(Badeado num caso real)
A rotina diária já fazia parte da sua vida há longos anos.
Seu passado, ninguém conhecia.
Veio de não sei onde, percorria a cidade a pé, fizesse chuva ou sol, em dias de tempestade ou estiais.
Seu ligeiro coxear, de olhar bondoso mas triste, chamava a atenção das gentes que com ele se cruzavam.
Meias e sapatos velhos, semi-desfeitos pelo calcorrear de ruas e vielas, roupas puídas, descoloradas pelo tempo, remendadas, de velho e deformado chapéu na cabeça, lá ia o pobre homem, coxeando, andar certo e vagaroso pelo peso da idade.
No meio da sua pobreza, um brio se notava na sua gasta e escassa roupa, sempre limpa.
Irradiando simpatia, educação e bondade, tinha seus lugares certos, durante anos a fio, onde o encontrávamos: nas soleiras das portas comendo uma malguita de sopa, um pão, uma peça de fruta tocada, que as almas caridosas lhe davam.
Humildemente dizia já ter tido posses, ter vivido bem, mas os azares da vida o tinham levado àquela situação.
Quando lhe perguntavam se não tinha filhos ou algum familiar que o socorresse, respondia de feição triste: Ninguém! Já todos se foram!...
Metia dó!
As donas de casa, onde mendigava, condoíam-se da pobre criatura.
Até que um dia, estando ele a saborear uma sopita caridosa num canto duma escada, chega uma peixeira, de cabaz à cabeça, dá-lhe uma fugaz mirada e diz à dona da casa:
- Não sei quanto dinheiro a senhora tem!, mas aquele homem, ali sentado, tem muito mais que a senhora!
quinta-feira, novembro 04, 2004
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2 comentários:
Rectifico: Baseado...
E existem mesmo casos assim. O que leva as pessoas a manter esse modo de vida custa-me a entender. Estranha situação. beijinhos
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