quarta-feira, março 27, 2019

Pela calçada do tempo


Caminhava o arrasto da sombra
sob a linha ténue da vida.
Curta a senda, longos os passos...
pela rua das flores que, lentamente, subia.

Da calçada, apenas o empedrado lhe sussurrava
uma canção antiga, que trauteava baixinho,
embalando a caixa de chocolate
nos seus braços trémulos e finos.

Extenuado, febril pelo sol do meio-dia
aninhou-se no degrau da soleira de uma casa
desfiando memórias encandecidas:
a licença obtida para ver a família;
a turbulenta viagem a bordo do Santa Maria;
aqueles braços pequeninos que para ele corriam.

Adormeceu a existência do tempo
num envolvente sorriso.

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