sábado, março 18, 2006

Cartas























Sentados, imóveis,
pendurados
na irreversibilidade do minuto

Rostos crispados
olhos estagnados
a concentração se impunha
nas mãos lentas
que em frente se moviam

Soletravam preces mudas
ao deus menor que a sina previa

Pela sala
sorridentes fantasmas
vagueavam murmúrios
em trajes de gala
com passos que veludo pisam

Lá fora
na noite escura e fria
Viena seguia outros traços
em iridescentes líricas

As cartas tinham sido lançadas…

A última palavra,
nas mãos lentas que afagavam,
ao croupier pertencia



(S. Mamede de Infesta – 17/Mar/2006)

Poema in "Transparência de Ser"

7 comentários:

António disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Jorge Moreira disse...

Que bela Carta em forma de poema!
Beijinhos e boa semana

Chave da Poesia disse...

Olá Amita !
Não sei se te vi em S. Mamede, mas só agora contactei com o teu blog e devo confessar-te que não me seria fácil escolher qual dos poemas mais me enterneceu, no plano estético como no da sensibilidade.
Vou voltar mais vezes a este Éden
Fernando Peixoto

Micaeerton disse...

Outro Poema muito belo.
Por isso estou sempre regressando ao "Branco e Preto".

Memória transparente disse...

Carta a querer ser um poema.
Bonito poema.

Beijinhos.

Menina Marota disse...

Tive o prazer de te ouvir ler este Poema, na Noite de Poesia de S. Mamede de Infesta. Grata por ele.

Um abraço e boa semana ;)

António disse...

Os teus poemas tem um forte lirismo que deles imana como um perfume.
Este "Cartas" está nessa linha, e descreve-nos (segundo a minha leitura) um ambiente tenso e snob duma sala de jogo, algures em Viena, à noite.
A interpretação, como habitualmente, não ressalta de imediato, antes requer algumas leituras que, graças à poesia intrinseca que encerra, se fazem com todo o agrado.

Obrigado pelo teu comentário ao post das Balanças.

Beijinhos