Essa luz que a serenidade aumenta

domingo, junho 04, 2006

O Condor














À noite voam palavras
Nas asas do condor silente
Como ventos
De amor e dor
Tão turbulentos
Que ninguém entende

Só tu que o silêncio habitas
E que nele rodopias
Descobres as pontes os laços
O caminho feito traços
Que a Verdade incauta desfia

No renascer de cada manhã
O condor nas suas asas
Sorve serenas palavras
Na brisa amena
De Luz e Paz

À noite voam palavras…

segunda-feira, maio 29, 2006

..............















Num contexto
Leve….ligeiro…
Desliza a letra
Musicalidades

Estendo os braços
Estico a palavra
Entre cordas e traços
Que espremo

Da uva o mosto
Retiro
Na água-ardente
Da mensagem

Mergulho serena
Nas barras
De código branco
Da minha água

sábado, maio 27, 2006

Nestas mãos
















No seio destas mãos que vês
Se abrem cânticos de luz
Nas singelas pequenas asas
Da borboleta delicada
Que ao silêncio conduz.

Serenamente
Enlaça o canto a Graça
No viajante solitário
Que de braços pendentes
Fatigado
Passa
E nestas mãos
Se move e
Abraça


(imagem de Ian Chang)

terça-feira, maio 23, 2006

Silêncio










Coroai-me de rosas
Coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

(Ode de Ricardo Reis)



A ti, Fernando Bizarro
que tão cedo nos deixaste
o meu silêncio...
de Amizade imensa
nos laços de Fraternidade
criados.
Te ofereço rosas
de lágrimas.
Até Sempre

A Todos os que este grande Amigo desinteressadamente
juntou, o meu grande abraço solidário.

domingo, maio 21, 2006

Asas Lentas












Te vejo me vês entre insónias e afins
Te quedas na noite desperta
Me deito na dor de mim

Me prometo te prometes esquecer
Me encubro na descoberta
Te cobres desse viver

Teus passos meus passos são leves
Nessa areia que pisamos do deserto
Em profundas marcas... breves

Me remetes te remeto ao silêncio
Das letras móveis... paradas
Que contemplo e contemplas
No deslizar suave das águas
Encobertas pelo Tempo
Que o Tudo de Nada
Enlaça

Lentos são os movimentos
Das asas….


(pintura de Cruzeiro Seixas)

quarta-feira, maio 17, 2006

Dizem...


















Dizem
Que este coração é um velho pássaro
Esgotado no desdobrar a palavra do Ocaso

Dizem
Da sua procura incessante
Do indefinido limite entre céu e mar

Dizem
Do seu caminho aspergindo flores
Que a ternura abraça
E dos sorrisos que em favos de mel
Aninham brilhos claros


Mas quando
A aurora desponta e em seus braços o enlaça
Enche-se de sinos, de cantos
E renasce
Na acalmia da voz que lhe fala

segunda-feira, maio 15, 2006

Flores na neblina













Nas pérolas de prata que a lua espalha
Vagueio pelo infinito das cores
Das flores inclinadas descem orvalhos
Em cerejas transformados
Entre a neblina das dores
Que assisto e não alcanço
Por mais que me soe o canto
Neste coração de antanho

Uma menina dança em verdes prados
Que o sol aquece e ilumina
E entre as letras miudinhas
Paira o silêncio
Dos sorrisos doces
E ternos laços